Assim como no Brasil, com Bolsonaro, nos Estados Unidos, com Trump, no Reino Unido, com o Brexit, e em outros países, a Nigéria enfrenta problemas com a disseminação de fake news em contexto eleitoral. O país mais populoso da África passa por eleições gerais em fevereiro. Mais de 68 milhões de eleitores de país com 135 milhões de habitantes escolherão deputados, senadores, governadores e presidente. O atual chefe do Executivo pode ser reeleito para mais quatro anos.
A desinformação provocada pelo uso de mentiras disseminadas via redes sociais chegou a desencadear um pronunciamento insólito do presidente Muhammadu Buhari, do All Progressive Congress (APC), um partido de centro-esquerda. Hoje (3) ele desmentiu uma das mentiras que correm a seu respeito. “Sou eu mesmo (…) Continuo forte”, disse sobre a notícia de que ele teria sido substituído por um clone.
Nigerian Monitor
Muhammadu Buhari teve que desmentir publicamente boato de WhattsApp de que ele seria um clone
Buhari, que tem 75 anos, passou por problemas de saúde e chegou a ser internado na Inglaterra em 2017. Na ocasião, ele confirmou que estava muito doente, mas que conseguiu superar. Desde lá, circulam rumores de que ele teria sido substituído por alguém parecido, de origem sudanesa, ou até mesmo um clone. Os boatos começaram a circular com maior intensidade como a proximidade das eleições.
As fake news atinge outras esferas dentro do contexto eleitoral. Grupos políticos opostos promovem acusações violentas entre si. Governistas acusam o líder da oposição, Atiku Abubakar, do People’s Democratic Party (PDP) de ser proibido de entrar nos Estados Unidos por ser corrupto condenado, o que não procede.
As mentiras podem ter provocado, inclusive, mortes no país. Circulam boatos via redes sociais, em especial o WhatsApp, sobre doenças como o ebola e falsos tratamentos, bem como falam sobre ataques inexistentes entre etnias rivais. O país tem um contexto político complexo, com grande divisão, não apenas entre etnias, mas também entre idiomas.
Esse cenário de divisão e um largo histórico de violência entre diferentes grupos cria um caldeirão perigoso. O diretor da agência de checagem de notícias falsas Africa Check, Peter Cunliffe-Jones, que trabalha há anos no país como repórter, revela para o portal Poynter que “existe um sério risco de que, da forma como podem manipular as informações nas redes sociais, pode resultar em um trágico recorde de violência social. Seria levado a níveis de perigo que você pode minar a fé na democracia.”