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Cannabrava | Violência e medo. Como sobreviver num país em surto psicótico?

A violência está instalada no poder e na campanha eleitoral. O que podem fazer os agredidos? Botar o rabo entre as pernas? Sair correndo? Desistir do pleito?
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Ler jornais está de deixar a gente doente. Preciso fazer força pra não cair em depressão. Nos diários dessa quinta-feira (22) – todos parecem feitos por uma única pessoa – Biden diz que a Rússia é a única responsável pela guerra; em outro título, Ciro vincula o PT ao fascismo e ataca o voto útil.

Gente! Vincular o PT ao fascismo já é demais. O PT é hoje a única alternativa ao fascismo instalado no poder e, por honra à História e aos fatos, a Otan cercou a Rússia de bases militares, deu golpe de Estado na Ucrânia, financiou, armou e está não só armando como tem seus oficiais no comando dessa guerra.

Intelectuais, ex-presidentes, dirigentes partidários e das mais diversas organizações da sociedade civil, inclusive um Prêmio Nobel, assinaram um belo manifesto em defesa da democracia ameaçada e pedindo ao Ciro que deixe de apoiar o governo e os fascistas. É isso. Grande parte dos líderes pedetistas já abandonaram o Ciro e se somaram à campanha de Lula. E Ciro insiste em atacar o PT e agora também o Psol, querendo confundir as pessoas.

A gente tem que ter muita paciência e responder à violência, responder às transgressões às leis, acionando a Justiça. Não pode deixar uma só desobediência às normas eleitorais sem mover ação judicial.

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A violência está instalada no poder e na campanha eleitoral. Essa violência tem uma só origem… o que podem fazer os agredidos? Botar o rabo entre as pernas? Sair correndo? Desistir do pleito?

Nós já comentamos aqui, mais de 60% da população está com muito medo e outros 50% com pouco medo. Com muito ou com pouco medo é a população inteira que está apavorada. À violência dessa guerra civil permanente que mata nossa gente, se soma a violência institucional à violência na campanha eleitoral.

Assista na TV Diálogos do Sul

Segundo levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a taxa de assassinatos contra crianças e adolescentes de até 19 anos foi de 8,7 para cada 100 mil habitantes no Brasil em 2021. O índice é bem mais alto nos nove estados da Amazônia Legal: 11,1 para cada 100 mil habitantes, 34,3% maior que a média brasileira.

47,5 mil homicídios, 2/3, ou em torno de 31 mil pessoas assassinadas por arma de fogo, em 2021. Em 2019 foram 61 mil, e, em 2020, 54 mil. 162 mil mortos em três anos. Dos assassinados por arma de fogo, 78% são negros e, entre os mortos pela violência do Estado, assassinados por policiais, 84% são negros.

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Na Ucrânia, os mortos civis nesta guerra da Otan são 5 mil, e 6 mil feridos. Com relação aos militares mortos, é difícil saber, mas parece que não chegam a 50 mil.

A covid já matou 685.656 pessoas, hoje estamos com 80% da população vacinada e as mortes baixaram para 87 por dia.

Depois dos negros, as mulheres são as maiores vítimas da violência. Em 2021, 56 mil estupros, um a cada dez minutos. 8.514 estupros de crianças e adolescentes, dos quais 6.156 de vulneráveis, ou seja, menores entre zero e 13 anos.

A violência está instalada no poder e na campanha eleitoral. O que podem fazer os agredidos? Botar o rabo entre as pernas? Sair correndo? Desistir do pleito?

Fernando Frazão/Agência Brasil
Precisamos de um novo Brasil; repensar a política, repensar o processo civilizatório




Partidocracia: um grande negócio

Acabaram com a política e transformaram os partidos em balcões de negócio. Essa campanha deixa evidente que o modelo resultante do pacto de 1988 está falido, não serve para outra coisa que beneficiar os que se apropriam do poder e da coisa pública.

Urge uma reforma política e um novo pacto que viabilize a democracia. Democracia do povo, não do dinheiro.

Partido tem que ter 30% das candidaturas ocupadas por mulheres. Maravilha. Inscrevem mulheres fantasma e botam o dinheiro no bolso. É o que revela reportagem no Estado de S. Paulo dessa quinta (22). É a esbórnia total. É pior.

Bolsonaro tripudia sobre a Justiça Eleitoral e nada acontece. Londres, ONU, Nova York, encheu Brasília e arredores de outdoors e nada acontece.

Tá desempregado, ganhando pouco? Tem vaga pra ser cabo eleitoral por até 80 mil reais. Isso sim é que é festança com o dinheiro público. Política virou negócio pros ricos ganharem mais dinheiro, ficarem mais ricos.

Damares Alves, pastora neopentecostal, como ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos acabou com a Justiça de Transição ao acabar com a Comissão de Anistia. Já gastou R$ 535,5 mil, dinheiro público, dinheiro seu, meu, contratando gente para ser cabo eleitoral ganhando mil reais por dia. 

Se isso não é compra de voto, abuso do poder econômico, o que é?

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Segundo reportagem também dessa quinta, no Estado, o valor para pagamento de cabos eleitorais varia de 600 a 1.500 reais.

Em Alagoas, Alfredo Gaspar, candidato do União, contratou empresa por R$ 280 mil para fazer mobilização de rua. O que é isso? Arregimentar gente para divulgar o candidato e nele votar. Outros gastam mais de R$ 10 milhões contratando empresas para contratar os cabos eleitorais.

Claudio Castro, quer se reeleger no governo do Rio de Janeiro, recebeu R$ 12,5 milhões do Fundo Eleitoral, usou R$ 5,7 milhões para uma empresa contratar 36 mil cabos eleitorais ganhando R$ 114 por dia.

É assim que funciona. Eu queria saber como um cara como o capitão do exército, Tarcísio, foi um ministro medíocre de um governo assassino, candidato a governador de São Paulo, aparece cotado nas pesquisas. Tá explicado. 

O capitão Bolsonaro, candidato à reeleição tendo o general Braga Netto como vice, continua dizendo que ganha a eleição no primeiro turno e que se perder é por fraude. Terão dinheiro para comprar 156 milhões de eleitores?

Tudo isso torna o processo eleitoral uma farsa.

Precisamos de um novo Brasil. Repensar a política, repensar o processo civilizatório. Pra começar, libertar o país da tutela dos militares, e com isso libertar-se do jugo do imperialismo e proclamar a verdadeira independência.

Paulo Cannabrava Filho, jornalista latino-americano e editor da Diálogos do Sul.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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