O governo de Joe Biden está incrementando em 1.500, a um total de 4 mil, as tropas militares federais destinadas à fronteira com o México para missões de apoio de autoridades civis dedicadas ao controle migratório, mas também para responder a uma batalha político-eleitoral no país.
A decisão é parte dos preparativos para enfrentar as possíveis consequências do fim do chamado Título 42, em 11 de maio, uma medida empregada pelo governo de Donald Trump e também pelo próprio Biden para expulsar migrantes e solicitantes de asilo usando a emergência de saúde pública por causa da pandemia.
Com múltiplas declarações de emergência pela onda migratória em cidades fronteiriças e o anúncio de medidos de processamento de solicitação de asilo mais estritas, anunciadas pelo governo de Biden na semana passada, junto com a consigna constante de que “a fronteira está fechada”, o movimento militar é parte de um esforço não só para abordar a crise na fronteira, mas também para responder às acusações republicanas de que os democratas perderam o controle da região divisória.
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De fato, os republicanos têm a intenção de aprovar um projeto de lei neste mês para ressuscitar a construção do muro fronteiriço, ampliar a detenção de famílias migrantes que tentam ingressar sem documentos e aplicar novas represálias contra quem contrate mão-de-obra indocumentada – tudo parte de uma ofensiva eleitoral que continuará daqui até as eleições de nacionais de 2024.
O anúncio do envio de tropas adicionais foi confirmado nesta terça-feira (2) pelo Pentágono, cujo porta-voz, o general Pat Ryder, declarou que “por solicitação do Departamento de Segurança Interna, o secretário [da Defesa Lloyd] Austin aprovou um incremento temporário do Departamento de Defesa de 1.500 do pessoal militar adicional para suplementar os esforços da [a agencia de] Aduanas e Proteção Fronteiriça na fronteira sudoeste dos Estados Unidos”.
Foto: Adam Schultz/Casa Branca
Jesús García, senador democrata: "Condenamos Trump por fazer a mesma coisa. Biden não deveria seguir seu exemplo e continuar com esse plano”
As 1.500 tropas ativas, autorizadas por ordem executiva de Biden na semana passada e anunciadas nesta terça-feira, se somarão às 2.500 tropas da Guarda Nacional já destinadas à zona fronteiriça, todas as quais – enfatizaram a Casa Branca, o Pentágono e o Departamento de Segurança Interna – não estarão diretamente envolvidas em atividades de aplicação de lei, mas só brindando apoio administrativo e de monitoramento entre outras tarefas. O objetivo é livrar mais agentes da Patrulha Fronteiriça para dedicar-se a seu trabalho de controle migratório.
A missão militar será de um prazo de 90 dias e o envio é em resposta a uma solicitação do Departamento de Segurança Interna, dentro do qual estão as agências de migração e controle fronteiriço.
O secretário de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas, já havia indicado desde a semana passada que se prevê um incremento de “encontros” com imigrantes indocumentados e não autorizados na fronteira – tanto por traficantes que buscam aproveitar-se da transição como a persistente desinformação de que a fronteira “ficará aberta” depois da suspensão do Título 42 – e que, portanto, “isso porá pressão sobre todo nosso sistema”, incluindo a todos os trabalhadores federais encarregados do controle da fronteira sul.
Críticos, assim como muitos meios, disseram que é uma ação muito parecida às impulsionadas pelo ex-presidente Donald Trump que foram denunciadas por aqueles que agora residem na Casa Branca e seu partido atualmente.
Mas agora a Casa Branca insiste que não se parece em nada às ações do mandatário anterior. A porta-voz Karine Jean-Pierre sublinhou que forças militares têm apoiado as autoridades fronteiriças “por quase duas décadas…então isso é uma prática comum”.
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De fato, o envio de tropas federais à fronteira foi ordenado por presidentes de ambos os partidos nos últimos anos, desde Bill Clinton, George W. Bush, Barack Obama e Trump.
A porta-voz Jean-Pierre também argumentou que esta medida não seria necessária se o Congresso agisse para outorgar os fundos necessários às tarefas das agências de controle fronteiriço, e recordou que a situação é também resultado de que republicanos no Congresso não responderam à proposta de reforma migratória integral apresentada por Biden em seu primeiro dia como presidente.
Ela acusou políticos republicanos, como o governador do Texas, Greg Abbott, de continuarem “jogando política com migrantes” ao invés de abordar o que está ocorrendo na fronteira e deixar de obstruir a aprovação de mais recursos para os esforços na fronteira e uma reforma migratória.
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Mas as medidas militares de Biden também têm gerado críticas do seu próprio partido e defensores de direitos dos imigrantes. O senador democrata Bob Menéndez, presidente do Comitê de Relações Exteriores, denunciou o envio de tropas à fronteira como “inaceitável”. Agregou que “o governo de Biden teve mais de dois anos para planejar pôr fim a esta política da era de Trump de uma maneira que não violasse nossos valores como um país… Tentar obter pontos políticos ou intimidar migrantes ao enviar militares à fronteira atende aos ataques xenofóbicos do Partido Republicano sobre nosso sistema de asilo”.
O deputado federal democrata de Chicago, Jesús Chuy García, declarou que “não deveríamos enviar militares em serviço ativo para tratar com migrantes vulneráveis. Condenamos Trump por fazer a mesma coisa. Biden não deveria seguir seu exemplo e continuar com esse plano”. Ele agregou que “enviar tropas à fronteira não é uma substituição de soluções políticas reais, como mais fundos para alimentos e refúgio para os migrantes. Não é uma substituição de uma reforma migratória significativa que aborde os impulsionadores chaves da migração e trace um novo caminho baseado na compaixão”.
David Brooks e Jim Cason | La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
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