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Debilitada pelas corporações, imprensa é mais uma vítima do coronavírus nos Estados Unidos

O antigo modelo de negócios já não funciona, porque o Facebook e o Google têm capturado a maior parte da publicidade que antes sustentava os meios noticiosos
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Mais de 30 mil trabalhadores dos meios de comunicação perderam seus empregos ou seus salários foram reduzidos, enquanto alguns jornais suspenderam suas edições impressas, ou até fechado, a pandemia golpeia uma indústria já frágil no que um especialista qualificou como um possível momento de “extinção massiva” de publicações noticiosas. 

Os efeitos econômicos da resposta à pandemia têm levado ao precipício uma boa parte da indústria de notícias já debilitada justamente em momentos quando a informação verificada, tanto de saúde como de política, é literalmente assunto de vida e morte. 

O impacto econômico da pandemia sobre publicações periódicas poderia ser um “evento pleno de extinção”, segundo o especialista no setor Ken Doctor da Newsonomics. A razão imediata é o desaparecimento quase completo de publicidade nos mercados locais e regionais com o fechamento da economia. Doctor disse que muitas publicações estavam sobrevivendo antes da pandemia, entre elas cadeias como Gannett com mais de 250 rotativos, vivendo sob imensa dívida. Portanto, ele e outros analistas esperam mais fechamentos de periódicos e mais “desertos de notícias”, onde deixam de existir meios locais. 

Ainda mais, esta crise dos meios é ironicamente acompanhada por um incremento significativo de leitores, marcando recordes para alguns meios que agora enfrentam seu possível fechamento. No entanto, o antigo modelo de negócios já não funciona, em grande medida porque o Facebook e o Google têm capturado a maior parte da publicidade que antes sustentava os meios noticiosos.

O antigo modelo de negócios já não funciona, porque o Facebook e o Google têm capturado a maior parte da publicidade que antes sustentava os meios noticiosos

Guia do Estudante
O impacto econômico da pandemia sobre publicações periódicas poderia ser um “evento pleno de extinção”

Embora alguns diários estejam em melhor situação para sobreviver depois de haver feito uma mudança em seus modelos de operação nos últimos anos, para que sua base econômica dependa cada vez mais dos seus assinantes e menos da publicidade comercial (New York Times, The Guardian, Washington Post e  Wall Street Journal), mas todos -incluindo gigantes regionais como Los Angeles Times, Chicago Tribune, Dallas Morning News- já esperam uma redução importante em seus ingressos, inclusive alguns já cortaram pessoal e salários. 

Revistas nacionais, semanários e até os que supostamente eram o futuro, meios nascidos na internet (Vice, Vox, Buzzfeed, etc) estão fazendo o mesmo. 

Aproximadamente 33 mil trabalhadores em empresas noticiosas foram despedidos, suspensos ou sofreram uma redução de salários em apenas quatro semanas, segundo um cálculo do New York Times. Os menos afortunados agora são parte dos 22 milhões de novos desempregados registrados apenas no último mês.  E isso que é uma indústria que perdeu, segundo alguns cálculos do Los Angeles Times, quase a metade de seus repórteres, fotógrafos e editores desde 2008, deixando menos de 38 mil no nível nacional.

“É difícil imaginar uma indústria mais pobremente preparada para a chegada de uma pandemia global que a dos meios”, comentou Mathew Ingram no Columbia Journalism Review. 

Tudo enquanto continua diariamente o ataque sustentado e sem precedentes do governo de Donald Trump contra os meios noticiosos. Não passa um dia em que não tenha buscado menosprezar os meios, desde chamá-los repetidamente de “inimigos do povo” a provedores de “fake news”, e até atacar pessoalmente a todo jornalista que se atreva a questioná-lo, algo que agora está ocorrendo todos os dias durante a sua entrevista coletiva sobre o coronavírus.  

Repórteres sem Fronteiras, em seu Índice Mundial de Liberdade de Imprensa emitido hoje, coloca os Estados Unidos no número 45 da classificação, observando que “a principal fonte de agressividade [contra repórteres] continua sendo o presidente seguido por membros do governo federal – que vêm que Estados Unidos já não é um dos mais ardentes defensores da liberdade de imprensa, seja no interior ou no exterior de suas fronteiras”. [https://rsf.org/es/estados-unidos].

O Comitê para Proteger Jornalistas observou em seu novo relatório sobre Trump e a mídia que ‘a manobra mais eficaz e perigosa de Trump foi destruir a credibilidade da imprensa, minando perigosamente a verdade e o consenso, enquanto a pandemia do COVID-19 ameaça’ Com a morte de dezenas de milhares de estadunidenses [https://cpj.org/reports/2020/04/trump-media-attacks-credibility-leaks.php].]..].

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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