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Andrei Belousov, novo ministro da Defesa, e Vladimir Putin, presidente da Rússia (Foto: Kremlin)

Rússia: bem-sucedida no front, estratégia militar vai se manter com novo ministro da Defesa

Novo responsável é o economista Andrei Belousov; Serguei Shoigu, que até domingo (12) encabeçava a pasta, segue para Conselho de Segurança
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

Beatriz Cannabrava

No último domingo (12), o presidente Vladimir Putin destituiu seu ministro da Defesa, Serguei Shoigu. Porém, o nomeou, por meio de decreto, secretário do influente Conselho de Segurança, em vez de Nikolai Patrushev, uma das pessoas mais próximas ao mandatário e que, em alguns dias, “receberá outro encargo”, e propôs como novo titular da dependência militar o economista Andrei Belousov.

Essas mudanças surpreenderam aqueles que acompanham de perto o trabalho político interno da Rússia, pois não estavam dentro das inevitáveis especulações que surgiram no mês de maio após a posse de Putin para um novo mandato presidencial e, no caso específico de Shoigu, as opiniões se dividiram: alguns consideravam improvável sua remoção em plena operação militar especial desde fevereiro de 2022 e outros estavam convencidos de que não poderia continuar à frente do ministério da Defesa, depois de tornar-se público o escândalo de corrupção que levou à prisão preventiva aguardando julgamento seu protegido Timur Ivanov, destituído de imediato como vice-ministro.

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Nenhuma previsão conseguiu antecipar o nome do sucessor de Shoigu, principalmente depois que Andrei Belousov parecia ter caído em desgraça ao perder o cargo de primeiro vice-primeiro-ministro, o segundo em hierarquia no governo, liderado por Mikhail Mishustin, que repete no cargo.

Quase todos concordam que a remoção de Shoigu não implica uma mudança de estratégia no exército, pois o general Valeri Guerasimov, chefe do Estado-Maior, é quem está à frente da operação na Ucrânia. Ao Putin colocar Belousov, um economista de sua inteira confiança, à frente da dependência militar, parece claro que sua função será colocar ordem nos fluxos milionários que o ministério administra, que, devido à operação na Ucrânia, tem o maior orçamento da história recente do país.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, explicou: “Hoje no campo de batalha vence quem está mais aberto à inovação, quem está mais aberto à instrumentação operacional (das decisões). E por isso o Presidente decidiu que nesta etapa um civil encabece o ministério da Defesa”. Peskov confirmou que o Estado-Maior do exército continuará cuidando da parte militar, o que é um respaldo a Guerasimov. O substituto de Belousov no governo, Denis Manturov, que era ministro da Indústria e Comércio, será o segundo a bordo no governo. Comenta-se que é uma pessoa muito próxima a Sergei Chemezov, antigo colega de Putin na estação do KGB soviético em Dresden (Alemanha Oriental), e atua como diretor-geral da corporação pública RosTej, que concentra a produção de armamento no país através de quase mil empresas.

Como antes…

Ao tirar Shoigu do ministério da Defesa, tudo indica que Putin agiu como fez em 2012 com seu antecessor, Anatoli Serdiukov, que se viu envolvido no escândalo de corrupção protagonizado por Yevguenia Vasilieva, então sua amante, que privatizou em benefício pessoal muitos edifícios e outras instalações militares. Assim como Vasilieva teve que passar um tempo na prisão, é provável que o mesmo aconteça com Ivanov, mas ao contrário de Serdiukov, que teve um problema adicional por estar casado com a filha de Viktor Zubkov, mais próximo de Putin do que ele, Shoigu, embora também tenha perdido a carteira, foi realocado para um cargo equivalente, à frente do Conselho de Segurança, mas menos exposto aos holofotes da mídia.

Não está claro para onde Putin vai realocar Patrushev, porque na pirâmide de poder não há mais cargos importantes do que o que ele deixa nas mãos de Shoigu. Mas não passou despercebido que sua saída do Conselho, após 16 anos à frente, poderia ter sido parte de um entendimento que inclui a ascensão a vice-primeiro-ministro de seu filho, Dmitry Patrushev, que era ministro da Agricultura. A propósito, quatro governadores de entidades federais serão ministros, entre eles, Sergei Tsiviliov, governador de Kemerovo, que assumirá a pasta de Energia e é casado com uma sobrinha de segundo grau de Putin.

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Salvo na Defesa, não haverá mudanças nos demais ministérios, assim como nas pastas-chave que dependem diretamente do presidente. Entre outros, repetem-se nas Relações Exteriores, Sergei Lavrov; no Interior, Nikolai Kolokoltsev; no FSB (Serviço Federal de Segurança), Alexander Bortnikov; no SVR (Serviço de Inteligência Exterior), Sergei Naryshkin; na Guarda Nacional, Viktor Zolotov; no FSO (Serviço Federal de Proteção), Dmitry Kochnev; na Justiça, Konstantin Chichenko; e nas Situações de Emergência, Alexander Kurenkov.

Efeitos da saída de Shoigu

As notícias que chegam do front confirmam que a remoção de Shoigu não influenciará uma mudança de estratégia na operação militar. Recentemente, a Rússia relatou a libertação de outras quatro pequenas localidades, continuando assim a ofensiva que o exército russo vem empreendendo há dias na região de Kharkiv, onde ocorrem combates intensos (palavras do presidente ucraniano, Volodymir Zelensky).

