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Jornalista do Wall Street Journal condenado a 16 anos de prisão por espionagem na Rússia

Evan Gershkovich foi sentenciado em julgamento rápido a portas fechadas em Yekaterimburgo, após ser acusado pelo FSB de espionagem em nome dos EUA.
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Em um julgamento a portas fechadas que surpreendeu por sua celeridade, apenas três sessões, a corte regional de Sverdlovsk na cidade de Yekaterimburgo, peculiar capital dos Urais que separa as partes europeia e asiática da Rússia, condenou nesta sexta-feira ao jornalista estadunidense Evan Gershkovich, correspondente em Moscou do diário Wall Street Journal, a 16 anos de prisão em regime penitenciário de máxima segurança ao considerá-lo culpado de “espionagem”.

O Serviço Federal de Segurança (FSB, por sua sigla em russo, sucessor da KGB soviética) deteve a Gershkovich, de 32 anos, em 29 de março de 2023 no restaurante Bukovski Grill, de Yekaterimburgo. O jornalista havia viajado à região de Sverdlovsk para recolher informação e fazer entrevistas. 

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Segundo um dos entrevistados por Gershkovich, o deputado municipal Viacheslav Vegner –em declarações ao portal de notícias 66.ru, muito popular Nos Urais -, o enviado do Wall Street Journal lhe perguntou acerca da atitude dos habitantes da terceira cidade russo em importância a respeito da “operação militar especial” que lançou o presidente Vladimir Putin na Ucrânia, o que pensa as pessoas comuns sobre o grupo de mercenários Wagner (de Yevgueni Prigozhin, magnata caído em desgracia quando ordenou uma falida rebelião, se distanciou de seus protetor , o presidente Putin, e morreu em agosto de 2023 ao cair seu avião privado, e a reconversão da indústria local em tempos que não são de paz. 

Motivos da prisão de Gershkovich

Ao anunciar sua prisão, o FSB emitiu um breve comunicado no qual acusou a Gershkovich de “tratar de conseguir, em interesse do governo de Estados Unidos (depois se especulou que se referia à CIA, a Agência Central de Inteligência), informação classificada como segredo de Estado sobre uma das empresas do complexo industrial-militar da região”, que a imprensa local identificou de imediato com o consórcio Uralvagonzavod, famoso por fabricar e reparar tanques.

Os porta-vozes do Kremlin, Dimitri Peskov, e da chancelaria, María Zajarova, assinalaram em seu momento que o FSB deteve a Gershkovich “em flagrante” e que “não era o primeiro caso em que se usava o status de jornalista estrangeiro, credenciado ante o ministério de Relações Exteriores da Rússia, para realizar atividades que não tem que ver com o jornalismo”. 

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De acordo com seu advogados, o jornalista negou as acusações e se declarou inocente na primeira sessão de julgamento contra eles, em 26 de junho, enquanto a promotoria insistiu em sua culpabilidade e solicitou nesta sexta-feira, na terceira e última sessão, uma pena de 18 anos de privação da liberdade, do máximo de 20 anos que estipula o Código Penal russo por “espionagem”.

Provável intercâmbio

O fato de que a Corte satisfez a petição do promotoria e adiantou para quinta-feira desta semana a segunda sessão que estava prevista para 13 de agosto e que um dia mais tarde, nesta sexta-feira, o juiz emitiu em apenas quatro minutos seu veredito, parece indicar que já há avanços na negociação soterrada para intercambiar o jornalista com algum cidadão russo detido e condenado em Estados Unidos ou em país aliado a ele. 

Prática habitual mostra que a Rússia aceita ditas trocas – com o mais recente que foi do jogador de basquete estadunidense Brittney Griner e o traficante de armas Viktor Bout em dezembro de 2021 – quando os presuntos imputados em um delito grave neste país já são condenados pela justiça. 

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No caso de Gershkovich o intercâmbio dependerá de se sua defesa apresenta ou não recurso de apelação, o que só pode adiar a data de sua libertação. Desde o momento mesmo de sua detenção o governo dos Estados Unidos começou a gestar uma possível troca, sem que os negociadores de ambos os lados tenham podido pôr-se de acordo sobre quem incluir no intercâmbio de presos. “Creio que se pode chegar a um entendimento”, respondeu o presidente Vladimir Putin na entrevista que concedeu em 8 de fevereiro passado, ao controvertido jornalista estadunidense Tucker Carlson, que lhe perguntou se estava considerando uma troca.

Putin reconheceu que havia contatos a respeito, mas disse que este tipo de negociações são efetivas quando não saem à luz pública. Deu a entender que a Rússia estava interessada a intercambiar a Gershkovich, depois de ser julgado, por “um patriota que estimou fazer justiça a um sangrento criminoso”. 

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O mandatário russo, parece que se referia a um agente do FSB, Vadim Krasikov, condenado a prisão perpétua na Alemanha por assassinar, em agosto de 2019, en um parque de Berlim ao ex-comandante separatista checheno de origem georgiana, Zelimjan Jangoshvili, mas há muitos outros casos de estadunidenses e russos que poderiam ser parte de um intercâmbio. 

Cria-se precedente

O caso de Gershkovich, na opinião do advogado Yevgueni Smirnov, cria um precedente porque é a primeira vez que a Rússia condena a jornalista estrangeiro por “espionagem”. Desde que se dissolveu a União Soviética em 1991, nunca havia passado, se bem que preferia expulsar os jornalistas que “realizavam atividades incompatíveis com seu status”.

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De um tempo para cá, o ministério de Relações Exteriores, alegando reciprocidade, costuma anular a credencial e o visto de um jornalista, dando um prazo breve para abandonar o país.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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