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Ignorando críticas internacionais, mais de 40% já votaram em Donetsk e Lugansk

Ao longo da fronteira russo-ucraniana, a vida segue normalmente; nos centros de refugiados, pessoas se organizam para votar
Gabriela Beraldo
Diálogos do Sul Global
Sharti, Rostov do Dom

Tradução:

* Atualizado em 26/09/2022 às 12h57.

Após um período de retração, o conflito na Ucrânia volta a ganhar manchetes ao redor do mundo. Isso porque, após diversos anúncios de que Kiev estaria reconquistando espaços em regiões separatistas pró-Russia, Moscou convocou reservistas com experiência prévia no Exército. Cerca de 300 mil soldados — homens e mulheres — podem se somar às ações militares no território vizinho nos próximos meses.

Um dia depois da convocatória russa, regiões separatistas organizaram um referendo, que teve início na última sexta (23) e vai até terça-feira (27), perguntando às populações de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporíjia se querem, sim ou não, fazer parte da Federação Russa.

Devido aos ataques ucranianos, muitos cidadãos estão com medo de ir até os centros de votação, por isso, membros da comissão eleitoral se deslocam até suas casas com as cédulas e urnas, de forma a garantir que todos possam participar do processo.

Apesar da posição contundente da comunidade internacional contra a realização do referendo, o site russo RIA Novosti informa que mais de 45% de pessoas aptas a votar já o fizeram nas regiões de Donetsk e Lugansk e ao redor de 30% em Kherson e Saporijía.

Natela, de 11 anos e moradora de Sharti, desenhou um passaporte para poder votar (Foto: Vanessa Martina Silva/ Gabriela Beraldo)


Agressões

Ao longo da fronteira que separa a Rússia e a Ucrânia, por mais que a mídia ocidental tente pintar um cenário de caos, a vida segue normalmente. Em Sharti  (Шахты), na região de Rostov do Dom, vimos crianças frequentando normalmente um centro esportivo para praticar boxe e jiu-jitsu, entre outras atividades.

Na cidade vizinha de Novocherkassk, cristãos ortodoxos participavam, calmamente, de uma missa na catedral da cidade. A quantidade de carros nas ruas e de pessoas passeando em alamedas, inclusive com bebês, passa uma sensação de normalidade.

Ao longo da fronteira russo-ucraniana, a vida segue normalmente; nos centros de refugiados, pessoas se organizam para votar

Imagens: Vanessa Martina/Gabriela Beraldo
Com passaportes ucranianos em mãos, pessoas advindas de Donetsk e Lugansk formam filas para preencher as cédulas de votação

Nessas cidades vivem centenas de refugiados, em especial das regiões de Donetsk e Lugansk. Muitos deles – que falam russo, são cristãos ortodoxos e compartilham da identidade cultural russa –, cruzaram a fronteira nos últimos meses, em meio aos bombardeios ucranianos em suas cidades.

Nos últimos dias, eles também foram convocados a votar no referendo que questiona a vontade, ou não, de terem suas regiões de origem incorporadas ao território russo.

Os pontos de votação foram montados ao lado de centros de refugiados. Com passaportes ucranianos em mãos, pessoas advindas de Donetsk e Lugansk formam filas para preencher as cédulas de votação.

Gabriela Beraldo e Vanessa Martina Silva, direto de Sharti, Rostov do Dom, Rússia.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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