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Imagem ilustrativa: National Institute of Allergy and Infectious Diseases / Unsplash

Mpox: por que população global está vulnerável ao vírus?

Declaração da OMS da Mpox como emergência de saúde pública de importância internacional ajudará a destinar cuidados para onde são necessários
C. Raina MacIntyre
The Conversation

Tradução:

Ana Corbisier

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a varíola dos macacos (rebatizada como mpox) uma emergência de saúde pública em escala internacional depois do aumento de casos na República Democrática do Congo e da possibilidade de uma maior propagação.

Esta decisão desencadeia agora uma resposta internacional coordenada ante um acontecimento extraordinário e a mobilização de recursos, como vacinas e exames diagnósticos, para frear a propagação desta enfermidade infecciosa que na Argentina, no momento, provocou 8 casos confirmados, e uma dezena em estudo.

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Mas a OMS não declarou o mpox pandemia. As medidas que pôs em prática destinam-se a evitar que se transforme em uma.

O que provocou este último alerta quanto à chamada varíola dos macacos?

A mpox, também conhecida como varíola dos macacos, é uma infecção por vírus estreitamente relacionada à varíola. Os sintomas iniciais incluem febre, dor de cabeça, inflamação dos gânglios linfáticos e dor muscular. Na sequência aparece uma erupção típica, principalmente na cara, nas mãos e nos pés.

A propagação da varíola por alguns países africanos levou os Centros Africanos para o Controle e a Prevenção de Enfermidades a declarar no princípio desta semana que a varíola é uma emergência de saúde pública de segurança continental. É a primeira vez que a organização emite um alerta deste tipo desde sua criação em 2017.

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A situação na República Democrática do Congo, na África Central, é especialmente preocupante há mais de um ano.

Existem dois tipos ou clados de mpox. O clado II, originário da África ocidental, é menos grave. Tem uma taxa de letalidade de até 1% (em outras palavras, espera-se que aproximadamente um de cada 100 infectados morra por causa dela). Mas o clado I, da África Central, tem uma taxa de letalidade de até 10% (até um de cada dez morre). Em comparação, a taxa de letalidade é de 0,7% para a variante ômicron do SARS-CoV-2, o vírus que causa a covid-19. Na República Democrática do Congo estão ocorrendo grandes epidemias do mpox do clado I, que é mais mortífero.

A varíola dos macacos é endêmica em alguns lugares da África Central e ocidental, onde o vírus existe nos animais e pode propagar-se para os humanos. Os surtos foram aumentando com mais propagação entre humanos, desde 2017.

Isto se deve em parte aos muito baixos níveis de imunidade ao vírus mpox, que está relacionado ao vírus que causa a varíola. A vacinação em massa contra a varíola cessou há mais de 40 anos em todo o mundo, o que resulta em uma imunidade mínima nas populações atuais contra a varíola mpox.

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A designação da OMS anunciada recentemente se refere ao clado I. Não só tem uma maior taxa de letalidade, como apresenta novas mutações que potencializam a propagação entre as pessoas. Estas mutações, e a falta global de imunidade ao mpox, fazem que a população mundial seja vulnerável ao vírus.

Há duas epidemias diferentes

Em 2022, uma epidemia de varíola dos macacos arrasou países não endêmicos, inclusive além da África. Tratava-se de uma variante do clado II, originária da Nigéria, chamada clado IIb. Transmitia-se por via sexual, afetava predominantemente homens que têm relações sexuais com homens e tinha uma baixa taxa de letalidade. Esta epidemia alcançou seu ponto máximo em 2022, com vacinas disponíveis para as pessoas em risco nos países de renda alta, mas houve um rebrote em 2024.

Ao mesmo tempo, estavam ocorrendo grandes epidemias do clado I na República Democrática do Congo, mas com muito menos atenção. As vacinas não estavam disponíveis ali nem em 2023, quando houve 14.626 casos e 654 mortes. A mortalidade foi de 4,5%, e maior entre as crianças. De fato, a maioria dos casos e mortes na República Democrática do Congo foi de crianças. Isto significa que a maior parte da transmissão ali não é sexual e é provável que se tenha produzido por meio de contato próximo ou aerossóis respiratórios.

