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Foto: Cristina Rodríguez / La Jornada

38 anos de prisão e multa de US$ 2 mi: conheça detalhes do julgamento de García Luna nos EUA

Ex-secretário de Segurança Pública do México, García Luna teve sentença decretada em um tribunal de Nova York nesta quinta-feira (16)
David Brooks, Jim Cason
Diálogos do Sul Global
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Genaro García Luna, ex-secretário de Segurança Pública e o funcionário mexicano de mais alto escalão já julgado nos Estados Unidos, foi condenado nesta quarta-feira (16) a pouco mais de 38 anos (460 meses) de prisão, evitando a pena máxima de prisão perpétua solicitada pelos promotores do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, mas quase o dobro do que foi solicitado pelos advogados de defesa. A sentença também inclui uma multa de 2 milhões de dólares.

“Você é culpado desses crimes”, declarou o juiz federal Brian Cogan, ao olhar fixamente o acusado, sentado na mesa da defesa e recusando o argumento do réu, oferecido pouco antes, de que ele não era um criminoso. Embora, argumentou, García Luna “não apertasse o gatilho, era um facilitador” e, portanto, tem ampla responsabilidade pelas ações violentas do cartel de Sinaloa. “O senhor”, afirmou, “tem o mesmo comportamento bruto que El Chapo” – Cogan presidiu o julgamento de Joaquín El Chapo Guzmán Loera neste mesmo tribunal – “apenas se expressa de maneira diferente”.

O juiz considerou que García Luna não era só mais um criminoso, mas que tinha seu “lado bom”, e, por isso, não impôs a pena máxima de prisão perpétua, mas algo menor para oferecer “um pouco de luz no fim do túnel”. No entanto, enfatizou que García Luna era “um exemplo de uma vida dupla”, onde talvez ele mesmo acreditasse em sua imagem de homem ético que cumpria seus deveres de maneira positiva, mas que, ao mesmo tempo, era cúmplice do narcotráfico. “Você se autoenganou”, sublinhou. Acusou que sua imagem de guardião da lei e suas condecorações eram “uma cortina de fumaça” para encobrir os crimes que cometeu, causando enormes danos ao seu país. “O senhor tem uma vida dupla… Uma de suas vidas causou prejuízo a tantas pessoas”, sustentou.

Cogan declarou que a sentença deveria “enviar uma mensagem aos funcionários públicos” de que eles não podem ficar impunes se violam suas responsabilidades.

O juiz ditou a condenação depois que a promotoria e a defesa reiterarem seus argumentos pela sentença máxima e mínima, respectivamente, como resultado de um julgamento de quatro semanas, no qual García Luna foi declarado culpado por um júri em 21 de fevereiro de 2023 de todas as cinco acusações de narcotráfico contra ele.

O caso girou em torno da acusação de que ele recebeu milhões de dólares do cartel de Sinaloa em troca de proteção entre 2001 e 2012, quando ocupava os cargos de secretário de Segurança Pública durante o governo de Felipe Calderón e como chefe da Agência Federal de Investigação no mandato de Vicente Fox.

EUA pedem perpétua a García Luna por considerá-lo culpado por overdoses entre estadunidenses

Os promotores federais, que haviam solicitado prisão perpétua antes da sentença desta quarta, junto à promotora adjunta Saritha Komatireddy acusaram García Luna de “facilitar o cartel, ajudar o cartel, ele era o cartel” e que, por isso, “tem sangue nas mãos”, e expressaram satisfação com a decisão do juiz, apesar de não terem alcançado seu objetivo.

“A sentença ditada contra Genaro García Luna é um passo fundamental na defesa da justiça e do Estado de direito. Sua traição à confiança pública e às pessoas que ele havia jurado proteger resultou na importação de mais de um milhão de quilos de entorpecentes letais em nossas comunidades e desencadeou uma violência incalculável aqui e no México. Esta sentença envia uma mensagem contundente de que ninguém, independentemente de sua posição ou influência, está acima da lei”, declarou o promotor dos Estados Unidos, Breon Peace. “Depois de anos de engano e narcotráfico destrutivo, García Luna passará quase 40 anos onde deve estar: em uma prisão federal”, concluiu.

Anne Milgram, administradora da DEA, declarou que a sentença emitida pelo juiz “envia uma mensagem clara aos líderes corruptos de todo o mundo que utilizam suas posições de poder para ajudar os cartéis: nenhum poder os protegerá da justiça… Em vez de proteger os cidadãos do México, García Luna protegia os cartéis de drogas.”

García Luna enviou carta ao juiz

García Luna, vestido como civil com terno e calça azul-marinho, camisa branca e gravata roxa, aceitou o convite do juiz para falar antes de sua sentença e assinalou: “é a primeira vez que falo publicamente sobre este caso” e insistiu que “não cometi esses crimes”. Reiterou o que havia expressado na carta enviada ao juiz esta semana e repetiu sua acusação de que seu julgamento foi realizado com base em “informações falsas oferecidas pelo governo do México e sua cumplicidade com o narcotráfico contra mim”.

A equipe de advogados de defesa, liderada por César de Castro, argumentou que uma pena de 20 anos era “suficiente” para um acusado que “já perdeu tanto” e que tem sido um “réu modelo”. De Castro informou aos jornalistas ao sair do tribunal que apelará da sentença, um processo que pode prolongar o caso.

Além disso, embora o advogado não tenha mencionado, existe a possibilidade de uma negociação com o Departamento de Justiça para reduzir a sentença em troca de sua cooperação para identificar outros envolvidos no negócio ilícito de drogas durante os mandatos de Fox e Calderón.

Embora esta quarta-feira possa ter marcado o fim do caso de García Luna, começa o que pode ser a longa odisseia penal de Ismael El Mayo Zambada García, nesta sexta-feira (18), na primeira audiência preliminar de seu caso neste mesmo tribunal federal e perante o mesmo juiz.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.
Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

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