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Foto: María Corina Machado / Facebook

Desarticulação, golpismo, ataques ao chavismo: 10 erros-chave de Corina Machado na Venezuela

Cereja do bolo na campanha de Corina Machado foi a colocação em primeiro plano das diversas narrativas de "fraude" faltando poucas semanas para as eleições de 28 de julho na Venezuela
Redação Misión Verdad
Missão Verdade

Tradução:

Ana Corbisier

A situação política na Venezuela é marcada por profundas divisões e falhas internas dentro da oposição de direita, liderada por María Corina Machado. A campanha eleitoral tem sido dificultada pela exclusão de líderes tradicionais da PUD, falhas organizativas na formação de estruturas de apoio e uma narrativa persistente de fraude eleitoral. A falta de unidade e coordenação regional, somada à pressão por ingerência estrangeira e ataques a dissidências internas, ressalta a complexidade e as dificuldades enfrentadas pela oposição na tentativa de consolidar um movimento válido de oposição ao chavismo de Nicolás Maduro.

Confira, ponto a ponto, as falhas de Corina Machado a seguir:

Deslocamento de Edmundo González

María Corina Machado protagonizou a campanha por Edmundo González. Se bem isto, em tese, fizesse parte de sua estratégia de transferir para o candidato sua base de apoio, o que ocorreu foi um deslocamento quase total do candidato devido à imposição de uma figura tecnicamente fora da eleição. Quase todas as apresentações de Machado têm ela unicamente à frente. Até agora, só em duas ocasiões apresentou-se com González em eventos de rua; este teve sempre um aparecimento secundário.

Embora Machado em algumas oportunidades tenha balançado uma bandeira com o rosto de González, a fim de posicionar seu nome e número eleitoral, a mensagem ficou para trás e ela realiza uma campanha unipessoal focada em sua própria figura.

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A postergação de González adquiriu uma categoria preocupante quando a dirigente direitista começou a divulgar “seu” programa de governo, chamado “Venezuela terra da graça”, momento em que se aventurou a indicar a eventual privatização da educação superior. Mas a promoção do plano de governo é sintomática de uma semiótica geral da campanha que não gira em torno do candidato real. Machado aparece no primeiro plano dos spots, nos flyers, em todas as mensagens audiovisuais da campanha de Edmundo González.

A campanha direitista parece desarticulada. González foi relegado a posar para fotos comendo cachorros-quentes ou jogando dominó, para conferir-lhe uma imagem de homem popular, não voltando a aparecer em eventos com público.

Referir-se a sua futura “presidência”

Novamente, apelando à estratégia de transferir seus seguidores a González, Machado declarou em diversos eventos que ela será a Presidente da República. Supõe que, com a aspiração de um futuro governo com ela à frente, seus seguidores votariam em González, o que provavelmente funcione entre os seguidores mais fervorosos da dirigente.

No entanto, a construção de uma forte maioria política para os direitistas demanda somar setores além da líder de Vente Venezuela (VV), o que inclui vários setores: aqueles que preferem papéis claros em um eventual governo de direita, aqueles que se sentem atraídos unicamente por González, aqueles que preferem uma liderança direitista moderada e aqueles que preferem um presidente com autonomia e capacidades próprias para exercer o cargo. Estes grupos poderiam ser desestimulados pela narrativa hiper personalista de Machado.

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Com este relato o perfil do candidato da Plataforma Unitária Democrática (PUD) termina mais debilitado, considerando sua posição como candidato “tapa buraco”, desconhecido, de idade avançada, com discurso frágil e tímida exposição. Este tipo de mensagens impõe o meta-relato de que González não exerceria um virtual governo antichavista, o que aumenta a percepção de sua debilidade física e política.

