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Pedro Sánchez apresenta ações contra fake news enquanto lei mordaça segue em pauta

Pedro Sánchez pretende reformar uma série de leis para sancionar com mais dureza as campanhas de desinformação, entre elas a que tem acusado sua esposa de corrupção
Armando G. Tejeda
La Jornada
Madri

Tradução:

Beatriz Cannabrava

O presidente do governo espanhol, o socialista Pedro Sánchez, apresentou ante o Congresso dos Deputados as “linhas gerais” ou o “esqueleto” do seu chamado “plano de regeneração democrática”.

Ele pretende reformar uma série de leis para sancionar com mais dureza as campanhas de desinformação através das chamadas “fake news” e delimitar o marco jurídico e administrativo para as campanhas publicitárias nos meios de comunicação, visando excluir os “pseudomeios” e “pseudojornalistas”.

Sánchez compareceu ante o Parlamento sem um plano concreto, e disse que iniciará “nas próximas semanas” uma rodada de contatos com os grupos parlamentares para levar adiante sua iniciativa.

Reações e contexto

Há mais de dois meses, Sánchez considerou a possibilidade de renúncia após as notícias publicadas sobre sua esposa, Begoña Gómez, e o início de ações penais contra ele pelos supostos delitos de tráfico de influências e corrupção nos negócios.

O mandatário espanhol atribui tanto as notícias publicadas na imprensa como o processo judicial aberto contra ele a uma campanha da “ultradireita” e fruto da “máquina do lodo” ativada contra ele desde que assumiu o poder, há cinco anos.

Leia também: “Objetivo do Vox e PP é que eu renuncie”, reitera Sánchez sobre investigação contra Begoña Gómez

Sánchez anunciou também um pacote de 100 milhões de euros para a digitalização dos meios de comunicação, além da aprovação de uma reforma legal para reforçar o direito à retificação da cidadania e mudanças na chamada “lei mordaça” no que diz respeito à liberdade de expressão.

Sánchez advertiu que a democracia “está em risco por velhos inimigos que questionam os resultados eleitorais, distorcem a realidade com as notícias falsas, desinformam e intoxicam o debate público”.

Leia também: Espanha: após ataques da ultradireita, Sánchez anuncia ferramentas contra fake news

Desde a oposição, tanto o Partido Popular (PP) como o Vox questionaram o interesse de Sánchez em aprovar estas novas leis e reformas, alegando que ele pretende silenciar os meios de comunicação que, nas últimas semanas, publicaram notícias que vinculam sua esposa com a trama de corrupção.

Lei mordaça permanece intacta

Por outro lado, o Sumar, partido minoritário do governo de coalizão, informou de surpresa que chegou a um “acordo” com o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) para a “revogação” da chamada “lei mordaça”, uma normativa aprovada durante a administração do direitista Mariano Rajoy e que prometeu eliminar desde a chegada ao poder da esquerda, há cinco anos.

Apesar do anúncio, formulado por sua líder, Yolanda Díaz, a parte socialista do Executivo descartou tal medida extrema e assinalou que talvez haja algumas mudanças na lei, mas não a revogação total.

Leia também: ONU pede que Espanha proteja memória do país de políticas negacionistas do PP e Vox

Um dos estandartes dos partidos de esquerda nas eleições gerais desde 2016 até hoje, período no qual ocorreram até quatro eleições nacionais, era precisamente o da revogação total da “lei mordaça”, uma normativa que concede às Forças e Corpos de Segurança do Estado uma série de prerrogativas que, na sua opinião, facilitam a repressão e o silenciamento da oposição e do protesto nas ruas.

Após cinco anos no poder, a lei continua intacta, apesar de terem duas legislaturas com maioria entre os sócios de investidura para revogá-la.

Caso de corrupção contra Begoña Gómez

O empresário espanhol Juan Carlos Barrabés testemunhou ante o juiz de Madri, Juan Carlos Peinado, em relação à causa aberta por supostos delitos de corrupção nos negócios e tráfico de influência contra Begoña Gómez, esposa de Pedro Sánchez.

Barrabés, também amigo e sócio da investigada, reconheceu que se reuniu pelo menos em duas ocasiões com Sánchez e sua esposa em La Moncloa, mas negou que estes encontros tivessem relação com seus negócios e com os mais de 20 milhões de euros de contratos públicos.

Leia também: “Objetivo do Vox e PP é que eu renuncie”, reitera Sánchez sobre investigação contra Begoña Gómez

O juiz Peinado admitiu a denúncia do sindicato ultradireitista Manos Limpias contra Begoña Gómez, em relação às suas atividades profissionais através do empresário Barrabés e da Universidade Complutense de Madri, onde criou um curso de mestrado em negócios e desenvolveu um plano de estratégia empresarial para impulsionar na África.

Investigação ainda está em fase inicial

A investigação judicial, que está em fase inicial, situa o empresário Barrabés como uma das peças fundamentais no plano educativo e empresarial da esposa do mandatário, além de outros executivos espanhóis, como o presidente de Air Europa, Javier Hidalgo, e o comissionista vinculado a esta linha aérea espanhola, Víctor de Aldama.

O testemunho de Barrabés é um dos mais importantes da fase inicial do processo, em que se estão recolhendo os dados e contrastando algumas das provas aportadas pela Guarda Civil e pela parte acusadora. O empresário estava hospitalizado por uma grave enfermidade, o que atrasou alguns dias o seu comparecimento. Inicialmente, estava previsto que o depoimento fosse realizado no hospital, mas ele conseguiu comparecer no juizado.

Leia também: PP e Vox, de direita e ultradireita, ignoram violência política contra mulheres na Espanha

Revelou que “manteve entre cinco e oito” reuniões diferentes em Moncloa com Begoña Gómez e que em duas delas Pedro Sánchez estava presente. O presidente do governo abandonou um dos encontros após receber uma chamada telefônica.

Segundo o empresário, o objetivo dessas reuniões era falar sobre inovação e aconteceram em “época pós-pandemia”. Informou ainda que, em alguns desses encontros, esteve presente Manuel de la Rocha, então secretário-geral e agora atual secretário de Estado do Departamento de Assuntos Econômicos e G20 no Gabinete da Presidência.

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Durante o depoimento, nem a Promotoria Geral do Estado, que pediu o arquivamento da causa por considerá-la injustificada, nem a defesa de Begoña Gómez, representada pelo ex-secretário de Estado de Segurança, Antonio Camacho, questionaram o empresário sobre o processo.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Armando G. Tejeda Mestre em Jornalismo pela Jornalismo na Universidade Autónoma de Madrid, foi colaborador do jornal El País, na seção Economia e Sociedade. Atualmente é correspondente do La Jornada na Espanha e membro do conselho editorial da revista Babab.

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