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No entanto, em 2023, um surto em uma zona não endêmica do país, Kivu do Sul, no leste, parecia dar-se por transmissão sexual, o que indica mais de uma epidemia e diferentes modos de transmissão na República Democrática do Congo. Em meados de 2024, já havia mais casos no país que do que em todo o ano de 2023: mais de 15.600 casos e 537 mortes.

A capacidade de análises é baixa na República Democrática do Congo; a maioria dos casos não são confirmados mediante exames de laboratório, e os dados que temos procedem de uma pequena amostra de sequências genômicas da região de Kamituga, em Kivu do Sul. Isto mostra mutações no vírus de clado I por volta de setembro de 2023, para uma variante denominada clado Ib, que é mais facilmente transmissível entre pessoas. Não dispomos de muitos dados para comparar estes vírus com os que causam casos no resto do país.

O mpox se propaga internacionalmente

No último mês, o vírus propagou-se para países que compartilham fronteira com a República Democrática do Congo: Ruanda e Burundi. Também se estendeu para outros países da África oriental, como Quênia e Uganda. Em nenhum destes países haviam ocorrido casos de mpox anteriormente.

Em um mundo interconectado e móvel, os casos podem propagar-se a outros continentes, como fez o mpox em 2018, da Nigéria para o Reino Unido e outros países.

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Uns poucos casos relacionados com viagens entre 2018 e 2019 podem ter dado lugar à grande epidemia multinacional em 2022 de clado IIb.

Temos vacinas, mas não onde são necessárias

Como o vírus da varíola dos macacos e o da varíola estão relacionados (ambos são do gênero Orthopoxvirus), as vacinas contra a varíola oferecem proteção contra a varíola dos macacos. Estas vacinas foram utilizadas para controlar a epidemia do clado IIb de 2022. No entanto, a maior parte do mundo nunca foi vacinada e não tem imunidade contra a varíola.

A vacina mais recente (chamada Jynneos em alguns países e Imvamune ou Imvanex em outros) é eficaz. No entanto, os fornecimentos são limitados e a vacina escasseia na República Democrática do Congo.

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A declaração da OMS do mpox como emergência de saúde pública de importância internacional ajudará a destinar as vacinas para onde são necessárias. Os Centros Africanos para o Controle de Enfermidades já tinham iniciado negociações para conseguir 200 mil doses de vacinas, que é uma fracção do que se necessita para controlar a epidemia na República Democrática do Congo.

O que acontece agora?

Em última instância, uma epidemia grave em qualquer parte do mundo é uma preocupação para todos nós, já que pode propagar-se globalmente por meio das viagens, como vimos com a pandemia da covid-19.

Controlá-la em sua origem é a melhor medida, e a última declaração da OMS ajudará a mobilizar os recursos necessários.

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A vigilância da propagação desta versão mais grave do mpox também é essencial, tendo em conta que muitos países não têm capacidade para realizar exames generalizados. De modo que teremos que confiar nos “casos suspeitos”, baseados em uma definição clínica, para seguir a pista da epidemia.

A inteligência epidêmica de código aberto – como o uso da IA para controlar as tendências das erupções e da febre – também pode ser utilizada como sistema de alerta precoce em países com sistemas sanitários frágeis ou atraso na notificação de casos.

Outra complicação é que 20-30% das pessoas com varíola dos macacos podem ter ao mesmo tempo varicela, uma infecção não relacionada que também provoca erupções. Portanto, um diagnóstico inicial de varicela (mais fácil de detectar) não descarta a varíola.

A comunicação eficaz e a luta contra a desinformação e as reações contrárias às medidas de saúde pública também são fundamentais. Já vimos quão importante foram durante a pandemia de covid-19.

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Agora, a OMS coordenará a resposta mundial ao mpox, focando na equidade na prevenção da doença e no acesso ao diagnóstico e às vacinas. Depende de cada país fazer todo o possível para cumprir o Regulamento Sanitário Internacional e os protocolos sobre como gerir uma emergência mundial deste tipo.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

C. Raina MacIntyre Docente na Universidade de Nova Gales do Sul, em Sydney, Austrália.

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