As mensagens da dirigente da VV e seu círculo de que ela assumiria o mandato de fato ou que exercerá a presidência eventualmente poderia confundir um segmento eleitoral. Embora seja sabido que ela não faz parte das eleições, e que não aparece na cédula eleitoral, o evento demanda sempre clareza de papéis e posições de liderança. A dicotomia entre “a líder” e “o candidato” implica uma separação atípica da figura real a seguir, mas a confusão e a incerteza aumentam quando “a líder” diz que assumirá o papel que deve assumir “o candidato”.

<blockquote class=”twitter-tweet”><p lang=”es” dir=”ltr”>Se está evidenciando con mayor claridad el enfoque real que tendría la política económica de un hipotético gobierno de Edmundo González. <br><br>Este enfoque no difiere en absoluto de las fórmulas fracasadas de gobiernos alineados al neoliberalismo. <a href=”https://t.co/nzkb1T1HcG”>https://t.co/nzkb1T1HcG</a></p>&mdash; MV (@Mision_Verdad) <a href=”https://twitter.com/Mision_Verdad/status/1798336388649324945?ref_src=twsrc%5Etfw”>June 5, 2024</a></blockquote> <script async src=”https://platform.twitter.com/widgets.js” charset=”utf-8″></script>

Machado ajuda a aglutinar o chavismo

María Corina Machado foi reconhecida durante duas décadas como uma figura de direita recalcitrante e antagonista do Governo Bolivariano. Este registro foi muito extenso e além disso acumulou uma longa ladainha de frases e aparecimentos públicos em que ameaçou o chavismo em seu conjunto apelando a discursos revanchistas, antagonistas e extremistas. Agora, é a principal referência da direita na campanha, protagonizando a candidatura formalmente representada por Edmundo González.

Supõe-se que Machado facilitaria uma transferência de apoio a González, mas é provável que em vez disso esteja contribuindo para o reagrupamento e aglutinamento do chavismo em torno de Nicolás Maduro. Para um importante segmento de chavistas, inclusive os chavistas descontentes com Maduro ou chavistas apáticos e desfiliados da militância e da simpatia ativa, o advento de Machado supõe uma séria ameaça porque um eventual governo sob seu controle significaria a perda de toda moderação, o desenvolvimento da perseguição política e a erradicação do chavismo, o que implicaria mergulhar o país em um ciclo de cruenta instabilidade.

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Então, para um segmento do chavismo que agora estaria se reagrupando em torno de Maduro, tanto Machado como González passam a ser fatores a confrontar. As inconformidades com o Governo Bolivariano passam ao segundo plano e perdem relevância ante as novas circunstâncias ameaçadoras.

O sentido de “ameaça” ao chavismo não é unicamente físico ou existencial. Para o chavismo, Machado é uma neoliberal extremada: conhece-se publicamente sua intenção de privatizar a PDVSA, as empresas públicas, os serviços públicos e a educação. O caráter público é, junto às missões sociais, parte do “pacto social” da Revolução Bolivariana e são causas que os chavistas defenderiam em muitos contextos.

Somar votos. Até que ponto?

A estratégia direitista consolidou-se com a primária de outubro de 2023 como fato e método político. Mas seus objetivos não se cumpriram. A PUD não elegeu uma pessoa não inabilitada e apta para inscrever-se e, no dia de hoje, nenhum dos nove candidatos das direitas participou das primárias. Edmundo González foi escolhido em um conclave muito pequeno, indicado pelos chefes de partidos. Mas a personificação da campanha em torno de María Corina Machado tornou-se o elemento central da campanha da PUD, como uma candidatura delegada em González. A tese da “candidata real impedida” que faz campanha para outro supõe um processo somatório de votos, mas pouco se analisa ou considera qual é seu alcance real em votos.

Machado representa uma força muito difícil de medir em intenções de voto dado que ela em si representa um segmento direitista, não as oposições em seu conjunto. Suas diferenças com outros dirigentes de partidos consistem em divisões reais e profundas. Além disso, nem Machado, nem seu partido tinham registro eleitoral antes das primárias de 2023. Não há uma referência para estabelecer uma relação estatística do apoio real em votos com que conta Machado. Demos por certo que os resultados das primárias são reais e que não foram alterados, tal como foi denunciado amplamente por tratar-se de um processo rudimentar e manual que não foi auditado. Das primárias de 2023 participou só 11,8% do registro eleitoral e Machado obteve 2 milhões 253 mil votos, equivalentes a 10% do padrão eleitoral.

