No atual cenário político que atravessa o mundo, a América Latina e o Brasil, com o crescimento da onda extremista que corrói os processos democráticos e intensifica cada vez mais os discursos de ódio, a vitória dos grupos progressistas nas eleições municipais 2024 no território brasileiro seria uma grande vitória. No entanto, observando os registros das candidaturas de cada município, nos cai “um balde de água fria” ao vermos como, em todas as regiões do País, siglas ditas progressistas estão coligados com agremiações cujos discursos distam bastante das concepções progressistas.
Em todas as regiões brasileiras, as eleições municipais nos revelam dados desalentadores. Um exemplo emblemático, que eu chamaria, no mínimo, de decepcionante, ocorre com os dois principais partidos, PL e PT. Eles aparecem juntos, no mesmo palanque, em mais de 80 candidaturas.
O PDT, que diz defender os direitos das crianças, das mulheres, dos trabalhadores, assim como lutar contra o racismo (entre outras bandeiras progressistas), mancha sua identidade quando se alia a siglas como o PP (Partido Progressista), que de progressista só tem mesmo o nome. O seu Presidente, senador Ciro Nogueira, é bolsonarista “de carteirinha”. Ele assumiu como titular do Ministério da Casa Civil, em 2021, no governo de Jair. E também, em 2023, apresentou Projeto de Lei propondo perdoar todos os candidatos a presidente e vice-presidente que “tenham sido processados, condenados ou declarados inelegíveis pela prática de crimes eleitorais”. Claro que a intenção maior era liberar Jair para futura candidatura. Não é de hoje que o PDT mancha sua reputação. Pedetista histórico, Leonel Brizola deve estar se revirando no túmulo diante dessas alianças do seu partido.
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E poderíamos fazer uma longa lista, o que não é necessário, já que, ao que parece, em nosso país as ideologias foram jogadas na lata do lixo faz tempo. O que tem sido levado em conta é o poder, ainda efêmero. Nem que para isso abra-se mão da decência e da coerência. Isso me faz lembrar da letra “Ideologia” – canção escrita por Cazuza, que também foi título do Álbum lançado pelo artista em 1988 –, que em uma parte dizia: “Meu partido é um coração partido […] os meus sonhos foram todos vendidos, tão barato que eu nem acredito […]”.
O que dizer ou esperar das próximas eleições municipais diante desse cenário? É possível ter esperança de um país melhor? Penso que não! Porque não dá para acreditar em quem se diz de esquerda, ou progressista, e se junta com a direita. Isso enfraquece as bandeiras progressistas e, muitas vezes, gera desesperança em muitas pessoas que deixam de acreditar que a participação política ativa é importante para a transformação da sociedade. Porque essas atitudes reforçam o discurso de que “todos são iguais”. Embora saibamos que não seja assim, porque há candidaturas de esquerda que mantiveram coerência, esse é o discurso que infelizmente prevalece, porque sabemos que a verdadeira esquerda carece inclusive de visibilidade.
Verbena Córdula | Grupos oprimidos nas eleições municipais: representação ou representatividade?