Pesquisar
Pesquisar

Democrata: Biden adota xenofobia republicana ao enviar militares à fronteira com México

Ainda segundo o senador Bob Menéndez, presidente do Comitê de Relações Exteriores, o envio de tropas à fronteira como “inaceitável”
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

O governo de Joe Biden está incrementando em 1.500, a um total de 4 mil, as tropas militares federais destinadas à fronteira com o México para missões de apoio de autoridades civis dedicadas ao controle migratório, mas também para responder a uma batalha político-eleitoral no país. 

A decisão é parte dos preparativos para enfrentar as possíveis consequências do fim do chamado Título 42, em 11 de maio, uma medida empregada pelo governo de Donald Trump e também pelo próprio Biden para expulsar migrantes e solicitantes de asilo usando a emergência de saúde pública por causa da pandemia.

Continua após o banner

Com múltiplas declarações de emergência pela onda migratória em cidades fronteiriças e o anúncio de medidos de processamento de solicitação de asilo mais estritas, anunciadas pelo governo de Biden na semana passada, junto com a consigna constante de que “a fronteira está fechada”, o movimento militar é parte de um esforço não só para abordar a crise na fronteira, mas também para responder às acusações republicanas de que os democratas perderam o controle da região divisória.

Leia também: Política de Trump que facilita crimes contra imigrantes foi revogada, mas segue em ação

De fato, os republicanos têm a intenção de aprovar um projeto de lei neste mês para ressuscitar a construção do muro fronteiriço, ampliar a detenção de famílias migrantes que tentam ingressar sem documentos e aplicar novas represálias contra quem contrate mão-de-obra indocumentada – tudo parte de uma ofensiva eleitoral que continuará daqui até as eleições de nacionais de 2024. 

O anúncio do envio de tropas adicionais foi confirmado nesta terça-feira (2) pelo Pentágono, cujo porta-voz, o general Pat Ryder, declarou que “por solicitação do Departamento de Segurança Interna, o secretário [da Defesa Lloyd] Austin aprovou um incremento temporário do Departamento de Defesa de 1.500 do pessoal militar adicional para suplementar os esforços da [a agencia de] Aduanas e Proteção Fronteiriça na fronteira sudoeste dos Estados Unidos”.

Ainda segundo o senador Bob Menéndez, presidente do Comitê de Relações Exteriores, o envio de tropas à fronteira como “inaceitável”

Foto: Adam Schultz/Casa Branca
Jesús García, senador democrata: "Condenamos Trump por fazer a mesma coisa. Biden não deveria seguir seu exemplo e continuar com esse plano”

As 1.500 tropas ativas, autorizadas por ordem executiva de Biden na semana passada e anunciadas nesta terça-feira, se somarão às 2.500 tropas da Guarda Nacional já destinadas à zona fronteiriça, todas as quais – enfatizaram a Casa Branca, o Pentágono e o Departamento de Segurança Interna – não estarão diretamente envolvidas em atividades de aplicação de lei, mas só brindando apoio administrativo e de monitoramento entre outras tarefas. O objetivo é livrar mais agentes da Patrulha Fronteiriça para dedicar-se a seu trabalho de controle migratório. 

A missão militar será de um prazo de 90 dias e o envio é em resposta a uma solicitação do Departamento de Segurança Interna, dentro do qual estão as agências de migração e controle fronteiriço. 

O secretário de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas, já havia indicado desde a semana passada que se prevê um incremento de “encontros” com imigrantes indocumentados e não autorizados na fronteira – tanto por traficantes que buscam aproveitar-se da transição como a persistente desinformação de que a fronteira “ficará aberta” depois da suspensão do Título 42 – e que, portanto, “isso porá pressão sobre todo nosso sistema”, incluindo a todos os trabalhadores federais encarregados do controle da fronteira sul.

Continua após o banner

Críticos, assim como muitos meios, disseram que é uma ação muito parecida às impulsionadas pelo ex-presidente Donald Trump que foram denunciadas por aqueles que agora residem na Casa Branca e seu partido atualmente.  

Mas agora a Casa Branca insiste que não se parece em nada às ações do mandatário anterior. A porta-voz Karine Jean-Pierre sublinhou que forças militares têm apoiado as autoridades fronteiriças “por quase duas décadas…então isso é uma prática comum”.

Leia também: Biden está disposto a políticas ainda mais agressivas contra imigrantes indocumentados

De fato, o envio de tropas federais à fronteira foi ordenado por presidentes de ambos os partidos nos últimos anos, desde Bill Clinton, George W. Bush, Barack Obama e Trump.

A porta-voz Jean-Pierre também argumentou que esta medida não seria necessária se o Congresso agisse para outorgar os fundos necessários às tarefas das agências de controle fronteiriço, e recordou que a situação é também resultado de que republicanos no Congresso não responderam à proposta de reforma migratória integral apresentada por Biden em seu primeiro dia como presidente. 

Ela acusou políticos republicanos, como o governador do Texas, Greg Abbott, de continuarem “jogando política com migrantes” ao invés de abordar o que está ocorrendo na fronteira e deixar de obstruir a aprovação de mais recursos para os esforços na fronteira e uma reforma migratória.

Continua após o banner

Mas as medidas militares de Biden também têm gerado críticas do seu próprio partido e defensores de direitos dos imigrantes. O senador democrata Bob Menéndez, presidente do Comitê de Relações Exteriores, denunciou o envio de tropas à fronteira como “inaceitável”. Agregou que “o governo de Biden teve mais de dois anos para planejar pôr fim a esta política da era de Trump de uma maneira que não violasse nossos valores como um país… Tentar obter pontos políticos ou intimidar migrantes ao enviar militares à fronteira atende aos ataques xenofóbicos do Partido Republicano sobre nosso sistema de asilo”.

O deputado federal democrata de Chicago, Jesús Chuy García, declarou que “não deveríamos enviar militares em serviço ativo para tratar com migrantes vulneráveis. Condenamos Trump por fazer a mesma coisa. Biden não deveria seguir seu exemplo e continuar com esse plano”. Ele agregou que “enviar tropas à fronteira não é uma substituição de soluções políticas reais, como mais fundos para alimentos e refúgio para os migrantes. Não é uma substituição de uma reforma migratória significativa que aborde os impulsionadores chaves da migração e trace um novo caminho baseado na compaixão”.

David Brooks e Jim Cason | La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na TV Diálogos do Sul


Se você chegou até aqui é porque valoriza o conteúdo jornalístico e de qualidade.

A Diálogos do Sul é herdeira virtual da Revista Cadernos do Terceiro Mundo. Como defensores deste legado, todos os nossos conteúdos se pautam pela mesma ética e qualidade de produção jornalística.

Você pode apoiar a revista Diálogos do Sul de diversas formas. Veja como:


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

LEIA tAMBÉM

Cidades “santuário” para imigrantes se preparam para barrar ofensivas de Trump
Cidades “santuário” para imigrantes se preparam para barrar ofensivas de Trump
Putin Mais do que trégua, precisamos de uma paz duradoura (1)
Putin: Mais do que trégua, precisamos de uma paz duradoura
Ucrânia teria prometido US$ 100 mil e passaporte europeu a autor de atentado na Rússia
Ucrânia teria prometido US$ 100 mil e passaporte europeu a autor de atentado na Rússia
A esperança das crianças em Gaza A guerra tirou tudo de nós, mas nunca vai tirar nosso sonho
A esperança das crianças em Gaza: "A guerra tirou tudo de nós, mas nunca vai tirar nosso sonho"