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Qual a alternativa para a crise grega?

Miguel Urbano Rodrigues

Tradução:

150708033909_greece_euro_624x351_reutersA crise grega é a crise do capitalismo. Assim sendo, qual a saída? A alternativa para o sistema capitalista passa pela Revolução

Miguel Urbano Rodrigues*
A evolução da crise grega manifesta traços do poder do imperialismo que talvez em nenhuma situação anterior se evidenciassem de forma tão flagrante. O Syriza, força social-democrata, nada põe em causa do capitalismo. Mas a enorme distância entre as suas promessas eleitorais e as imposições da troika obrigaram-no a tentar obter alguma margem de negociação. Acontece que, nos dias de hoje é suficiente que um político no poder ouse contestar mesmo timidamente a ditadura do capital para ser encarado como inimigo do sistema. O imperialismo não negoceia, exige capitulação total. A alternativa dos povos só existe com a perspectiva do socialismo.
A evolução da crise grega encerra lições muito importantes para as forças progressistas que em dezenas de países lutam em contextos muito diferentes contra o imperialismo.
A principal delas confirmou a impossibilidade daquilo que setores da social-democracia chamam “a reforma humanizada do capitalismo”.
A vitória do Syriza nas eleições gregas semeou ilusões. Os discursos de Tsipras durante a campanha, recheados de promessas, contribuíram para que os partidos social-democratas, na Europa e na América Latina, definissem o Syriza como um partido de “esquerda radical”, vocacionado para introduzir grandes transformações na sociedade helênica. O governo Syriza-Anel recebeu inclusive o apoio de alguns partidos comunistas europeus.
Mas logo após iniciar negociações com as instituições europeias (nova designação para a troika) ficou transparente que Tsipras concordava com a maioria das exigências de Bruxelas.
Durante uma visita de duas semanas à Grécia apercebi-me de que o seu governo se propunha a dar continuidade à política de submissão ao imperialismo desenvolvida pela coligação da Nova Democracia com o Pasok, introduzindo-lhe apenas mudanças cosméticas.
As suas continuas concessões às propostas dos parceiros de Bruxelas não impediram que estes adiassem sucessivamente o acordo que permitiria ao governo de Atenas receber 7200 mil milhões de euros (a ultima tranche do segundo plano de “ajuda”), evitando o default iminente.
Dias antes do final do prazo para pagamento ao FMI de 1500 mil milhões de euros, Tsipras, numa pirueta, anunciou a convocação de um referendo. O povo tinha que responder se concordava ou rejeitava as ultima propostas apresentadas pelo Eurogrupo. E num discurso dramático no Parlamento pediu aos eleitores que votassem NÃO!
O eleitorado atendeu ao seu apelo. O NÃO obteve 61% dos votos emitidos. O governo interpretou-o como uma aprovação do Memorando do Syriza.?O referendo, repudiado pelo Partido Comunista, foi uma manobra teatral de Tsipras. É significativo que no dia seguinte ao referendo o Syriza, o Pasok e o Potami publicaram um comunicado conjunto, num consenso expressivo da política de classe do governo.
Ao retomar as negociações em Bruxelas, o primeiro-ministro grego traiu a confiança dos eleitores, pediu um novo resgate de 53 000 milhões de euros e apresentou ao Eurogrupo propostas piores do que as ultimas que havia recusado.
Recusaram a austeridade, mas dias depois propuseram uma austeridade reforçada.
Ao contrário do que muitos esperavam, a assinatura do Acordo esbarrou com a oposição tenaz da Alemanha, da Holanda, da Finlândia e outros países. Não é o conteúdo das propostas de Atenas que está em causa. O governo de Tsipras capitulou totalmente, confirmando as previsões do KKE.
O impasse pantanoso das negociações de Bruxelas resulta das contradições que separam os membros do Eurogrupo, nomeadamente a Alemanha e a França. O governo de Merkel pretende excluir a Grécia do Euro.

