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Foto: Claudia Sheinbaun / Facebook

Para mexicanos nos EUA, missão de Sheinbaum é criar empregos: “Não queremos sair do México”

"É preciso criar oportunidades para os mexicanos, queremos criar nossos filhos em nossa terra linda", afirma o sindicalista Lucas Benítez
Jim Cason, David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Desde diversos pontos do mapa estadunidense, líderes da comunidade transnacional de mexicanos expressaram seu orgulho pela eleição histórica de Claudia Sheinbaum como a primeira mulher presidente do México e expressaram sua expectativa de que a diáspora mexicana e suas contribuições econômicas, sociais, culturais e políticas serão não só reconhecidas, mas plenamente incorporadas à construção democrática do México.

Em entrevistas ao La Jornada, esses dirigentes e estrategistas concordaram que no passado 2 de junho manifestou-se um enorme desejo de participação política pela comunidade mexicana nos Estados Unidos e que é o momento chave para incluir esta comunidade nas políticas de desenvolvimento que impulsionará o próximo governo do México.

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Gaspar Rivera Salgado, diretor do Centro de Estudos Mexicanos da Universidade da Califórnia em Los Angeles – que também é assessor e estrategista de organizações imigrantes binacionais e de iniciativas sindicais transfronteiriças –, comentou que para além de que o México terá sua primeira presidente, o que dá muita alegria, a eleição mexicana, em comparação com outros concursos eleitorais ao redor do mundo, incluindo o dos Estados Unidos, é mostrar de “uma democracia saudável, de um povo que ainda acredita neste tipo de processo… É uma consolidação”.

Festa democrática e binacional

Sublinhou que a eleição no México “foi uma festa democrática binacional. É histórico que pela primeira vez os compatriotas podiam ir ao consulado para emitir seu voto. A mim parece que pela grande quantidade de pessoas que estavam no consulado de Los Angeles, muita gente esperou para poder exercer este voto de maneira presencial e poder, como me dizia um conterrâneo, sentir as pessoas, votar com outros mexicanos e celebrá-lo”.

No entanto, muitos ficaram frustrados quando não conseguiram emitir seu voto após esperar mais de oito horas devido à capacidade de receber as cédulas do INE ter sido excedida, uma queixa que se repetiu em outros consulados nos Estados Unidos onde se podia votar de maneira presencial, incluindo Chicago e Nova York.

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Rivera contou que na noite da eleição estava na seção de um sindicato de trabalhadores de serviços em Los Angeles – o mesmo onde Claudia Sheinbaum realizou uma troca de ideias há alguns meses – junto com pessoas de vários sindicatos locais, “a maioria companheiras migrantes, mulheres que receberam com euforia os resultados e a sala irrompeu no grito, ‘Claudia presidente, viva México’”. Enfatizou: essas mesmas são as que caminham pelas ruas de Los Angeles promovendo o voto para as eleições locais ou estaduais. Então, são pessoas que realmente são atores políticos binacionais que seguem muito de perto o que ocorre em ambos os países.

Maior atenção aos imigrantes

Para Rivera é notável que “o tema da migração não fez parte dos debates presidenciais nem das plataformas políticas de nenhum dos três candidatos. Isso a mim parece extraordinário, porque alcançamos nos últimos dois anos níveis muito altos de compatriotas residentes nos Estados Unidos, mas sobretudo essa transformação profunda do México, de passar de ser um lugar de onde partem os migrantes a ser uma ponte super importante dos deslocados em escala mundial”. Tudo o oposto nos Estados Unidos onde a migração é um dos temas que domina a eleição, indicou.

“A mim parece que uma das coisas que Claudia Sheinbaum deveria fazer é reconhecer, ver e ouvir os migrantes. Andrés Manuel López Obrador, apesar de seu discurso de nos chamar de heróis, não se reuniu nem uma vez com mexicanos migrantes”, assinalou.

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“E isso me parece que foi um erro que precisa ser corrigido. Sheinbaum, que tem a experiência de ter vivido como migrante, como estudante de pós-doutorado na Califórnia, que falou sobre essa experiência de sentir a migração, a solidão, de sentir-se fora do seu país e de construir comunidade, deve mudar o enfoque. É importante ter uma estratégia para ver e ouvir esses migrantes, para sentar e conversar e convertê-los em uma força positiva de mudança para o México”.

Mexicanos não querem mais migrar

Lucas Benítez (Foto: Coalizão de Trabalhadores de Immokalee)

No outro extremo deste país, na Flórida, Lucas Benítez, cofundador da Coalizão de Trabalhadores de Immokalee e promotor da Campanha por Comida Justa que está transformando as condições dos trabalhadores rurais ao redor dos Estados Unidos (e agora, em outros países), opinou que “nesta eleição o povo novamente rejeitou e deixou claro que não queria mais daqueles que por tantos anos governaram o México, em particular o PRI… A presidente eleita tem o compromisso de dar continuidade ao legado de Morena”.

Indicou que o que se espera dela, entre muitos dos que migraram para os Estados Unidos, é que “nos ponhamos a trabalhar para criar empregos no México, porque nós mexicanos não queremos estar no estrangeiro, queremos estar com as nossas raízes. Queremos criar nossos filhos em nossa terra linda. Não queremos sair, mas muitas vezes somos obrigados. É preciso criar oportunidades para os mexicanos e que não sigamos morrendo no estrangeiro e somente recebendo corpos de mexicanos que morrem como heróis por trabalhar e sair para buscar o pão de cada dia para sua família. Cremos e eu creio que esse é o momento em que o México pode e deve criar com seus governantes empregos para os mexicanos que estão no México. Nós que já saímos, lamentavelmente já saímos, mas que não continuemos saindo. Que fiquemos no México para fazer o México muito maior”.

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Agregou ainda que o que se necessita para os que estão nos Estados Unidos o quanto antes é que “a presidenta do México deve se sentar com seu homólogo estadunidense, seja qual for, e realmente negociar uma reforma migratória para os mexicanos que já levam décadas aqui – a última reforma foi em 1986 – e dar oportunidade às pessoas que alimentaram e criaram seus filhos neste país, e que ainda seguem escondendo-se das leis deste país, porque não têm uma documentação para estar aqui. A presidenta tem realmente o dever e o compromisso de não só negociar, mas exigir do governo dos Estados Unidos que reconheçam estes mexicanos que têm estado aqui por tantos anos e que deram a este país e ao país mexicano parte de sua vida”.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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