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Foto: Presidência da Colômbia / Flickr

Petro rebate acusações de espionagem: “Este governo não faz o que outros fizeram no passado”

"Desde o primeiro dia de governo, a ordem do presidente aos organismos de inteligência é não usá-la contra a oposição, a imprensa ou as cortes", acrescentou Petro
Jorge Enrique Botero
La Jornada
Bogotá

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Nesta segunda-feira (24), o presidente Gustavo Petro negou categoricamente que seu governo realize atividades de espionagem, vigilância ou interceptações telefônicas a opositores, jornalistas ou magistrados das altas cortes, conforme afirmam integrantes da Corte Constitucional que pediram à Procuradoria Geral investigar suas denúncias.

Ante a sala plena da Corte Constitucional, a procuradora-geral, Luz Adriana Camargo, foi informada na semana passada das preocupações de membros dessa corporação em torno de uma possível “perseguição por parte de organismos de inteligência estatal”.

O presidente da corte, José Fernando Reyes, entregou a Camargo uma dura carta do magistrado Jorge Enrique Ibáñez na qual ele assegura que ele e sua esposa são vítimas de “operações de órgãos de inteligência oficial que se realizam fora dos marcos jurídicos da lei estatutária de inteligência e contra inteligência”.

Ibáñez assegura na carta que “há vários meses, minhas comunicações, especialmente meu telefone celular, têm sido interceptadas, assim como as comunicações dos magistrados auxiliares que trabalham em meu gabinete”.

O magistrado disse que não descartava que “essa mesma atuação possa estar ocorrendo em relação a outros magistrados”, ao mesmo tempo em que assegurou que “funcionários de monitoramento e análise, vinculados à secretaria de comunicações e imprensa da Presidência da República, têm feito vigilâncias com fins de perfilamento à minha esposa”.

Magnificado por alguns meios locais, o tema das possíveis interceptações despertou velhos fantasmas de épocas não tão distantes nas quais os governos de Iván Duque e Álvaro Uribe apelaram à intimidação de seus críticos por meio de práticas gangsteris que terminaram sendo conhecidas em detalhes com o passar do tempo.

Cronistas locais recordaram o constrangedor episódio ocorrido durante o segundo governo de Uribe (2006-2010), quando organismos de inteligência encheram de microfones a sala plena da Corte Suprema de Justiça utilizando uma humilde mulher que servia o café no local solene, onde os magistrados avaliavam provas sobre a penetração do paramilitarismo na política.

“Este governo não faz o que outros fizeram no passado”, escreveu hoje Petro em sua conta no X, sublinhando que a inteligência do Estado se foca em perseguir o grande crime.

Acrescentou o mandatário que “desde o primeiro dia de governo a ordem do presidente aos organismos de inteligência é não usá-la contra a oposição, a imprensa ou as cortes”.

Após as denúncias de espionagem, a bola – dizem analistas – ficou na quadra da procuradora-geral, Luz Adriana Camargo, que qualificou como “graves” as acusações contra o governo e prometeu uma investigação rápida e contundente.

Nomeada há alguns meses pela Corte Suprema de Justiça a partir de uma lista apresentada por Petro, Camargo enfrenta seu primeiro grande desafio investigativo depois de ter sido acusada por partidos tradicionais e porta-vozes da extrema-direita de ser “procuradora de bolso de Petro”.

Novos diálogos de paz na Venezuela

Em Caracas, entretanto, as delegações do governo e das guerrilhas conhecidas como Segunda Marquetalia, lideradas por Iván Márquez, iniciaram na segunda-feira(24) diálogos formais de paz em meio a críticas veementes das forças tradicionais, que consideram inaceitável uma negociação com estruturas armadas que assinaram os acordos de paz de 2016, mas depois retornaram às armas ao considerar que o Estado havia descumprido o pactuado.

Especialistas no tema da paz consideram que esta negociação, a terceira que o governo mantém, se centrará em conseguir a implementação dos acordos de 2016, especialmente nos temas de reforma agrária e substituição de cultivos ilícitos. A pedra no sapato, no entanto, parece ser a situação jurídica de Márquez e outros comandantes rebeldes que assinaram o pacto de Havana e se submeteram à justiça transicional derivada deste.

Novos atentados e mais mortes em Cauca

Quando o eco da explosão de um carro-bomba na vila de Remolino ainda atravessava as montanhas do sul da Colômbia, três veículos eram incendiados por camponeses enfurecidos do município de Buenos Aires, que no sábado (22) imobilizaram uma patrulha conjunta do exército e da polícia dedicada a erradicar cultivos de coca.

Ambos os fatos, separados por menos de 24 horas e alguns poucos quilômetros, alimentaram a fogueira de violência que vem afetando toda a região sudoeste da Colômbia, onde se encontram Nariño e Cauca, dois departamentos de população indígena e negra que parecem condenados a viver entre a morte e a ansiedade devido às economias ilícitas que se multiplicam sob o olhar impotente do Estado.

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Em Remolino, subiu para três o número de mortos após a explosão, na tarde de sexta-feira (21), de um carro-bomba estacionado a menos de 100 metros da delegacia de polícia local. Dessa forma, um jovem comerciante, uma mulher que se dedicava à venda informal e um policial de apenas 19 anos, engrossaram a longa lista de mortos que esta guerra regional deixou desde que o governo do presidente Gustavo Petro decidiu, em março, suspender um cessar-fogo com as guerrilhas do chamado Estado-Maior Central (EMC) que não aderiram aos acordos de paz de 2016 entre o Estado e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).

No último domingo (23), comandantes militares de Nariño atribuíram a frente Franco Benavides, sob o comando do conhecido como Mata, o planejamento e a execução do atentado, esclarecendo que essa estrutura se move pelos cinco municípios da cordilheira ocidental do departamento, todos com altos índices de cultivos de coca e presença de laboratórios para o processamento de cocaína. Assim como Cauca, Nariño faz fronteira ao oeste com o oceano Pacífico, uma rota segura de saída da droga para os mercados internacionais.

Algumas horas após a explosão em Remolino, o exército denunciou que tropas do comando do Cauca “foram vítimas de um motim por parte das comunidades do município de Buenos Aires, Cauca”, que exigem a sua saída da região.

De acordo com a mesma fonte, as tropas realizavam “operações militares contra o narcotráfico” quando foram cercadas por dezenas de camponeses que imobilizaram os soldados e posteriormente incendiaram três veículos, dois da polícia e um do exército.

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O exército recorreu à versão, difundida inúmeras vezes, de que “os camponeses foram instrumentalizados” pelas estruturas guerrilheiras Dagoberto Ramos e Jaime Martínez, pertencentes ao EMC.

Missão Cauca

Com a presença do ministro da Defesa, Iván Velázquez, altos comandantes militares e autoridades regionais, o governo lançou na sexta-feira (21) a chamada Missão Cauca.

Desde a cidade de Popayán, capital do departamento com o mesmo nome, Velázquez explicou que o principal componente da estratégia será a força pública, acompanhada de um robusto investimento social no qual participarão vários ministérios.

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“O que esta Missão Cauca pretende é avançar no controle territorial e consolidar progressos mediante a transformação das economias do território e a melhoria das condições de vida das comunidades”, assegurou o titular da Defesa.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jorge Enrique Botero Jornalista, escritor, documentarista e correspondente do La Jornada na Colômbia, trabalha há 40 anos em mídia escrita, rádio e televisão. Também foi repórter da Prensa Latina e fundador do Canal Telesur, em 2005. Publicou cinco livros: “Espérame en el cielo, capitán”, “Últimas Noticias de la Guerra”, “Hostage Nation”, “La vida no es fácil, papi” y “Simón Trinidad, el hombre de hierro”. Obteve, entre outros, os prêmios Rei da Espanha (1997); Nuevo Periodismo-Cemex (2003) e Melhor Livro Colombiano, concedido pela fundação Libros y Letras (2005).

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