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ToggleO assunto data de Novembro de 2019, altura em que um coletivo de pastores Angolanos insurgiu-se contra a forma como a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), uma das maiores congregações neopentecostais do mundo, geria sua filial angolana.
Na época, pastores angolanos assinaram um manifesto acusando suas contrapartes brasileiras de corrupção, racismo, e denunciando a exigência da realização de vasectomia.
Em Junho de 2020, um grupo de pastores angolanos rompeu formalmente contra a IURD brasileira, formando a Igreja Universal de Angola. O grupo afirma ter assumido o controle de 42% dos templos do país.
O BBC Brasil conta que a Igreja Universal do Reino de Deus de Angola reagiu em nota oficial sobre o ocorrido:
“Alguns templos no país foram invadidos por um grupo de ex-pastores desvinculados da Instituição por práticas e desvio de condutas morais e, em alguns casos, criminosas e contrárias aos princípios cristãos exigidos de um ministro de culto”.
A polícia de Angola foi chamada para reforçar a segurança nas igrejas em diversas cidades, e as autoridades angolanas instauraram um processo-crime para investigar os atos.
No dia 23 de Junho, o pastor Agostinho Martins da Silva, porta-voz da denominada Comissão Instaladora da Igreja Universal do Reino de Deus Reformada em Angola, declarou ao Jornal de Angola:
“Os angolanos continuam a testemunhar atos de discriminação racial, castração, abortos forçados às esposas dos pastores angolanos e usurpação das competências da assembleia geral de pastores.
Tivemos uma reunião com a liderança brasileira, que prometeu fazer reformas em relação ao racismo, evasão de divisas, bem como a inserção de pastores angolanos e das respectivas esposas em postos de maior destaque na igreja, mas sem sucesso.
Os nacionais parecem estrangeiros e os estrangeiros tomaram o lugar dos nacionais no nosso próprio território.
Há pastores angolanos há mais de 18 anos na obra e com 40 anos de idade impedidos de casar por recusarem a vasectomia”.
O grupo afirma que a Universal em Angola será assumida pelo bispo Valente Bezerra Luiz, então vice-presidente da igreja, segundo o coletivo dos pastores desavindos.
Captura de ecrã YouTube TPA
Igreja Universal Angola procura desfazer-se da parte brasileira
Em 26 de Junho, a dissidência afirmou que as igrejas estão fechadas em todo o país por falta de garantias de segurança de pastores e fiéis.
Num vídeo publicado no Twitter, no dia 28 de Junho, um pastor angolano afirma que os brasileiros promovem atos que violam os Direitos Humanos e a Constituição da República de Angola:
Jovem da igreja universal Angola ??esta a reivindicar a reforma na igreja . pic.twitter.com/np7eFMcj8S
— Nelson fragão (@NFragao) June 27, 2020
Pastores da Igreja Universal expulsos dos templos em Angola.
Foram colocados pra correr, muitos estão na rua.
Querendo voltar para Brasil.
É né, charlatões pic.twitter.com/5qRJBupAM0— Pя๏ƒэ†ล ʟʊɨʐǟ̃օ ☭ (@NeloSohn) June 27, 2020
No dia 6 de Julho, a Agência Pública referiu que Edir Macedo atribuiu a dois ex-bispos brasileiros um “golpe” em Angola:
“Em uma live anunciada como “meditação com pastores” publicada nas redes sociais no sábado, 27 de junho, o líder máximo da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), Edir Macedo, culpou os ex-bispos brasileiros João Leite e Alfredo Paulo por um “golpe” em Angola, que teria levado, há 15 dias, religiosos africanos a se rebelar e assumir o controle de 220 dos cerca de 300 templos da instituição no país”.
Rasto de problemas
Fundada no Brasil no fim dos anos 70, a IURD chegou em Angola no início dos anos 90 e hoje é uma das maiores congregações religiosas do país africano. A igreja é dona da Tv Record, rede de comunicação brasileira com filiais em 150 países, incluso Angola.
Em 2013, a IURD teve as suas atividades suspensas em Angola entre Fevereiro e Março após 10 pessoas morrerem por asfixia e esmagamento durante um culto no Estádio da Cidadela, cuja lotação máxima foi largamente ultrapassada.
Em 2019, a pesquisadora Teresa Cruz e Silva contou que, em Moçambique, a IURD entrou em 1992 num contexto de crise, após a guerra civil, o que contribuiu com grande adesão de fiéis.
Sabe-se igualmente que em outros países Africanos de Língua Oficial Portuguesa sucedem desavenças, como foram os casos de Moçambique e São-Tomé e Príncipe.
Dércio Tsandzana, para Global Voices
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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