Pesquisar
Pesquisar

Guerra sem fim: Colômbia perpetua assassinatos de lideranças sociais e ex-guerrilheiros

Com o equivalente a um assassinato por dia, sob o governo de Iván Duque o país experimenta um retrocesso no processo de pacificação
Beatriz Contelli
Diálogos do Sul Global
Bogotá

Tradução:

Extrema desigualdade, obstáculos à participação política, disputa entre neoliberalismo e aspirações populares, política de “guerra às drogas” e extrativismo ainda é pouco para explicar o cenário conturbado que o país mais desigual da América Latina quanto à distribuição de terras (Oxfam, 2017) enfrenta diante do massacre diário de lideranças sociais e ex-guerrilheiros. 

Firmado em 2016, o Acordo de Paz entre as Farc e o Estado colombiano contemplava pontos como reforma rural integral, abertura democrática para a paz, luta contra as drogas e um sistema de Verdade, Justiça e Reparação para as vítimas de atentados.

Grupos que se beneficiam da pobreza e da precarização do povo se articularam para atrasar o processo de implementação do Acordo, o que trouxe graves consequências para os cidadãos, principalmente aqueles envolvidos em movimentos sociais ou ex-combatentes.

Segundo pesquisa da Indepaz, desde o início do governo do presidente Iván Duque em 2018, já foram registrados 573 assassinatos de ativistas colombianos.

Sobre o tema
Massacres, cinismo e misoginia: Colômbia sofre com violência escondida pelo Estado

Outro informe expõe que os paramilitares também são acusados por movimentos sociais como responsáveis por crimes que vitimaram 267 líderes sociais e ex-combatentes no ano passado.

Leia também
Colômbia: FARC exige fim do extermínio de ex guerrilheiros, indígenas e líderes sociais

Apenas em quatro meses de 2021, 43 pessoas foram assassinadas na Colômbia, o que equivale a um assassinato por dia.

Na última terça-feira (06), o líder da Associação de Camponeses do Norte de Antioquia, Albeiro Hoyos, foi assassinado. A região, ao lado de Cauca, Nariño, Valle e Norte de Santander concentram 60% dos casos de homicídios

Com o equivalente a um assassinato por dia, sob o governo de Iván Duque o país experimenta um retrocesso no processo de pacificação

Telesur
Desde o início do governo do presidente Iván Duque em 2018, já foram registrados 573 assassinatos de ativistas colombianos

Terrorismo de estado

Com um verdadeiro terrorismo de Estado, a Colômbia impõe o medo aos cidadãos por meio dos interesses das transnacionais, da instalação de bases militares norte-americanas, da pobreza extrema na zona rural – especialmente entre a população afrodescendente e indígena – e da precarização do trabalho.

A escalada da violência é acompanhada pelo incremento das atividades ilícitas no campo. Em 2019, o país alcançou um recorde de produção de cocaína, com cerca de 212 mil hectares cultivados.

Os grupos irregulares que controlam as plantações de narcóticos se localizam justamente nas zonas com os maiores índices de homicídios.

A violência estatal também produz na Colômbia um contingente cada vez maior de refugiados e migrantes. De acordo com a Defensoria Pública do país, até agora mais de 11 mil pessoas foram deslocadas de suas casas por conta de conflitos entre grupos armados.

Leia também
Gerardo Szalkowicz | E se falarmos sobre os Direitos Humanos na Colômbia?

Sob a forma de “guerra às drogas”, a Colômbia, apoiada pelos Estados Unidos, encobre seu verdadeiro objetivo de sufocar as lutas populares e ter à disposição os recursos energéticos de mineração, a biodiversidade andino-amazônica e a miséria do povo.

A aspiração petit yankee

Não é segredo pra ninguém que os Estados Unidos e seus aliados colombianos consideram imprescindível uma derrota do setor popular.

Em 2009, ainda no governo de Álvaro Uribe e Barack Obama, os países assinaram um acordo militar que previa o livre acesso dos EUA a sete bases militares em território colombiano.

Saiba+
Vínculos com narcotráfico e EUA: quem é Álvaro Uribe, ex-presidente da Colômbia?

Funcional para os capitalistas estadunidenses, foram desenvolvidas condições para as classes dominantes e as Forças Armadas favorecerem planos imperialistas no país e na América do Sul.

Como se já não bastasse o primeiro Plano Colômbia – apresentado no início deste século – que afirmava o fornecimento por parte dos Estados Unidos de helicópteros, artilharia e apoio aos corpos policiais colombianos, em agosto de 2020 os dois governos lançaram o Plano Colômbia Cresce, que propõe outra parceria militar para supostamente combater o narcotráfico e grupos armados insurgentes.

Leia também
Vitória de Biden para Colômbia: novas formas e métodos do poder imperialista dos EUA

Ao anunciar o Colômbia Cresce, Duque autorizou a entrada de mais tropas militares estadunidenses, sem passar pelo aval do parlamento. O que reafirma a vontade fervorosa que alguns burgueses latino-americanos têm em se igualarem a imperialistas

* Beatriz Contelli é estudante de jornalismo e colabora com a revista Diálogos do Sul


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na Tv Diálogos do Sul

 

   

Se você chegou até aqui é porque valoriza o conteúdo jornalístico e de qualidade.

A Diálogos do Sul é herdeira virtual da Revista Cadernos do Terceiro Mundo. Como defensores deste legado, todos os nossos conteúdos se pautam pela mesma ética e qualidade de produção jornalística.

Você pode apoiar a revista Diálogos do Sul de diversas formas. Veja como:


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Beatriz Contelli

LEIA tAMBÉM

Visita de Macron à Argentina é marcada por protestos contra ataques de Milei aos direitos humanos
Visita de Macron à Argentina é marcada por protestos contra ataques de Milei aos direitos humanos
Apec Peru China protagoniza reunião e renova perspectivas para América Latina
Apec no Peru: China protagoniza reunião e renova perspectivas para América Latina
Cuba luta para se recuperar após ciclone, furacão e terremotos; entenda situação na ilha (4)
Cuba luta para se recuperar após ciclone, furacão e terremotos; entenda situação na ilha
Reeleição blinda Trump de processos e abre caminho para indulto a invasores do Capitólio
Reeleição blinda Trump de processos e abre caminho para indulto a invasores do Capitólio