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Os votos a seu favor nas primárias lhe deram um privilégio com que não contou Henri Falcón em 2018 em uma eleição real, que foi assumir de fato a “liderança” e protagonismo na direita tradicional, apesar de conseguir quase 2 milhões de votos. Situar-se na cúpula da direita foi uma conquista para ela. Mas outra coisa é uma eleição aberta convencional. Que Machado centralize a campanha direitista exclusivamente nela poderia ser considerado um traço de seu egocentrismo histriônico evidentemente personalista, mas isto é um erro estratégico, considerando que tem um teto eleitoral. Não há certeza sobre o número real de sua base de apoio e, certamente, há razões de sobra para questionar muitas pesquisas.

O erro desta estratégia de “transferência” de apoio é que se calcula sobre números não confiáveis que, além disso, caso estejam corretos, implicam em um importante teto político. Machado poderia ser o mais alto em um grupo de anões, e colocar o processo de construção de força unicamente em suas mãos é contraproducente.

Desconhecimento das lideranças nacionais e regionais

A chefe da VV se tornou a rainha do palanque. Suas aparições públicas e a apresentação de imagens se ufanam em colocá-la unicamente à frente. Não há outros dirigentes da PUD com algum papel relevante na campanha e figuras como o outrora mais importante líder direitista, Henrique Capriles, tiveram aparecimentos e declarações isoladas em apoio a González.

Sabe-se que Machado truncou a aspiração eleitoral de Manuel Rosales e que outros dirigentes menores e desgastados, como Delsa Solórzano, César Pérez Vivas e Andrés Velásquez, tiveram aparecimentos limitados em público junto à “líder”. Mas, além disso, apareceu em Zulia sem Manuel Rosales. Apareceu em Nueva Esparta sem Morel Rodríguez. Apareceu em diversas regiões e os dirigentes da PUD não tiveram espaço nos palanques, os quais só estiveram ocupados por figuras locais da VV.

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A ausência dos governadores direitistas é notável, e isso deve ser entendido pela percepção local. Não há um processo de construção de apoio com base na somatória de apoios e referências nacionais e regionais. Isto poderia se justificar a partir da noção de que Rosales, Rodríguez e outros são “dirigentes deslegitimados” e que poderiam “prejudicar” a campanha. Mas a direita tem divisões evidentes, de modo que o eleitorado não entende isto do ponto de vista estratégico e sim como uma expressão da exclusão de suas referências.

Além disso, nas regiões existem sentimentos de apego a seus líderes locais, e os governadores contam com uma base própria de seguidores que não deve ser subestimada. Até agora, no quadro da campanha, não há aparecimentos públicos de Machado junto a algum dos quatro governadores direitistas: Zulia, Barinas, Cojedes e Nueva Esparta.

O fracasso dos Comandinhos

Diversas fontes expressaram que as metas de formação dos chamados “Comandinhos 600K” da VV não se cumpriram. Este registro de núcleos de apoio à campanha chegará incompleto ao 28 de julho.

Há falências organizativas chave e, ao que parece, a direita em seu conjunto não completou a lista de pessoas com nome e sobrenome que irão aos centros eleitorais na qualidade de testemunhas.

A formação unilateral destes comandinhos por parte da VV, sem articular o apoio de outros partidos da PUD, estaria enfraquecendo as orgânicas direitistas.

