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Foto: Texas Military Department / Facebook

Além de eleitoreira, decisão de fechar fronteira é punição de Biden contra imigrantes

Segundo União Estadunidense de Liberdades Civis (ACLU), medida de Biden "ecoa" a proibição de entrada emitida por Trump em 2018
Redação Página 12
Página 12
Buenos Aires

Tradução:

Ana Corbisier

O presidente estadunidense, Joe Bidenordenou nesta terça-feira (4) novas restrições à entrada de imigrantes a fim de reforçar a fronteira entre os Estados Unidos e o México, uma medida drástica perto das eleições presidenciais de novembro. A gestão da migração tornou-se um tema central para os eleitores, superando a economia e a inflação, segundo uma pesquisa da consultoria Gallup publicada no final de abril. Buscando distanciar-se do ex-mandatário e pré-candidato presidencial Donald Trump, Biden disse que nunca “demonizará” os migrantes e prometeu trabalhar com o México como um “sócio igualitário”.

Fechamento temporário da fronteira

Biden anunciou o fechamento temporário da fronteira com o México quando o número de entradas irregulares no país superar o patamar de 2.500 casos em um mesmo dia, algo que já está sucedendo nos Estados Unidos. O decreto assinado pelo mandatário democrata permite às autoridades suspenderem a entrada de solicitações de asilo e imigrantes quando for superado este limite, e facilita as deportações para o México. A fronteira será reaberta quando a quantidade diária de solicitantes for inferior a 1.500 pessoas.

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“Esta ação nos ajudará a recuperar o controle de nossa fronteira”, afirmou Biden em um discurso na Casa Branca, acrescentando: “Vamos continuar trabalhando com nossos vizinhos mexicanos em lugar de atacá-los, e construiremos uma relação forte”. O presidente prometeu que continuará colaborando com o México como “um sócio igualitário”, lembrando que na segunda-feira falou por telefone com a vencedora das eleições de domingo passado no México, Claudia Sheinbaum, que será a primeira mulher a governar o país.

Biden se defende e compara Trump a Hitler

O líder democrata focou parte de seu discurso em tentar distinguir-se de Trump, que há alguns meses ordenou a seus correligionários republicanos no Congresso que votassem contra um projeto de lei negociado por ambos os partidos e que incluía algumas das provisões anunciadas pela ordem executiva. Biden referiu-se a esta decisão dos republicanos mais trumpistas qualificando-a de “movimento político extremamente cínico”.

Biden também aproveitou para defender-se das fortes críticas que a ordem recebeu por parte de alguns legisladores democratas, e disse que acredita que “a imigração sempre foi um salva-vidas na América”. “De modo que nunca demonizarei os imigrantes. Nunca me referirei a eles como um veneno no sangue de nosso país”, advertiu, referindo-se a Trump, que declarou que estão “envenenando o sangue do país”, ecoando palavras usadas por Adolf Hitler.

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“Nunca separarei as famílias de seus filhos na fronteira, nunca proibirei a entrada no país de um grupo de pessoas por suas crenças religiosas”, acrescentou Biden em alusão às políticas implementadas por Trump para separar famílias na fronteira ou vetar a entrada de cidadãos de países de maioria muçulmana. O mandatário busca mudar sua política migratória depois que as pesquisas de opinião revelaram que este assunto terá muito peso nas eleições presidenciais.

A reação de Trump

A equipe de campanha de Trump desconsiderou em um comunicado a iniciativa afirmando que não está projetada “para a segurança fronteiriça”, e repetiu a mensagem do republicano que constantemente insiste em que os imigrantes irregulares são responsáveis pelo aumento dos delitos violentos nos Estados Unidos, uma acusação que não tem base em dados oficiais.

O magnata passou seu mandato anunciando sua intenção de construir um muro na fronteira com o México, e agora intensificou sua retórica anti-imigração para voltar à Casa Branca. “Milhões de pessoas ingressaram em nosso país, e agora, depois de quase quatro anos de sua liderança débil e falida, sua liderança patética, o corrupto Joe Biden pretende finalmente fazer algo a respeito da fronteira”, exclamou Trump, de 77 anos, em um vídeo publicado em sua rede Truth Social.

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Mais de 2,4 milhões de migrantes cruzaram a fronteira sul dos Estados Unidos somente em 2023. A maior parte vem da América Central e da Venezuela, fugindo da pobreza, da violência e dos desastres naturais intensificados pela mudança climática. A cifra alcançou um recorde de 10 mil pessoas por dia em dezembro, se bem que este número caiu nos últimos meses.

“Ação punitiva para os imigrantes” 

O governo de Biden tentou frear os cruzamentos trabalhando em coordenação com o México e outros países para reduzir os fluxos migratórios mediante políticas econômicas e aplicação de leis mais restritivas, mas as pesquisas revelam que para os eleitores ele não fez o suficiente. A ordem executiva gerou uma onda de críticas por parte de ativistas, que comparam a medida às ações do governo de Trump.

Um dos primeiros a reagir foi a organização União Estadunidense de Liberdades Civis (ACLU, em inglês), que advertiu em um comunicado que a ordem “ecoa” a proibição de entrada emitida por Trump em 2018. A ACLU anunciou que impugnará a ordem executiva na Corte Suprema, tal como fez em 2018 quando conseguiu deter uma medida similar emitida pelo governo de Trump. Para Angélica Salas, diretora da Coalizão pelos Direitos Humanos dos Imigrantes (CHIRLA), a iniciativa representa um dano irreversível para os solicitantes de asilo a quem se negue a entrada. “É uma ação política e punitiva com os imigrantes e lutaremos contra ela na justiça”, assegurou Salas.

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O repúdio à medida chegou até de aliados de Biden como o senador pela Califórnia, Alex Padilla. “Ao reviver a proibição de asilo de Trump, o presidente Biden socava os valores estadunidenses e abandona as obrigações de nossa nação de dar às pessoas que fogem da perseguição, da violência e do autoritarismo a oportunidade de buscar refúgio nos Estados Unidos”, disse Padilla em um comunicado.

Página/12, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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