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Justiça traz à tona reinado corrupto de Juan Carlos de Borbón, ex-rei emérito da Espanha

Entre as fraudes cometidas estariam o pagamento de uma suposta comissão ilegal de mais de quatro milhões de dólares
Armando G. Tejeda
Diálogos do Sul Global
Madri

Tradução:

Na complexa rede tecida pelo rei emérito da Espanha, Juan Carlos de Borbón, para presumidamente ocultar o pagamento de comissões ilegais e diversos delitos de corrupção, há dois nomes que se repetem de forma reiterada na investigação; o empresário mexicano Allen Sanginés-Krause e a Fundação Zagatka. 

Nesta triangulação estaria, além de outras presumidas fraudes ao fisco espanhol, o pagamento de uma suposta comissão ilegal de mais e quatro milhões e seiscentos mil dólares que teria recebido o ex-monarca em troca de sua intermediação para a construção de um hotel de luxo na Playa del Carmen, México, que finalmente foi realizada pela multinacional espanhola OHL. 

A Promotoria Anti Corrupção espanhola vai desenredando pouco a pouco a confusa madeixa de empresas fantasmas, testas de ferro e triangulações financeiras em diversos paraísos fiscais para mover dezenas, inclusive centenas de milhões de euros que seria, por sua vez, a fortuna oculta do rei emérito espanhol, Juan Carlos de Borbón, o qual durante seu reinado foi venerado como um monarca exemplar e que não podia ser investigado pela justiça  pela “inviolabilidade” outorgada pela Constituição, e que tampouco foi questionado pelos meios de comunicação, que só após a sua abdicação, em junho de 2014, começaram a conhecer o que até então era um segredo a meia voz: suas alianças secretas e ilegais com empresários para conseguir contratos e, é claro, seus numerosos e variados escândalos sentimentais, até o ponto de que uma de suas últimas amantes, a princesa alemã Corinna Larsen, é uma das que revelou parte dos segredos mais escabrosos do ex-monarca. 

Entre as fraudes cometidas estariam o pagamento de uma suposta comissão ilegal de mais de quatro milhões de dólares

Reprodução: WinkieMedia
Juan Carlos de Borbón foi Rei emérito da Espanha

À investigação do suposto delito de evasão fiscal pela utilização de cartões falsos, por um montante de 120 mil euros, agora a justiça espanhola também está seguindo a pista do pagamento de uma comissão ilegal na construção de um hotel-resort de luxo na Playa del Carmen em 2003.

Segundo revelou o portal informativo El Confidencial, a Fundação Zagatka, uma entidade dirigida por um dos primos do rei emérito, Álvaro de Orleans-Borbón, “recebeu em 9 de junho de 2009 em um conta do banco Credit Suisse de Genebra um cheque de 4.689.930 dólares (uns 3,3 milhões de euros pelo câmbio da época) por uma suposta assessoria no desenvolvimento urbanístico de um resort que também forma parte atualmente da carteira de ativos de Sanginés-Krause”. 

Em sua declaração ante a justiça, Orleans-Borbón justificou o ingresso no Credit Suisse assegurando que procede da venda e uns terrenos na Playa del Carmen, da sociedade Huaribe SA, uma filial do Grupo OHL.

Na investigação da promotoria espanhola se tem a hipótese de que o empresário mexicano “pagou dezenas de faturas de Juan Carlos I e pessoas de seu círculo mais próximo correspondentes a viagens, estadias em hotéis, tratamentos médicos, aulas, restaurantes e outros gastos de caráter ordinário. Entre os pagamentos investigados, figura uma viagem à Irlanda do antigo chefe de Estado junto à sua companheira Marta Gayá no verão de 2017 para comparecer, precisamente, à festa de 60º aniversário de Sanginés-Krause”. 

Além disso está documentado que os terrenos na Playa del Carmen foram adquiridos em 1998 por Huarte antes desta construtora ser absorvida pela OHL e que por volta de 2005 começaram as gestões para urbanizar o solo de Huaribe, situado na costa do Caribe do estado de Quintana Roo, em plena Riviera Maya. Em 2009, o ano em que foi paga a suposta comissão de 4,6 milhões, encerrou-se finalmente o desenvolvimento do hotel de luxo que foi chamado de Mayakobá e passou a engrossar os ativos da OHL. 

“A OHL se desfez do resort em 2016. A operação foi fechada em 470 milhões de euros. O comprador não foi outro que Sanginés-Krause, o mesmo empresário que nesses mesmos anos estava pagando presumidamente dezenas de faturas de Juan Carlos I e Marta Gayá. O caso põe sob suspeita outras aquisições do industrial mexicano na Espanha. A sombra do rei emérito gravita sobre esses negócios e conecto já as diferentes frentes judiciais abertas na Suiça e o no Tribunal Supremo em torno à sua figura”, diz o portal. 


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Armando G. Tejeda Mestre em Jornalismo pela Jornalismo na Universidade Autónoma de Madrid, foi colaborador do jornal El País, na seção Economia e Sociedade. Atualmente é correspondente do La Jornada na Espanha e membro do conselho editorial da revista Babab.

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