O presidente Gustavo Petro anunciou, nesta terça-feira (14), que irá ao próximo período de sessões do Conselho de Segurança das Nações Unidas para denunciar o Estado colombiano por impedir a implementação do acordo de paz de 2016 com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).
Durante a posse de uma alta funcionária judicial, Petro declarou que “o presidente da República terá que ir pessoalmente à ONU para dizer que definitivamente o Estado da Colômbia não quer cumprir o acordo de paz que assinou. Não posso dizer mentiras”.
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Visivelmente irritado ante a avalanche de obstáculos que as forças tradicionais estão semeando para sabotar tanto seu pacote de reformas sociais quanto a execução do pacto de paz de 2016 – que envolve uma profunda reforma agrária, a transformação dos territórios historicamente esquecidos e a verdade judicial sobre o que ocorreu em quase seis décadas de guerra – o chefe de Estado alertou sobre as consequências de descumprir um acordo garantido, entre outros órgãos, pela ONU. “O Estado colombiano perderá credibilidade perante o mundo, não apenas perante os senhores armados com os quais se firmou a paz“, disse.
Além do Conselho de Segurança, são garantidores do pacto de paz de 2016 a Noruega, Cuba, México e Venezuela, países que acompanharam durante mais de cinco anos as negociações realizadas em Havana.
Inquietações
Diante da inquietante situação de um chefe de Estado anunciar que acusará o Estado que ele preside perante a ONU, o cientista político Horácio Duque lembrou que os governos de Juan Manuel Santos (2010-2018), signatário do acordo, e de Iván Duque (2018-2022) não só descumpriram o pactuado como se dedicaram a destruir seu conteúdo, no caso de Duque, executando ao pé da letra o anunciado durante a campanha eleitoral de que “fariam em pedaços” o tratado de paz.
“A ideia que o presidente Petro transmite com seu anúncio é a de que há um bloqueio institucional, um Estado sequestrado pelos grandes poderes tradicionais que se interpõem a qualquer sinal de reforma porque estão acostumados a viver da guerra”, comentou Duque ao La Jornada.
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Contatado por este jornal, Julián Gallo, senador pelo partido Comunes, surgido dos acordos com as extintas FARC, saudou a iniciativa de Petro de informar à ONU “sobre os obstáculos que os poderes fáticos da velha institucionalidade impõem à implementação da paz” e sugeriu ao presidente Petro que viaje ao próximo ciclo de sessões do Conselho de Segurança acompanhado do porta-voz da alta parte contratante do acordo de 2016, Rodrigo Londoño, presidente da Comunes.
Por sua vez, o ex-comissário de paz Danilo Rueda considerou que ao presidente assiste a razão quando evidencia o cerco que os velhos inimigos da paz têm feito para dificultar a execução do pacto de 2016 e considerou que é hora de pensar em uma reestruturação do acordado para “colocar o acordo em sintonia com as novas realidades do país, cujo governo elevou a questão da paz a uma política de Estado“.
A dois meses de completar metade de seu mandato, o presidente Petro mantém uma estratégia denominada Paz Total, que busca – por meio da negociação política – encerrar o confronto armado com três forças guerrilheiras que ainda operam em várias regiões do país: o Exército de Libertação Nacional (ELN) e duas dissidências das extintas FARC conhecidas como Segunda Marquetalia e Estado Maior Central, que não aderiram ou renunciaram ao acordo de paz firmado com o governo Santos.