“Espero que nunca apareça mais uma ditadura militar. Tentaram, né? No golpe do 8 de janeiro. Mas se isso acontecer, estarei na frente de luta novamente, enquanto a saúde me permitir. […] Se precisar, faço de novo, vou combater essa gente.”
A declaração é do ex-guerrilheiro Leopoldo Paulino e resume o espírito de resistência que atravessa toda sua trajetória. Músico, advogado, escritor, comunista e militante do PT, Paulino viveu o golpe militar de 1964 e, desde então, dedica sua vida à luta contra o autoritarismo.
No programa “Dialogando com Paulo Cannabrava” desta terça-feira, 8 de abril, ele falou da ameaça de uma nova ditadura que ainda ronda o Brasil e criticou a falta de ação do atual governo: “Lula não compra essa briga, e isso é perigoso até para ele”, alerta.
Paulino conta como, ainda adolescente, se uniu à militância comunista e à Ação Libertadora Nacional (ALN), organização comandada por Carlos Marighella. Preso e torturado, ele se exilou em países como Chile, Panamá e Argentina, onde seguiu lutando até retornar semiclandestino ao Brasil em 1974, cinco anos antes da anistia. “Eu não sou ex-guerrilheiro, eu sou guerrilheiro sempre. Essa história é a minha vida”, afirma.
Durante a conversa, Paulino defendeu a importância da mobilização popular: “A esquerda se acomodou no governo. O PT participa muito pouco das manifestações. Está faltando ir para a rua”, critica. Para ele, o conservadorismo crescente no Congresso e a ofensiva da extrema-direita exigem reação imediata: “O povo precisa exigir um posicionamento contra qualquer golpe. Essa gente já mostrou que está pronta para tentar de novo.”

O militante também alerta para a tentativa de anistiar os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro. “Eles não são presos políticos. Foram julgados pelas leis penais comuns. E agora querem ser tratados como vítimas? Isso é um absurdo.” Paulino responsabiliza ainda Jair Bolsonaro como o verdadeiro chefe da tentativa de golpe: “É um fascista, comandante da tentativa de ruptura. Precisa responder na justiça.”
Paulino é autor do livro e projeto educativo “Tempo de Resistência”, que inclui musical e palestras em escolas. A iniciativa já alcança mais de 10 mil estudantes. “A juventude quer saber, sim. Só não se interessa porque não lhe é oferecido. Falta educação popular, memória e verdade”, defende.
Ao final da entrevista, ele reforçou seu compromisso com a história e com as novas gerações. “Tenho orgulho do que vivi. Participei da luta armada, fui preso, exilado. Vi companheiros morrerem. E se hoje surgisse uma nova ditadura, estaria de novo na linha de frente.”
A entrevista completa está disponível no canal da TV Diálogos do Sul Global no YouTube: