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Imagem: Captura de tela / Sputnik

Para governador e deputado russos, atentado no Daguestão está ligado à guerra na Ucrânia

“Temos que entender que a guerra está chegando à nossa casa”, afirma Serguei Melikov, líder da República do Daguestão; ataque matou pelo menos 20 pessoas
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

Beatriz Cannabrava

O Cáucaso do Norte russo, desta vez a república do Daguestão, cuja população é majoritariamente muçulmana, voltou a ser cenário de atentados em sua capital, Majachkalá, e na cidade de Derbent, por grupos armados que atacaram dois templos da Igreja Ortodoxa Russa e uma sinagoga, o que deixou pelo menos 20 mortos e mais de 40 feridos a bala, informou nesta segunda-feira (24) o Comitê de Instrução da Rússia (CIR) a cargo da investigação.

O presidente Vladimir Putin, por meio de seu porta-voz, Dimitri Peskov, expressou suas “mais sinceras condolências” aos parentes dos falecidos, enquanto as autoridades do Daguestão decretaram três dias de luto.

Os fatos ocorreram na noite do último domingo em Majachkalá e Derbent, quando os criminosos dispararam seus fuzis automáticos contra os guardas das igrejas ortodoxas e atearam fogo a uma sinagoga, enfrentando depois a polícia local em sua tentativa de fuga, enquanto as autoridades decretaram o chamado “regime de operação antiterrorista” com reforços de unidades especiais do Serviço Federal de Segurança e do ministério do Interior.

Durante a madrugada houve tiroteios em diferentes zonas de ambas as cidades até que o CIR anunciou na manhã de segunda-feira que a operação havia terminado ao “não existir mais perigo para a população”.

Segundo dados preliminares do CIR, perderam a vida 15 policiais e quatro civis, entre eles um sacerdote ortodoxo, degolado em seu templo. Também morreram seis atacantes, mas não se sabe quantos participaram nas incursões.

Embora de fora da Rússia grupos islâmicos radicais reivindicaram as ações, segundo analistas, não está claro se só o componente religioso foi determinante para lançar os ataques, dado que há indícios que apontam a uma tentativa de desestabilizar a gestão de Serguei Melikov, governante imposto por Moscou para mediar entre os clãs que disputam o poder nessa república.

Nesse sentido, chama a atenção que, entre os seis criminosos mortos, três eram familiares de Mohamed Omarov, chefe do distrito Sergokalinsky do Daguestão, seus filhos Osman e Adil, e seu sobrinho Abdusamad Amadziyev. Ainda na segunda-feira, o partido governante Rússia Unida expulsou de suas fileiras Omarov por “cometer ações que desmerecem o partido”.

Circulam versões de que Omarov está detido e outras de que apenas o interrogaram. De acordo com o serviço de notícias Baza, que presume de contatos dentro do ministério do Interior e das agências de segurança da Rússia, Omarov declarou que faz anos que não vê seus filhos, desde que “se tornaram adeptos do wahabismo”, ramo radical do Islamismo.

Outro dos atacantes mortos, Ali Zagarikayev, há dois anos deixou a presidência da filial no mesmo distrito Sergokalinsky do partido SPRZ (siglas de Rússia Justa, Patriotas pela Verdade), organização de oposição na Duma federal criada pelo Gabinete da Presidência russa como “alternativa” à Rússia Unida.

Sem fazer a mínima autocrítica, seu líder máximo, Serguei Mironov, disse nesta segunda-feira que “o Estado só pode reagir de uma maneira: morte para os terroristas; cadeia para seus cúmplices; expulsão para sempre dos órgãos do poder para seus familiares. Se não, nunca poderemos vencer essa hidra”.

Nas redes sociais daguestanesas, mais um criminoso foi identificado, como Gadzhimurad Kagirov, lutador profissional de artes marciais mistas e sobrinho em segundo grau do ex-prefeito de Majachkalá, Musa Musayev. Não se conhecem dados do sexto agressor morto e comenta-se que pelo menos cinco deles frequentavam a mesma mesquita nos arredores do distrito Sergokalinsky.

Melikov, o governante do Daguestão, vinculou os atentados com a guerra na Ucrânia ao afirmar, em uma mensagem gravada na noite de segunda, que “sem dúvida, todos nós novamente nos sentimos hoje como parte dos acontecimentos que têm lugar em todo o mundo. Antes, em maior grau, o ressentiam aqueles que participam diretamente na ‘operação militar especial’, aqueles que defendem nosso país na linha de frente. Mas temos que entender que a guerra está chegando à nossa casa. Intuíamos isso antes, mas esta noite vivemos de perto essa guerra”.

Aljuljakim Gadzhiyev, deputado da Duma, foi mais direto ao considerar que “por trás dos atentados estão os serviços secretos da Ucrânia e da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte)”, hipótese que os programas informativos da televisão local retomaram como linha ao longo da segunda-feira.

Em contraste, Dimitri Rogozin, ex-embaixador russo na sede da OTAN e ex-diretor-geral da Agência Espacial russa, publicou em sua conta no Telegram: “Creio que se a cada ato terrorista, mistura de intolerância étnica e religiosa, ódios e russofobia, se vai atribuir a autoria à Ucrânia e à OTAN, teremos uma neblina rosada que não nos permitirá ver grandes problemas. Já é hora de ver a viga no próprio olho e deixar de ver o cisco no olho alheio”.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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