<blockquote class=”twitter-tweet”><p lang=”es” dir=”ltr”>Los Comanditos, organizados por el partido de la inhabilitada María Corina Machado (Vente Venezuela) fueron creados con miras a organizar la posible guarimba post electoral (violenta y parainstitucional). <br><br>Acá los detalles. <a href=”https://t.co/C3kpN9hkm4″>https://t.co/C3kpN9hkm4</a></p>&mdash; MV (@Mision_Verdad) <a href=”https://twitter.com/Mision_Verdad/status/1798476962232492410?ref_src=twsrc%5Etfw”>June 5, 2024</a></blockquote> <script async src=”https://platform.twitter.com/widgets.js” charset=”utf-8″></script>

A execução operativa na consolidação dos comandinhos está delegada a Magalli Meda, pessoa de extrema confiança de Machado, que está asilada na embaixada da Argentina em Caracas junto a outros colaboradores próximos da VV. Meda e demais integrantes desta equipe não têm possibilidades de percorrer o território nacional e não podem fazer articulações presenciais. Delegar a Meda esta tarefa é um erro garrafal.

Mas um dos problemas mais graves para a formação dos comandinhos é a própria inércia do abstencionismo direitista. A organização VV não é um partido político registrado, na verdade nunca participou de eleições nacionais, e até as primárias direitistas de 2023 não tinha uma organização territorial em escala nacional. Além disso, as constantes abstenções dos partidos da PUD e da própria Machado tirou-os do terreno político e não amadureceram uma cultura de organização até a base do eleitorado.

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É muito difícil que partidos que não participem de eleições consigam articular em apenas alguns meses uma orgânica territorial detalhada, associada a cada centro eleitoral e a cada palmo do território. É muito difícil que esta estrutura seja eficaz. Isso enfraquece suas possibilidades de organização, mobilização e de estratégia eleitoral em centros.

Dificuldades na criação de comandos regionais e municipais

Há semanas um comunicado da Secretaria Geral da PUD, a cargo de Omar Barboza, revelou a preocupante situação pela formação dos comandos regionais e municipais, o que seria o Comando de Campanha de Edmundo González. A mensagem referiu-se aos “problemas para encontrar a unidade” entre os dirigentes regionais e municipais em diversos lugares do país. Esta situação é particularmente grave pela proximidade da eleição e por significar uma derrota tática na tarefa do comando destinado a desenvolver campanhas territoriais e setoriais eficazes. Trata-se de estruturas de mando não definidas, formadas por dirigentes confrontados entre si.

Uma das razões desta debilidade seria a condução do comando, que em grande parte caiu de fato sobre Magalli Meda, que da embaixada argentina é a articuladora de muitas nomeações. Além disso, VV atribuiu-se nas regiões e em municípios importantes a liderança destes comandos e de seus cargos principais, excluindo líderes e dirigentes de outros partidos da PUD.

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A exclusão de dirigentes da UNT, PJ e AD –setor Ramos Allup– seriam prejudiciais em muitos aspectos devido a que se trata de partidos com experiência em eleições e que ganharam cargos nas regiões. É particularmente grave que muitos prefeitos provenientes de partidos da PUD não façam parte destes comandos porque isso reduz capacidades políticas da campanha de González e lhe tira apoio nos territórios.

As pugnas têm muito a ver com a possibilidade de cargos de eleição nas próximas eleições regionais e municipais previstas para 2025. Os dirigentes da VV e da PUD aspiram a lugares no comando da campanha porque isso supõe um ticket de acesso a candidaturas. A campanha também supõe um fluxo de recursos e esta disputa também teria fins clientelistas.

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María Corina Machado estaria no centro destes problemas porque ela determinou que a VV concentre a liderança dos comandos. Não se reuniu com dirigentes da PUD para resolver estas divergências e na proximidade da eleição há estruturas de comandos regionais e municipais que continuam acéfalas ou lidam com disputas.

Reincidir em solicitar ingerência estrangeira

O chavismo tem uma importante frente de campanha aludindo a Machado e à PUD como artífices do bloqueio e das sanções ilegais contra o país que prejudicaram as camadas mais numerosas da população. Esta narrativa do chavismo é sólida e diversas pesquisas concordam em que, para a maioria da população, que inclui chavistas, direitistas e independentes, “as sanções prejudicam a população” e não o governo venezuelano.

