Noam Chomsky aponta que “a eleição inteira revelou a fragilidade extrema da democracia estadunidense”. Explica na entrevista que deu para Truthout que ainda antes de Trump era evidente que o país se aproximava cada vez mais a uma oligarquia, onde os mais ricos já estavam no controle das decisões fundamentais do governo, já criando uma crise democrática.
A luta pela democratização do país tem sido constante desde suas origens até a presente data – essa luta que o historiador Howard Zinn revelou em sua obra, incluindo sua Outra História dos Estados Unidos – mas o assalto neofascista encabeçado por Trump é o atraque mais brutal contra as instituições e processos democráticos, e mais que isso, sobre as forças progressistas dentro e fora deste país, em tempos recentes.
Nunca um presidente questionou a legitimidade antes, durante e depois de uma eleição e menos ainda recusar a garantir o traslado pacífico do poder. Isso é o que gerou, por primeira vez, o debate sobre se houve, ou ainda há, uma tentativa de golpe de Estado. Trump ainda insiste, sem evidência alguma, que houve fraude massiva realizada através de uma conspiração entre democratas, o FBI, partes do Departamento de Justiça e “comunistas”, incluindo os cubanos e os venezuelanos. E três quartas partes dos eleitores de Trump acreditam nele.
Portanto, se espero que Trump nunca conceda a eleição, proclame que seu resultado é um governo “ilegítimo”, e que continua fazendo de tudo para desestabilizar o próximo regime, custe o que custar, ou seja, o assalto antidemocrático não acaba com o fim da presidência de Trump.
Mas este assalto contra o processo político-eleitoral não se explica sem o ataque em massa contra a democracia durante as últimas quatro décadas, sob o esquema neoliberal que começou com a eleição de Ronald Reagan e que tem sido o eixo do consenso bipartidário da cúpula política e econômica deste país desde então. Com isso, se tem visto o pior nível de injustiça econômica em quase um século, expressado na desigualdade econômica cada vez mais extrema – e ainda mais acelerado nos últimos anos – junto com o desmantelamento do estado de bem-estar social e a privatização de programas sociais de saúde, educação, e até de guerras e prisões – incluindo centros de detenção para imigrantes e suas crianças.
White House
Trump ainda insiste, sem evidência alguma, que houve fraude massiva realizada nas eleições.
O 0.1% mais rico duplicou sua fortuna desde o início do neoliberalismo há quatro décadas e agora controla 20% da riqueza nacional. Segundo um informe recente da Rand Corporation, aproximadamente $47 trilhões de dólares foram transferidos das classes trabalhadoras e médias (90% da população) aos mais ricos desde 1975 a 2018.
Robert Reich adverte que o que agora promete o presidente Joe Biden é um retorno à “normalidade”, mas “isso será desastroso para os Estados Unidos., O normal nos levou a Trump… normal são quatro décadas de salários estancados e crescente desigualdade quando quase todos os incrementos econômicos se destinaram para os de cima… Normal é também a crescente corrupção da política pelo grande dinheiro – um sistema econômico feito por e para os ricos”.
Por isso, um mosaico de movimentos e organizações sociais que foram chaves para frear o projeto neofascista de Trump entendem que a eleição foi só um passo em uma luta pela democratização dos Estados Unidos. Essa democratização do que antes se autoproclamava do “farol da democracia” – e que chegava a outros países para julgar e recomendar receita para ser mais como eles – agora requere da ajuda daqueles povos que têm lutado contra o neoliberalismo e a direita, ou seja, um movimento de solidariedade internacional para brindar apoio à luta pela democratização dos Estados Unidos.
O farol requer uma nova luz.
Cats & Dinosaurs, International SolidarityPaul Robeson “Joe Hill”, Flogging Molly “Times they Are a Changing”
La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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