Chile, Venezuela, Grécia

A consciência de que o capitalismo não encontra soluções para a crise estrutural que o atinge contribuiu para um aumento da agressividade imperialista.
Essa opção é transparente na estratégia dos EUA, dispostos a recorrer à violência contra os povos cujos governos não se submetem incondicionalmente ao seu projeto de dominação planetária.
O bloqueio a Cuba, as guerras de agressão contra o Iraque, o Afeganistão e a Líbia, a ajuda militar e politica às organizações terroristas sírias, o apoio às agressões do estado fascista de Israel e as ameaças ao Irão expressam com muita clareza essa política.
Nunca a solidariedade das grandes potências imperialistas em defesa da Ordem do Capital foi tão transparente.
A evolução da crise grega confere atualidade às lições do Chile. A resposta à opção socialista da Unidade Popular de Allende quando no poder participavam um partido socialista então marxista e o partido comunista foi um sanguinário golpe militar.
Transcorridos mais de 40 anos, desaparecida a URSS, o mundo, hegemonizado pelo capitalismo, é muito diferente.
Hoje é suficiente que um político no poder ouse contestar mesmo timidamente a ditadura do capital para ser encarado como inimigo do sistema.
Nas Honduras, Manuel Zelaya, o presidente constitucional, foi afastado por um golpe militar organizado na embaixada EUA. No Paraguai foi deposto um presidente que defendia tímidas reformas que desagradaram a Washington.
No Equador, Obama desejaria substituir Rafael Correa, um reformista neokeynesiano, por um oligarca neoliberal, submisso à Casa Branca. Os EUA aliás têm apoiado as tentativas golpistas contra o presidente Correa.
Na Venezuela, Bush e Obama montaram e financiaram, sem êxito, sucessivas conspirações para derrubar Hugo Chávez não obstante as estruturas do capitalismo permanecerem no país quase intactas. Falecido Chávez, uma campanha mediática massacrante satanizou o inofensivo “Socialismo do Século XXI” e o presidente Obama afirmou identificar no governo de Maduro uma intolerável “ameaça à segurança dos EUA”.
E na Bolívia, os tímidos matizes socializantes do Governo de Evo Morales incomodaram tanto Washington que o embaixador norte-americano organizou uma conspiração falhada cujo desfecho foi a sua expulsão de La Paz.

A alternativa é a revolução

Na confusão ideológica atual, estimulada por um sistema mediático manipulador, a submissão total da Grécia aos sacerdotes do capital veio confirmar – insisto – a impossibilidade da transformação profunda de sociedades capitalistas no âmbito do sistema, isto é, pela via institucional.?Mas, porventura se dissiparam as ilusões semeadas pelo Syriza e os demagogos populistas Tsipras e Varoufakis?
Não. Na Europa, forças políticas progressistas e alguns partidos comunistas, nomeadamente os do Partido da Esquerda Europeia, não obstante fixarem o socialismo como objetivo final, atuam no sistema como se algum dia fosse possível chegarem ao governo pela via eleitoral.
Obviamente no atual contexto europeu a conquista do poder através de uma revolução é uma impossibilidade a curto prazo. Existem em alguns países da União Europeia condições objetivas para rupturas revolucionárias. Mas faltam condições subjetivas.
Nem por isso são realistas os programas, por vezes muito ambiciosos, concebidos para uma transição no quadro de uma revolução democrática e nacional.
Em condições muito mais favoráveis do que as hoje vigentes, a revolução democrática e nacional portuguesa, inspirada nos valores de Abril, foi brutalmente interrompida por um golpe militar promovido pela burguesia com o apoio do imperialismo.
Alias, hoje, desaparecida União Soviética, as grandes potências da União Europeia recorreriam à violência se necessário, contra qualquer país membro que ousasse por em causa a ordem capitalista, no âmbito de uma revolução democrática e nacional.

Que fazer então?

As revoluções não são pré-datadas.
Ocorreram quase sempre em situações inesperadas, contra a própria lógica da História. Isso aconteceu com a Francesa de 1789,com as Russas de 1917, com a Chinesa, com a Cubana.
O Partido Comunista Grego oferece-nos o exemplo de uma organização revolucionaria que embora consciente de que não vai em tempo previsível tomar o poder no seu país, aliado a outras forças progressistas, luta com firmeza e coragem pela destruição do sistema capitalista no seu país. Pode discordar-se pontualmente de facetas da sua estratégia e do seu discurso, mas a sua coerência e tenacidade no combate inspiram em todo o mundo respeito e admiração aos comunistas.
As revoluções – repito – não têm data no calendário.
É minha convicção inabalável de que o capitalismo não tem soluções para a sua crise estrutural. Entrou numa lenta agonia que pode durar muitos anos.?O pólo hegemônico do sistema, os EUA, mantém com os seus aliados, uma enorme capacidade de desencadear guerras imperialistas. São manifestações de desespero. São guerras monstruosas que esbarram com uma resistência crescente dos povos vítimas desse terrorismo de estado.
A simultaneidade e a convergência dessas lutas e da luta de massas em muitos países podem ser decisivas para a desagregação do sistema, minado por contradições internas, podem provocar a sua derrota final. Nesse combate vejo como insubstituível a participação dos partidos comunistas revolucionários.
A alternativa será a construção do socialismo após uma fase de transição dolorosa, prolongada, diferente em cada país.
Uma certeza: a via institucional para o socialismo é uma impossibilidade histórica.
*jornalista e escritor português, colabora com Diálogos do Sul – Original de  O Diario.info de Lisboa, Portugal


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Miguel Urbano Rodrigues

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