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ToggleA crise de 2008 revelou as fragilidades do sistema financeiro global e gerou questionamentos sobre o FMI e o Banco Mundial. Nesse contexto, o Brics emergiu como um grupo relevante na reestruturação da ordem econômica global. Defendendo maior representatividade dos países em desenvolvimento, o agrupamento criou iniciativas como o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês New Development Bank), para promover alternativas ao financiamento global.
A instituição financeira, conhecida como Banco do Brics, foi fundada oficialmente em 2014 durante a 6ª Cúpula dos Brics, em Fortaleza, Brasil, e surgiu como uma iniciativa de vanguarda para impulsionar o crescimento econômico e o desenvolvimento sustentável entre os países do Sul Global. O NDB foi criado pelos membros fundadores do Brics — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — e destaca-se como uma alternativa às tradicionais instituições multilaterais e uma resposta à necessidade de financiamento de longo prazo para projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável nos países que integram o agrupamento, bem como outras nações emergentes.
O Acordo de Fortaleza, firmado em 2014, estabeleceu os pilares do banco, cujo principal objetivo é mobilizar recursos para projetos que promovam a sustentabilidade e melhorem a qualidade de vida das pessoas. O NDB passou a funcionar em 2016, com sede em Xangai, na China.
Desde sua criação, o Banco do Brics aprovou mais de 32,8 bilhões de dólares em financiamentos em projetos no Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Bangladesh e Egito. Entre os destaques, estão iniciativas como a expansão de redes de energia renovável na Índia, o desenvolvimento de infraestrutura ferroviária na África do Sul e o fortalecimento de sistemas de abastecimento de água no nordeste brasileiro. O impacto da atuação nas economias emergentes permite a expansão de membros, que pode ampliar a base de capital do banco, hoje avaliada em 100 bilhões de dólares, e atrair mais investimentos globais.
Somente para o Brasil foram cerca de 5,2 bilhões de dólares para 31 projetos. Essas ações atendem demandas locais e também contribuem para metas globais, como a transição energética e o enfrentamento à mudança do clima. Ainda em solo brasileiro, o banco já financiou projetos significativos como o fortalecimento da matriz energética limpa, por meio de investimentos em usinas solares e eólicas. Essas iniciativas ampliam a segurança energética nacional e posicionam o Brasil como um líder potencial na transição para uma economia de baixo carbono.
Governança estratégica

A ex-presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, assumiu a presidência do NBD em março de 2023. Ela foi indicada pelo atual presidente do país, Luiz Inácio Lula da Silva. A governança do banco é baseada em um Conselho de Governadores, um Conselho de Diretores e uma equipe executiva composta por um presidente e quatro vice-presidentes, representando os cinco países fundadores. A presidência é rotativa, garantindo a participação equitativa de todos os membros na liderança da instituição.
Na cerimônia de posse da presidenta Dilma no comando do NDB, o presidente Lula falou sobre a importância histórica de uma mulher à frente de uma instituição financeira global de grande porte. Lula lembrou a trajetória de Dilma como uma líder que lutou por justiça social e enfatizou que o banco surgiu como uma ferramenta essencial para reduzir desigualdades entre países ricos e em desenvolvimento.
Quais as prioridades do Brasil durante a presidência do Brics em 2025?
O presidente brasileiro destacou o papel do banco na ampliação do financiamento para projetos estratégicos, como infraestrutura, sustentabilidade e adaptação às mudanças do clima, sem a imposição de condicionalidades dos bancos tradicionais.
“A criação deste banco demonstra que a união entre países emergentes tem o potencial de promover mudanças sociais e econômicas significativas para o mundo. Nosso objetivo não é sermos melhores do que ninguém, mas garantir oportunidades para expandirmos nossas potencialidades e oferecer dignidade, cidadania e qualidade de vida aos nossos povos”, declarou.
A relevância do Brics e o papel do NDB
O professor Evandro Menezes de Carvalho, especialista em Direito Internacional e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ), destaca a crescente relevância do Brics no cenário global. Com a entrada de novos membros como Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Indonésia, o grupo agora representa cerca de 41% da população mundial e 37% do PIB global em paridade de poder de compra. Segundo o professor, essa representatividade fortalece a legitimidade do Brics nas decisões internacionais, especialmente em debates sobre a reforma da governança econômica global.