Os especialistas apontam duas explicações para o repentino interesse russo em avançar na região de Kharkiv, que já tinham ocupado nos primeiros meses do conflito armado e que os ucranianos recuperaram, enquanto a situação parece estabilizar-se em outras partes do frente, especialmente em Donetsk e Lugansk.

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Alguns apontam que o exército russo de fato deseja estabelecer uma espécie de zona de amortecimento para proteger Belgorod e outras regiões fronteiriças da Rússia contra as incursões de grupos paramilitares russos, qualificados de terroristas por Moscou, que lutam do lado da Ucrânia. Outros acreditam que o exército russo está ciente de que não poderá avançar o suficiente, mas os ataques visam distrair as forças do inimigo, o que certamente está ocorrendo com as tropas que o comando militar ucraniano está movendo de outros pontos do front.

Para tomar Kharkiv, a segunda cidade mais importante da Ucrânia em número de habitantes, com um milhão e duzentos mil habitantes, o exército russo – na opinião de especialistas – precisaria de pelo menos 300 mil soldados apenas para essa missão, o que neste momento parece não ter disponível, ao contrário de mísseis, bombas aéreas e projéteis de artilharia, que facilitam o avanço da infantaria após arrasar as localidades.

Recado de Lavrov

Ao comparecer nesta segunda-feira (13) perante os membros do Comitê de Assuntos Internacionais do Conselho da Federação (Senado), que por lei devem recomendar aos seus colegas da câmara alta a ratificação de Serguei Lavrov, proposto pelo presidente Vladimir Putin para continuar como ministro das Relações Exteriores, o chanceler da Rússia há 20 anos e dois meses advertiu o Ocidente de que “se quiser (resolver o conflito na Ucrânia) nos campos de batalha, assim será”.

Mas não se tratou de um discurso belicista para ameaçar os Estados Unidos e seus aliados que apoiam militar e financeiramente a Ucrânia, mas sim de uma forma de encerrar, com efeito, a única pergunta de um senador que o ministério considerou conveniente tornar pública da audiência realizada a portas fechadas.

E a pergunta se referia se a conferência convocada pelo Ocidente sobre a Ucrânia, a ser realizada em junho seguinte na Suíça, representa um perigo potencial para os interesses da política externa russa e como pensa contrariar “as intenções destrutivas do regime de Kiev e seus patrocinadores estrangeiros”.

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Na parte medular de sua resposta, Lavrov destacou: “Todos os que pretendem derrotar a Rússia no campo de batalha sem abandonar os métodos diplomáticos, como eles dizem, já estão falando há muito tempo sobre a conferência. No entanto, esses métodos diplomáticos, e a conferência na Suíça não é uma exceção, apenas continuam o chamado processo de Copenhague e se limitam a formular um ultimato à Rússia”.

Para deixar evidente, o chefe da diplomacia russa enfatizou: “Eles querem nos tratar como se fôssemos um mau aluno, colocado em apuros por não poder responder às perguntas dos membros do clero, que decidem tudo entre si, depois o chamam e anunciam que está reprovado: não se pode tratar ninguém assim, muito menos nós”.

Lavrov fez um repasse das iniciativas para alcançar um acordo político no conflito, formuladas pela China, África do Sul, Brasil, Liga Árabe, entre outros, e destacou que “a chinesa é a mais completa, pois enfatiza a detecção primeiro das causas do problema e, depois, a busca de entendimentos para erradicá-las”. E concluiu: “Se o Ocidente quiser lutar nos campos de batalha, é seu direito. A razão está do nosso lado. Se quiser (resolver o conflito na Ucrânia) nos campos de batalha, assim será”.

Ofensiva em Kharkiv

Entretanto, nesta segunda-feira a Rússia continuou a ofensiva que iniciou na última sexta-feira (10) na parte nordeste da região de Kharkiv, adjacente ao seu território, com ataques incessantes, pelo menos onze antes do meio-dia, com a intenção de entrar em Vovchansk, a localidade mais importante dessa zona fronteiriça, que fica a apenas 5 quilômetros do território russo e antes do conflito armado tinha cerca de 20 mil habitantes.

Desde então, depois de adentrar entre 5 e 6 quilômetros em território ucraniano em uma faixa de 30 quilômetros de largura, o exército russo colocou sob seu controle um certo número de pequenas aldeias entre a fronteira e Vovchansk, difícil de determinar pela informação contraditória fornecida pelos dois lados que não cessam de relatar constantes ataques e contra-ataques e afirmam estar causando baixas massivas ao inimigo.

Por outro lado, foi confirmada nesta segunda-feira a destituição de Yuri Galushkin, que era o chefe tático-operacional do exército ucraniano na região de Kharkiv. A partir de sábado, no dia seguinte ao exército russo conseguir romper a primeira linha de defesa e abrir uma nova frente, o vice-chefe do setor, Mikhailo Drapati, assumiu o cargo.

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Na imprensa ucraniana, deu-se a entender que Galushkin não ordenou levantar fortificações de defesa adequadas entre a fronteira e Vovchansk, o que permitiu o avanço das tropas russas, acusação que a administração militar de Kharkiv rejeitou ao esclarecer que sim foram construídas, mas de uma densidade menor do que em outras áreas devido ao constante fogo de artilharia russo.

Enquanto o comando russo aspira a tomar Vovchansk o mais rápido possível, a 70 quilômetros da cidade de Kharkiv, o ucraniano busca frear os ataques reforçando a área com unidades mobilizadas de outras partes da frente, aguardando o armamento de longo alcance estrangeiro que está prestes a chegar à Ucrânia.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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