Considerando que nem Vladimir Putin, nem Joe Biden iam ceder na defesa de suas conhecidas e antagônicas posições, os presidentes da Rússia e dos Estados Unidos – ao falar nesta terça-feira por telefone pouco mais de duas horas, menos o tempo que consumiu a tradução de suas palavras -, deixaram aberta a porta para que, dentro de um tempo razoável, tentativamente no começo do próximo ano, possam sentar-se para negociar suas diferenças, frente a frente, em uma cúpula presencial, na qual não poderá haver avanços sem concessões recíprocas.
Entretanto, a escassa informação oficial de ambos os lados – escudando-se no caráter secreto da conversação dos mandatários e deixando de lado as filtrações interessadas que nunca faltam e pouco aportam – permite concluir que o Kremlin e a Casa Branca aceitaram dar-se uma espécie de trégua em seu confronto, agravado desde que a Rússia mobilizou parte importante de suas tropas e armamento convencional para a fronteira com a Ucrânia e este país, junto com os serviços de espionagem estadunidense, começaram a falar de um suposto plano de invasão russa em território ucraniano. Neste parêntesis de fim de ano, Moscou e Washington não vão tentar melhorar sua relação bilateral (nem sequer restabelecer o número de seu pessoal diplomático em cada país, diminuído pelas expulsões por “atividades incompatíveis com seu status”) mas tampouco empreender passos insensatos que pudessem desatar uma guerra em torno ao conflito da Ucrânia.
Wikimedia
Vladimir Putin e Joe Bide tiveram conversa por telefone nesta terça-feira (7)
Tudo indica que a Rússia se comprometeu a não começar uma operação militar contra seu vizinho eslavo, reservando-se o direito de intervir caso o exército ucraniano ataque as regiões rebeldes do sudeste desse país, o que poderia apresentar-se desde Washington como resultado exitoso da mediação do Biden.
O visto desde Moscou, o qual se mostrará como grande triunfo de Putin, Estados Unidos ofereceu não aplicar nenhuma sanção econômica contra a Rússia nem fornecer mais armamento moderno a Kiev nem instalar tropas estadunidenses em território ucraniano.
Portas adentro, fica a reação de Biden à proposta que com toda a segurança foi apresentada por Putin acerca do consenso em torno de um acordo juridicamente vinculante que outorgue garantias de segurança a todos os que assinarem, uma vez que a Rússia coloca como demanda prioritária que os Estados Unidos e seus aliados aceitem pôr fim à expansão para o leste da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Não é provável que Washington aceite renunciar às suas pretensões de hegemonia que encobre com a legítima aspiração das repúblicas ex-soviéticas, se chegado o momento de um referendo essa fosse a vontade majoritária de seus habitantes, de ingressar algum dia à OTAN, hipotética possibilidade que Moscou qualifica de linha vermelha que ninguém deve cruzar.
Na medida em que o tema da Ucrânia perca atualidade noticiosa e seja relegado a um segundo plano, tanto Putin como Biden quererão reunir-se para dar luz verde aos trabalhos dos grupos de funcionários e especialistas que acordaram criar há seis meses, em Genebra, para negociar distintos aspectos do controle de armamento, o que promete ser um complexo processo de estira e afrouxa até poder estabelecer um novo equilíbrio estratégico.
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