Pesquisar
Pesquisar
Foto: Gustavo Petro / Facebook

Violação dos acordos de paz: entenda por que Petro vai denunciar a própria Colômbia na ONU

"O Estado colombiano perderá credibilidade perante o mundo, não apenas perante os senhores armados com os quais se firmou a paz", afirmou o presidente colombiano
Jorge Enrique Botero
La Jornada
Bogotá

Tradução:

Beatriz Cannabrava

O presidente Gustavo Petro anunciou, nesta terça-feira (14), que irá ao próximo período de sessões do Conselho de Segurança das Nações Unidas para denunciar o Estado colombiano por impedir a implementação do acordo de paz de 2016 com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).

Durante a posse de uma alta funcionária judicial, Petro declarou que “o presidente da República terá que ir pessoalmente à ONU para dizer que definitivamente o Estado da Colômbia não quer cumprir o acordo de paz que assinou. Não posso dizer mentiras”.

Leia também | Descumprimento de acordos coloca em risco processo de paz na Colômbia

Visivelmente irritado ante a avalanche de obstáculos que as forças tradicionais estão semeando para sabotar tanto seu pacote de reformas sociais quanto a execução do pacto de paz de 2016 – que envolve uma profunda reforma agrária, a transformação dos territórios historicamente esquecidos e a verdade judicial sobre o que ocorreu em quase seis décadas de guerra – o chefe de Estado alertou sobre as consequências de descumprir um acordo garantido, entre outros órgãos, pela ONU. “O Estado colombiano perderá credibilidade perante o mundo, não apenas perante os senhores armados com os quais se firmou a paz“, disse.

Além do Conselho de Segurança, são garantidores do pacto de paz de 2016 a Noruega, Cuba, México e Venezuela, países que acompanharam durante mais de cinco anos as negociações realizadas em Havana.

Inquietações

Diante da inquietante situação de um chefe de Estado anunciar que acusará o Estado que ele preside perante a ONU, o cientista político Horácio Duque lembrou que os governos de Juan Manuel Santos (2010-2018), signatário do acordo, e de Iván Duque (2018-2022) não só descumpriram o pactuado como se dedicaram a destruir seu conteúdo, no caso de Duque, executando ao pé da letra o anunciado durante a campanha eleitoral de que “fariam em pedaços” o tratado de paz.

“A ideia que o presidente Petro transmite com seu anúncio é a de que há um bloqueio institucional, um Estado sequestrado pelos grandes poderes tradicionais que se interpõem a qualquer sinal de reforma porque estão acostumados a viver da guerra”, comentou Duque ao La Jornada.

Leia também | Colômbia: Petro indicado ao Nobel da Paz é reconhecimento aos esforços por “paz total”

Contatado por este jornal, Julián Gallo, senador pelo partido Comunes, surgido dos acordos com as extintas FARC, saudou a iniciativa de Petro de informar à ONU “sobre os obstáculos que os poderes fáticos da velha institucionalidade impõem à implementação da paz” e sugeriu ao presidente Petro que viaje ao próximo ciclo de sessões do Conselho de Segurança acompanhado do porta-voz da alta parte contratante do acordo de 2016, Rodrigo Londoño, presidente da Comunes.

Por sua vez, o ex-comissário de paz Danilo Rueda considerou que ao presidente assiste a razão quando evidencia o cerco que os velhos inimigos da paz têm feito para dificultar a execução do pacto de 2016 e considerou que é hora de pensar em uma reestruturação do acordado para “colocar o acordo em sintonia com as novas realidades do país, cujo governo elevou a questão da paz a uma política de Estado“.

A dois meses de completar metade de seu mandato, o presidente Petro mantém uma estratégia denominada Paz Total, que busca – por meio da negociação política – encerrar o confronto armado com três forças guerrilheiras que ainda operam em várias regiões do país: o Exército de Libertação Nacional (ELN) e duas dissidências das extintas FARC conhecidas como Segunda Marquetalia e Estado Maior Central, que não aderiram ou renunciaram ao acordo de paz firmado com o governo Santos.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jorge Enrique Botero Jornalista, escritor, documentarista e correspondente do La Jornada na Colômbia, trabalha há 40 anos em mídia escrita, rádio e televisão. Também foi repórter da Prensa Latina e fundador do Canal Telesur, em 2005. Publicou cinco livros: “Espérame en el cielo, capitán”, “Últimas Noticias de la Guerra”, “Hostage Nation”, “La vida no es fácil, papi” y “Simón Trinidad, el hombre de hierro”. Obteve, entre outros, os prêmios Rei da Espanha (1997); Nuevo Periodismo-Cemex (2003) e Melhor Livro Colombiano, concedido pela fundação Libros y Letras (2005).

LEIA tAMBÉM

Presidente colombiano Gustavo Petro enfrenta escândalo de corrupção envolvendo altos funcionários
Presidente colombiano Gustavo Petro enfrenta escândalo de corrupção envolvendo altos funcionários
GSsXOjIXgAA0ChY
Gustavo Petro assina reforma da previdência para melhorar condições dos idosos na Colômbia
Niegan-libertad-condicional-a-Salvatore-Mancuso
Pânico: Elites colombianas temem que Salvatore Mancuso exponha segredos como massacres, deslocamentos e assassinatos seletivos
Petro
Governo da Colômbia lança plano de choque para implementar acordos de paz de 2016