Apesar disso, a VV tentou internacionalizar seu nome e apareceu em diversos fóruns internacionais clamando por “mais ações” da comunidade internacional. Ela continua utilizando lobbies para que se junte a ela em eventos, onde disse que a “Venezuela é o quarto país produtor de cocaína no mundo”, que o governo venezuelano “colabora com o grupo terrorista Hezbollah”, e desde a ratificação de sua inabilitação como candidata, pedi mais sanções contra o governo venezuelano.

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Em seu afã por posicionar-se no exterior, inclusive falando inglês, mas supostamente em nome de “todo o país”, Machado joga gasolina no fogo das narrativas sobre o bloqueio ilegal na Venezuela. Contribui para aglutinar o chavismo e gera desconcerto entre os eleitores independentes e direitistas que rejeitam as sanções por seu caráter prejudicial para a população.

Isto inclui elementos do setor privado venezuelano, um importante segmento com poder econômico e condições de rentabilizar seus atributos em poder político. O consenso geral, inclusive entre os grêmios do setor privado, é que as sanções foram prejudiciais para a economia em seu conjunto. Avivar estas narrativas desestimula os privados em apoiar “a líder” e a campanha direitista em seu conjunto.

Ataque às “dissidências” e incapacidade de alianças

María Corina Machado e seus grupos de apoio, especialmente os que executam sua política de comunicação, desenvolveram campanhas e paredões midiáticos de fuzilamento contra um grande espectro de meios de comunicação, consultores, atores políticos e formadores de opinião, inclusive os de direita.

O caso mais recente foi o ataque contra Luis Vicente León por afirmar que as mobilizações de massas não significavam automaticamente vitórias eleitorais.

<blockquote class=”twitter-tweet”><p lang=”es” dir=”ltr”>En el campo de batalla por el alma de la oposición venezolana representada por la PUD, MCM ganó la batalla táctica pero Manuel Rosales está ganando la estratégica. Hoy la tesis programática que gobierna la orientación política de ese sector partidista es el diálogo, el pacto y la…</p>&mdash; William Serafino (@williamserafino) <a href=”https://twitter.com/williamserafino/status/1784961386801488155?ref_src=twsrc%5Etfw”>April 29, 2024</a></blockquote> <script async src=”https://platform.twitter.com/widgets.js” charset=”utf-8″></script>

Além disso, comunicadores associados a Machado como Miguel Henrique Otero, Carla Angola, Orlando Avendaño, Leopoldo Castillo, Ana Milagros Parra, entre outros, promoveram o linchamento digital e propuseram a criação de listas de analistas e consultores que não deveriam “cair de pé” em um eventual governo da direita, ao serem acusados de “colaboracionistas” do chavismo. Isto ocorreu em razão de críticas ou análises surgidas da própria direita, que se afastam do relato único e totalizante que Machado pretendeu impor no discurso público.

Atores do chavismo e da direita –tal como foi o caso do próprio Manuel Rosales– denunciaram a existência de fazendas de robôs contratadas pela VV para intervir na opinião pública digital a fim de impor sua suposta hegemonia na liderança direitista, mas também para perseguir opiniões dissidentes ainda que venham de grupos e pessoas amplamente reconhecidas como antichavistas. Machado não quer ver degradada sua imagem, não tolera ataques, e isso se explica por sua atitude abertamente briguenta, arrogante, regida por seu egocentrismo histriônico e muito provável transtorno de personalidade narcisista.

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A perseguição midiática tem como consequências importantes distorções no discurso público, desviando os fins da campanha política e criando nichos de discussões em temas que são parte de uma diatribe entre direitistas, cujo efeito é o debilitamento da unidade, que impede a coesão narrativa, criando feridas desnecessárias entre os próprios antichavistas.

