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Próximo à eleição do país, Papa Francisco pede "reconciliação, união e paz" em Moçambique

"Nenhum país tem futuro se o que o une é a vingança e o ódio. Não há melhor maneira de guardar a esperança do que permanecer unidos"
Dércio Tsandzana
Global Voices
São Paulo (SP)

Tradução:

O Papa Francisco visitou Moçambique entre os dias 4 e 6 de setembro de 2019, onde realizou uma missa para 80 mil pessoas no estádio nacional do Zimpeto, na capital Maputo, além de reuniões com autoridades.

O país não recebia uma visita papal desde setembro de 1988, quando João Paulo II esteve aqui.

Antes da sua chegada em Maputo, o Papa Francisco divulgou uma mensagem em prol da reconciliação e da paz em Moçambique:

“Dentro de poucos dias, terá início a minha visita ao vosso país e, apesar de não poder deslocar-me para além da capital, o meu coração alcança e abraça a todos vós, com um lugar especial para quantos vivem atribulados. Desde já vos queria deixar esta certeza: estais todos na minha oração. Anseio pelo momento de vos encontrar.

Tal como recebi (e agradeço!) o convite do senhor Presidente e dos meus irmãos Bispos para ir ter convosco, assim estendo o convite a todos vós, para vos unirdes à minha oração a fim de que o Deus e Pai de todos consolide a reconciliação, reconciliação fraterna em Moçambique e na África inteira, única esperança para uma paz firme e duradoura”.

Após pousar no Aeroporto Internacional de Maputo na noite do dia 4, o Papa circulou pelas ruas da cidade no papamóvel em meio à multidão que acenava e registrava sua passagem em fotos e vídeos.

A temperatura naquele dia havia sido de pelo menos 31 graus. Na noite em que chegara o Papa, os termómetros marcavam pelo menos 27 graus.

Conversamos com voluntários que ajudavam a organizar o público.

"Nenhum país tem futuro se o que o une é a vingança e o ódio. Não há melhor maneira de guardar a esperança do que permanecer unidos"

Dércio Tsandzana
Voluntários Papa Francisco

Depoimentos

Um deles chama-se Arcénio, de 21 anos, membro de uma das igrejas situadas na Matola, cidade vizinha a Maputo. Ele diz:

“Estou aqui para servir ao povo. Fui escolhido na minha paróquia para ajudar a organizar a visita, e espero que seja um momento de paz e mais reconciliação para Moçambique. Estou feliz”.

Outro voluntário chama-se Helton, 19, membro de uma das igreja católicas do centro de Maputo. Ao ser perguntado sobre o impacto da visita nas eleições, ele respondeu:

“Essa visita surge para abençoar a paz em Moçambique, e para mim não há relação com a política. Estou para servir ao Papa, por isso aceitei estar aqui hoje”.

Alguns comentaristas haviam alertado que a visita do pontífice tão próxima das eleições gerais, marcadas para o dia 15 de outubro, poderia vir a interferir na campanha.

Antes da visita, o bispo auxiliar da arquidiocese de Maputo, António Juliasse, declarou à imprensa que a mesma não deve ter aproveitamento político:

“Dentro do respeito de uns para outros, não se devem usar estes locais para momentos políticos. Não apenas verbalmente, mas devemos também ter o cuidado em não sermos portadores daquilo que nos pode dividir, em termos de roupa e outros materiais”.

Já o professor de economia e pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), António Francisco, acredita que a visita do Papa será, sim, benéfica politicamente, sobretudo para o partido no poder, a FRELIMO. Ele escreveu no Facebook:

“Talvez um dia, quando escrever suas memórias, o meu xará esclareça porque ousou visitar Moçambique no início da campanha eleitoral de 2019. Nessa altura, espero que nos confidencie quem foi o anjo da guarda que lhe garantiu que nesta Paróquia do Índico os resultados eleitorais continuam a depender mais de quem conta do que de quem vota”.

Papa Francisco saúda a multidão no dia 4 de Setembro, 2019. Foto de Dércio Tsandzana

No dia seguinte, 5 de setembro, saímos pela manhã para melhor nos posicionarmos numa das ruas em que ia passar. Logo pelas primeiras horas, ainda conseguimos captar o papa móvel, mas vazio.

Papamóvel sem o Papa Francisco, 5 de setembro de 2019. Foto de Dércio Tsandzana 

Continuamos ali a aguardar. Para o nosso espanto, o Papa viria quase duas horas depois numa viatura descaracterizada

As ruas de Maputo para receber o Papá Francisco | Foto de Dércio Tsandzana 

Papa Francisco saúda a multidão, 5 de setembro de 2019. Foto de Dércio Tsandzana  Procuramos saber as razões e nos foi dito que o Papa estaria a caminho de um encontro com o Presidente da República, e que depois sairia em seu habitual meio de transporte para um encontro inter-religioso com jovens no estádio de Maxquene.

Papa Francisco no encontro inter-religioso com jovens moçambicanos | Foto de Dércio Tsandzana  

Sobre esse encontro, conversamos com Víctor Fazenda, católico e ativista social, que nos revelou um detalhe:

“Ao longo da entrada do Papa ao pavilhão, logo que foi anunciada a sua entrada ao pódio, os presentes diziam e repetiam, provavelmente mais de quinze vezes, a palavra reconciliação, com as mãos sobrepostas, isto é, uma por cima da outra”.

Arlindo António, residente na cidade de Maputo, usou-se do Twitter para dar destaque aos pronunciamentos do Papa Francisco para os jovens:

No 6 de setembro, seguiu-se à missa pública num dos maiores estádios do país, que chegou à sua capacidade máxima. Não foi possível acedermos ao local para registos ou captação de imagens. Depois de Moçambique, o Papa Francisco seguiu para Madagáscar, e depois Maurícias.

Durante a missa na cidade de Maputo, o Papa Francisco abordou diversos assuntos, e sem mencionar particularmente o momento eleitoral, disse entre outras coisas que:

“Nenhum país tem futuro se o que o une é a vingança e o ódio. (…) Não há melhor maneira de guardar a esperança do que permanecer unidos, para que todos aqueles motivos que a sustentam se consolidem sempre mais num futuro de reconciliação e de paz em Moçambique”.

*Dércio Tsandzana

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Dércio Tsandzana

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