“O Brics tem demonstrado sua relevância por meio de iniciativas significativas, incluindo a recente ampliação de membros plenos e associados, bem como o crescente interesse de outros países em integrar o grupo. Desde sua origem, o Brics se posiciona como um agente reformador da governança global. Seu objetivo central é a reforma das organizações internacionais, buscando ampliar a participação dos países emergentes nos processos de tomada de decisão. Essa demanda por maior representatividade está expressa em todas as declarações das cúpulas do grupo”, observa Evandro.
Quais as prioridades do Brasil durante a presidência do Brics em 2025?
O Novo Banco de Desenvolvimento é apontado como a principal iniciativa do Brics. Criado para suprir a necessidade de financiamento de longo prazo em infraestrutura e desenvolvimento sustentável, o NDB se diferencia por não impor as condicionalidades típicas de instituições como o FMI e o Banco Mundial. O especialista da FGV ressalta que o banco se destaca pela agilidade na concessão de empréstimos e pelo foco em projetos que promovem o desenvolvimento verde e a inclusão social.
Os desafios do Banco do Brics
Apesar do crescimento recente, o NDB enfrenta desafios como a necessidade de expandir a base de membros e aumentar a influência global. A recente adesão de Bangladesh, Egito e Emirados Árabes Unidos reforça a ambição de se tornar um ator relevante no sistema financeiro internacional. Com um modelo de governança robusto, o banco pode desempenhar um papel essencial na transformação das economias emergentes, ampliando o acesso a financiamento para projetos estratégicos.
O professor Evandro também enfatiza a agenda política do Brics, que busca reformar a governança global para aumentar a representatividade dos países em desenvolvimento em instituições como FMI, Banco Mundial e ONU. Para consolidar seu papel, segundo o professor, o Brics precisa de uma institucionalização mínima, incluindo a criação de uma secretaria permanente que garanta transparência e continuidade nas decisões do grupo. Isso ajudaria a fortalecer sua legitimidade e a evitar críticas de que o bloco atua como uma organização anti-ocidental.
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O NDB tem se consolidado como um banco de fomento alinhado às prioridades do Brics, com foco crescente em financiamento sustentável, tecnologia verde e infraestrutura resiliente. Evandro Carvalho ressalta que o Brics não é apenas uma aliança de países emergentes, mas uma coalizão que busca transformar a governança global, promovendo maior inclusão e equilíbrio econômico.
Com isso, conforme o professor, o NDB é a materialização deste objetivo, oferecendo uma alternativa viável ao modelo financeiro tradicional. “Com uma estrutura fortalecida e bem posicionada no cenário internacional, tanto o Brics quanto o NDB podem impulsionar um sistema econômico mais justo e representativo para as economias emergentes”, acredita.
Importância estratégica para o Brasil
Para o Brasil, o Novo Banco de Desenvolvimento representa uma oportunidade valiosa de financiamento para projetos de infraestrutura, alavancando o crescimento econômico e promovendo soluções sustentáveis. Empresas brasileiras também se beneficiam ao participar de licitações de projetos financiados pelo banco, ampliando sua presença em mercados internacionais.
O NBD está posicionado para desempenhar um papel crucial na transformação das economias emergentes. Ao promover a colaboração entre seus membros e oferecer soluções inovadoras de financiamento, o banco pavimenta o caminho para um futuro mais inclusivo para expandir seu escopo de atuação, com ênfase em financiamento verde, tecnologia sustentável e infraestrutura resiliente. Projetos relacionados à transição energética, como investimentos em energia renovável, têm potencial para atrair mais de 2 trilhões de dólares em aportes até 2030.
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Além disso, o banco tem investido na emissão de títulos verdes (green bonds), promovendo financiamentos sustentáveis com risco cambial reduzido para investidores locais. Essa estratégia contribui para diversificar as fontes de recursos e ampliar o impacto dos projetos financiados.
O Novo Banco de Desenvolvimento também é visto como peça-chave na transição para uma ordem econômica multipolar. Essa estratégia coloca o NDB como motor de desenvolvimento inclusivo e sustentável, fortalecendo economias emergentes e promovendo maior equilíbrio no cenário global.