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Tal como Obama, Zelensky, novo presidente ucraniano, é uma cara nova para velhas práticas

Zelensky deve atrair a parte russo-parlante da cidadania ucraniana para os 'convencer' a entrar na UE e na Organização do Tratado do Atlântico Norte
Redação Prensa Latina
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Moscou

Tradução:

O showman Vladimir Zelensky ganhou hoje o segundo turno das eleições presidenciais ucranianas com mais de 73%, mas sua missão como chefe de Estado poderia recordar a de Barack Obama na Casa Branca: dar a sensação de mudança.

Em seu momento, o republicano George W. Bush, com sua política de guerra e retrocesso no tema do desarmamento, bem como no meio da integração latino-americana, criou uma imagem negativa dos Estados Unidos que Obama parecia destinado a limpar.

No caso da Ucrânia, o mandatário que sai, Piotro Poroshenko, também se converteu em símbolo, não só dentro da Ucrânia, mas também para alguns outros países, da corrupção de um país em guerra e empobrecido, com oligarcas ricos.

Algumas pessoas, como a jovem ex-fiscal da Crimeia e agora deputada da Duma estatal (Câmara Baixa da Rússia), Elena Poklonskaya, consideram que Zelensky (Z, como é conhecido na Ucrânia) reuniu em si o voto de castigo, a raiva da população pela pobreza e a humilhação.

Mas, politólogos aqui consideram que na verdade foram alguns oligarcas como Igor Kolomoisky, que souberam “capitalizar” o voto de castigo da população para dirigir a uma imagem perfeitamente criada perante as massas de “líder da mudança”.

Zelensky deve atrair a parte russo-parlante da cidadania ucraniana para os 'convencer' a entrar na UE e na Organização do Tratado do Atlântico Norte

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Humorista e showman popular, Zelensky ou o "Z" foi apoiado pela oligarquia ucraniana

Muitos dos outros 37 candidatos que participaram do primeiro turno das eleições presidenciais em 31 de março também se apresentavam como uma alternativa a Poroshenko, incluída a ex-primeira ministra Yulia Timishenko.

No entanto, para formar a imagem positiva nos meios, é necessário muito dinheiro, pois os políticos experientes consideram que a popularidade de um personagem interpretado por Zelensky na série Sluga Naroda teria sido insuficiente.

A eleição de vários oligarcas ucranianos parece ter sido atinada: o ator em seu programa Kvartal 95, além da mencionada série que satiriza o poder, ridiculizava todas as semanas os líderes do Estado.

Quando há uma cidadania, cuja legião de pobres aumenta, com salários cada vez mais desvalorizados, tarifas exorbitantes de serviços públicos e uma população masculina que evita participar de uma guerra fratricida, uma pessoa como Zelensky pode ter sucesso.

O fato de que o showman, que interpretou um professor de história convertido em presidente por acaso, tenha significado uma derrota humilhante a Poroshenko pode ter outras causas: todos os fatores financeiros se uniram para tirá-lo do poder.

E é aqui onde recordamos o exemplo de Obama. Tudo indica que a missão de Zelensky é continuar, com uma nova cara, as tentativas de recuperação da região rebelde de Donbass e o caminho para a entrada à União Européia (UE) e à aliança atlântica.

Claro, desta vez não será um radical russo-fóbico que descarta qualquer aproximação com Moscou ou que ofende o idioma russo. Aqui trata-se de um político que fala russo, nascido no antigo Dnepropetrovsk, onde se fala russo como no Donbass.

Zelensky, como um deles, deverá atrair a parte russo-parlante da cidadania ucraniana para a 'convencer' da necessidade de entrar na UE e, principalmente, na Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), através de um referendo.

Recordemos que o ator apoiou a tendência nacional a declarar como herói Stepan Bandera, principal dirigente dos ultranacionalistas ucranianos que, durante a ocupação nazista, integraram um batalhão de forças especiais alemãs (as SS).

Além disso, afastado dos escândalos de corrupção, como os que se envolvem Poroshenko, 'Z' seria um político mais tratável e crível para o Ocidente na hora de negociar créditos do Fundo Monetário Internacional ou de iniciar ações contra a Rússia.

No segundo turno das presidenciais votaram 18,4 milhões de eleitores, cerca de 62,07%, mas fora do processo eleitoral ficaram 11 milhões de cidadãos.

A Rússia, por seu lado, recorda que nas eleições não houve oportunidade para a votação de mais de dois milhões de residentes, nem para os habitantes da região rebelde de Donbass, um voto que poderia ter mudado os resultados já no primeiro turno.

Por isso deputados russos, como o chefe do comitê de assuntos da Comunidade de Estados Independentes, Leonid Kalashnikov, fazem agora um chamado a evitar vereditos apressados sobre o reconhecimento da legitimidade das eleições ucranianas.

No entanto, independente da posição de Moscou, na cozinha política ucraniana, tudo parece indicar que se busca um novo produto com uma embalagem mais aceitável, inclusive perante Moscou, sem mudar muito seus ingredientes internos.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Redação Prensa Latina

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