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Governo da Colômbia lança plano de choque para implementar acordo de paz de 2016

Representante do Comunes (ex-Farc) destaca três prioridades do acordo de paz: garantir a vida dos signatários, executar a reforma agrária acordada em Havana e oferecer aos camponeses cultivadores de coca alternativas viáveis de cultivos lícitos
Jorge Enrique Botero
La Jornada
Bogotá

Tradução:

Beatriz Cannabrava

O governo do presidente colombiano Gustavo Petro anunciou a implementação de um “plano de choque” para executar o acordo de paz firmado em 2016 entre o Estado e as extintas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

A um dia da reunião que o chefe de Estado terá com o Conselho de Segurança das Nações Unidas, na qual apresentará um balanço negativo da implementação do acordo que foi ignorado pelos governos de Juan Manuel Santos (2014-2018) e Iván Duque (2018-2022), o chanceler Luis Gilberto Murillo disse em entrevista coletiva que a Colômbia pedirá ao Conselho de Segurança uma prorrogação de entre cinco e oito anos para finalizar a execução do pactuado em Havana, Cuba, depois de cinco anos de negociações.

Leia também | Violação dos acordos de paz: entenda por que Petro vai denunciar a própria Colômbia na ONU

Desafios na implementação do acordo de paz

Segundo Murillo, “há que fazer mudanças estruturais para romper as barreiras enfrentadas pelo pacto”, cuja implementação nos temas centrais mostra um desempenho muito pobre. O chefe de Estado atribuiu à falta de vontade política e às travas impostas pela institucionalidade vigente o atraso na distribuição de terras (dos 3 milhões de hectares acordados, só foram entregues 350 mil), o apoio à substituição de cultivos de uso ilícito e o estado de insegurança que vive a maioria dos ex-guerrilheiros que entregaram suas armas.

Nos oito anos que passaram desde a assinatura dos acordos, foram assassinadas 406 pessoas que assinaram, dentre elas nove mulheres, segundo cifras da missão das Nações Unidas na Colômbia, mais de dois ex-combatentes mortos por mês. E embora algumas vozes próximas tenham solicitado a Petro que desista de sua viagem a Nova York, pois ali terá que explicar o porquê da baixa execução da paz nos dois anos de seu governo, o Presidente insiste em denunciar ante a ONU a oposição feroz que a paz teve entre as elites políticas e econômicas do país.

Reunião com lideranças do Comunes

Antes de empreender sua viagem a Nova York, onde inaugurará no edifício das Nações Unidas uma escultura feita com armas das extintas Farc e se reunirá com o Secretário Geral, António Guterres, Petro manteve na última segunda-feira (8) um longo encontro com a direção do partido Comunes, criado pela guerrilha após a entrega de armas.

O congressista de Comunes, Julián Gallo, comentou à La Jornada que perceberam “um presidente totalmente comprometido com levar adiante o que mais se possa do acordado em 2016” e acrescentou que compartilharam com o chefe de Estado a ideia de que ao redor da paz se pode dar o esquivo acordo nacional que Petro vem tecendo com diversas forças políticas e sociais.

Leia também | “Acordo pactuado, acordo cumprido”: conheça pontos do novo diálogo de paz entre Colômbia e Farc

Prioridades na execução do acordo de paz

Perguntado por La Jornada sobre quais são as prioridades na execução do pactuado, Gallo pôs em primeiro lugar a necessidade de que o Estado garanta a vida de todos que assinaram a paz. “Uma segunda prioridade seria a execução a fundo da reforma agrária acordada em Havana e, em terceiro lugar, a necessidade de dar aos camponeses cultivadores de coca verdadeiras alternativas para substituir a folha por cultivos lícitos que deixem boa produtividade”.

Fontes de Comunes confirmaram que o primeiro mandatário apresentará seu informe ao Conselho de Segurança acompanhado de pelo menos um integrante do partido, mas não precisaram quem será. A reunião com o máximo organismo da ONU será nesta quinta-feira (11).


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jorge Enrique Botero Jornalista, escritor, documentarista e correspondente do La Jornada na Colômbia, trabalha há 40 anos em mídia escrita, rádio e televisão. Também foi repórter da Prensa Latina e fundador do Canal Telesur, em 2005. Publicou cinco livros: “Espérame en el cielo, capitán”, “Últimas Noticias de la Guerra”, “Hostage Nation”, “La vida no es fácil, papi” y “Simón Trinidad, el hombre de hierro”. Obteve, entre outros, os prêmios Rei da Espanha (1997); Nuevo Periodismo-Cemex (2003) e Melhor Livro Colombiano, concedido pela fundação Libros y Letras (2005).

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