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Kremlin descarta possibilidade de "convocação geral" de russos para guerra na Ucrânia

Líder do partido comunista, segunda maior bancada na Duma, Gennadi Ziuganov, pediu uma “mobilização geral” para poder ganhar “esta guerra”
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

O monótono reporte cotidiano de êxitos militares que o porta-voz do Ministério de Defesa russo, o general Igor Konashenkov, fez na última terça-feira (13), não convenceu nem aos seguidores mais leais do Kremlin – como por exemplo são os deputados da Duma, subordinada completamente ao Executivo. Foi ali que o líder do partido comunista, Gennadi Ziuganov, segunda bancada formalmente de oposição tolerada, pediu uma “mobilização geral” para poder ganhar – afirmou sem temer as consequências por pronunciar a palavra proibida – “esta guerra” que, em sua opinião, “não é nenhuma operação militar especial”.

O porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, não tardou em rechaçar a petição de Ziuganov ao sublinhar que “não haverá um chamado a filas” de todos os russos entre 18 e 60 anos de idade, que é algo que preocupa muito nesta sociedade – à qual as autoridades fizeram crer que o que ocorre do outro lado da fronteira é “uma operação militar especial” para “desmilitarizar” e “desnazificar” a Ucrânia – e que, se for levada a cabo, poderia derivar em uma imprevisível explosão de protestos contra o presidente Vladimir Putin.

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Ziuganov perguntou a seus companheiros legisladores: “Em que se diferencia uma operação militar especial de uma guerra? Em que é possível deter a operação militar em qualquer momento, diferentemente de uma guerra, que não podes detê-la quando queira e termina em vitória ou em derrota”. 

E agregou sem medir as palavras: “há uma guerra e não temos direito de perdê-la. Necessitamos uma mobilização geral no país, necessitamos leis completamente diferentes”. 

Com permanente envio de armas pela Otan, destino da Ucrânia é virar novo Afeganistão

Peskov disse à imprensa que a fala de Ziuganov é uma mostra de “pluralismo” na Rússia, ao mesmo tempo que as agências noticiosas do Estado informaram – talvez para escarmento de todos os inconformados – que a polícia deteve um cidadão que, ao votar nas eleições municipais do domingo passado, escreveu em sua cédula: Não à guerra!

O inamovível dirigente comunista há 29 anos se somou às vozes nacionalistas e belicistas que reagiram com indignação quando no último dia 10 o ministério da Defesa anunciou um “reagrupamento ordenado” das tropas que tinha na região ucraniana de Járkov, recuo que não duvidaram em qualificar de “desastre imperdoável”, que acabou com a chamada “frente de Izium” no estratégico flanco norte.

Diante das imagens que circulam em redes sociais de soldados feitos prisioneiros ou mortos, assim como de numerosos tanques, canhões, unidades de mísseis, depósito de projéteis destruídos ou abandonados intactos no que tem todos os visos de caótica fuga para evitar que o exército ucraniano fechasse o cerco, Vladimir Soloviov, o mais belicista dos apresentadores de programas de debates, na realidade monólogos contra o “regime nazista” da Ucrânia, chegou a dizer que “vários generais” russos, por ineptos, merecem “ser fuzilados”.

Líder do partido comunista, segunda maior bancada na Duma, Gennadi Ziuganov, pediu uma “mobilização geral” para poder ganhar “esta guerra”

Ministério da Defesa russo
São cada vez menos os que acreditam na explicação castrense do “recuo para concentrar forças e libertar o Donbass"

Propaganda oficial

Na televisão pública russa, principal vitrine da propaganda oficial, exigiu-se o cessamento imediato dos responsáveis militares e dos assessores políticos que coincidem em assinalar os habituais participantes, “enganaram o Presidente Vladimir Putin” fazendo com que acreditasse que a campanha na Ucrânia seria um passeio e acabaria em dois ou três dias com a queda de Kiev como se suponha, em fins de fevereiro anterior. 

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Ao fracassar então o plano de “guerra relâmpago”, se tentou vender que o Kremlin ordenou ao seu exército não tentar o assalto a Kiev como “gesto de boa vontade” e agora são cada vez menos os que acreditam na explicação castrense do “recuo para concentrar forças e libertar o Donbass”.

Pressões

Mas as pressões a Putin vêm não só daqueles que consideram que a Ucrânia não deve existir como Estado. Embora a dizimada oposição tenha vedada a participação em todas as eleições, excluídos seus ativistas sob qualquer pretexto, encarceradas as figuras mais visíveis por “desacreditar o exército” e obrigado seus líderes ao exílio, no dia de hoje já são mais de 80 deputados municipais (o nível mais baixo de legislativo) de Moscou, São Petersburgo, Samara, Novgorod e outras cidades os que solicitaram aos seus colegas da Duma federal “considerar a possibilidades, com apego à Constituição, de iniciar o procedimento para destituir o presidente Vladimir Putin”.

Em um texto que tornaram público, apesar do risco que implica o simbólico gesto que será rechaçado por uma Câmara baixa majoritariamente oficialista, acusam o titular do Kremlin de “alta tradição” por “pôr em risco a segurança da Rússia ao provocar a adesão de mais países à OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e o rearmamento da Ucrânia”. Os cinco deputados que promoveram a iniciativa serão julgados por uma corte de São Petersburgo sob a acusação de “desacreditar ao presidente”.

Em apoio aos seus colegas, Ksenia Torstrem, outra deputada municipal de São Petersburgo, publicou na Internet uma petição lacônica que diz: “Nós, deputados municipais da Rússia, consideramos que a gestão de Vladimir Putin causa prejuízo ao futuro da Rússia e aos seus cidadãos. Exigimos que cesse como presidente da Rússia”. Já tem 47 firmas. 

O que diz Putin

Nesse contexto, o presidente continua empenhado em que “a Rússia não perdeu nada” na Ucrânia e, no dia em que Moscou completava 875 anos desde sua fundação, preferiu no sábado anterior, em lugar de fazer, como comandante chefe das forças armadas, algum comentário sobre o recuo em Járkov, cortar a fita na inauguração da maior roda da fortuna da Europa, que um dia depois – diga-se de passagem – foi danificada e ainda está sem funcionar.

Os membros do entorno presidencial, os mais próximos a Putin, estão convencidos de que seu chefe deve sentar-se para negociar só quando a Ucrânia aceitar todas as condições da Rússia. 

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Dimitri Medvedev, agora vice-secretário do Conselho de Segurança da Rússia, o reiterou na segunda-feira passada (12) em seu canal de Telegram: “Um tal (Volodymyr) Zelensky (presidente da Ucrânia) disse que não vai dialogar com ninguém que coloque ultimatos. Os atuais “ultimatos” são coisa de crianças em relação a exigências futuras. E ele as conhece: a capitulação completa do regime de Kiev sob as condições que forem fixadas pela Rússia”.

Este tipo de declaração não infunde otimismo de que possam frutificar os esforços do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, para organizar em Istambul em encontro cara a cara entre Putin e Zelensky.

Juan Pablo Duch, correspondente do La Jornada em Moscou.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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