A falha de origem deste problema é o desconhecimento de Machado das outras oposições ou de qualquer forma de oposição não subordinada a sua figura. Intimidar a dissidência na opinião pública é sintomático de seu desconhecimento de todos os demais espectros direitistas considerando-os “colaboracionistas do regime”. Esta falha de origem também fica evidente no afã de Machado de parecer o mais separada possível de certas pessoas da PUD, assim como por sua impossibilidade de fazer alianças com alguns direitistas já inscritos como candidatos.

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Diversas pesquisas vindas a público têm fins propagandísticos e seus resultados podem não ser confiáveis, mas há um consenso em absolutamente todas elas, tanto naquelas que dão Edmundo González como vencedor como naquelas que dão Nicolás Maduro como vencedor. Todas concordam em que os direitistas fora da PUD estão capitalizando entre 10 a 15% das intenções de voto.

Em muitas eleições no mundo é usual que, havendo diversos candidatos de direita ou de esquerda, consigam unir-se em algum momento da campanha, uns candidatos declinando a favor de outros. Este cenário parece difícil na Venezuela e, até agora, às vésperas de 28 de julho, não há sinais claros de que isto aconteça.

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Seguramente não há as devidas discussões e articulações privadas para obter estas mudanças de apoio e a principal razão disso é que Machado já catalogou os oito candidatos fora da PUD como elementos “colaboracionistas de Maduro”, chamando-os de “candidatos impostos por Maduro”. E assim dinamitaram-se antecipadamente as pontes e se debilitaram as possibilidades de associação.

Em termos transversais, tanto no âmbito da opinião pública como no dos apoios eleitorais e formação de forças, a da VV não conseguiu novas somatórias. Só conseguiu dividir.

Introdução das narrativas de “fraude eleitoral”

A cereja do bolo na campanha de María Corina Machado foi a colocação em primeiro plano das diversas narrativas de fraude a apenas algumas semanas de 28 de julho.

A direita venezuelana sofreu uma translação temática brutal. Até algumas semanas o relato desenvolvia-se no vetor triunfante da “transição”. Gerou-se um discurso público em que este tema se tornou o predileto da mídia e de analistas, e se assegurava uma mudança de governo. Mas “a transição” foi descartada e agora “a fraude” impõe-se como tema principal, o que implica uma mudança do estado anímico da opinião pública de um cenário triunfal a um de incerteza.

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A temática da “fraude” sugere o uso da indignação e da raiva pela “possibilidade de fraude”, para teoricamente ser canalizada como um elemento de motivação ao voto. Isto é, convencer os eleitores de que poderiam roubar-lhes a vitória e que por isso devem “votar em massa”.

A narrativa da “avalanche de votos para evitar a fraude” certamente pode ser útil, mas aplica-se para canalizar as expectativas de direitistas já convencidos, que do mesmo jeito votariam em outros contextos. Tem um significado distinto entre eleitores direitistas moderados, apáticos, desencantados, ni-nis, indecisos e abstencionistas.

Às vésperas de uma eleição, a introdução das narrativas de fraude por parte dos próprios dirigentes e comunicadores direitistas gera desconcerto, aumenta a desconfiança nos sufrágios e incrementa a hostilidade em relação ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Esta narrativa permeia certas camadas direitistas e indecisas, desestimula a participação e incrementa a apatia e a desmobilização. A implantação de emoções negativas propõe uma mudança do estado anímico e isto é prejudicial para os direitistas tradicionais dado que é uma força com ímpeto e voluntarismo muito oscilante.

Esta narrativa poderia ser mais útil para mobilizar o voto se se tratasse de um discurso inédito. O problema é sua reutilização e desgaste pois “a fraude eleitoral” existe como significante direitista desde 2004. Para muitos eleitores há reedição de momentos pretéritos e a disputa eleitoral de 28 de julho começa a parecer-se com outras jornadas do passado recente.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Redação Misión Verdad

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