Pesquisar
Pesquisar
Ao centro, Salvador Illa, candidato do Partido Socialista da Catalunha (PSC) (Foto: PSC)

Vitória do socialismo e perda apoio ao separatismo: o resultado das eleições na Catalunha

Grande vencedor foi Salvador Illa, candidato do PSC; bloco independentista somou 61 deputados, muito longe da maioria absoluta
Armando G. Tejeda
La Jornada
Madri

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Salvador Illa, candidato do Partido Socialista da Catalunha (PSC) e ex-ministro da Saúde no governo de Pedro Sánchez durante os anos da pandemia, tornou-se no último domingo (12) o grande vencedor das eleições autonômicas, nas quais, pela primeira vez em mais de uma década, o bloco de partidos independentistas sofreu um duro revés ao obter apenas 43% dos votos. O PSC, com 42 deputados, precisará negociar um acordo de governo com as outras duas forças de esquerda, Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), com 20 deputados, e Comuns Sumar, com seis.

O grande derrotado foi o ex-presidente catalão e líder do processo separatista Carles Puigdemont, que se comprometeu durante a campanha a deixar a primeira linha da política se não conseguisse governar novamente. A extrema-direita avançou: o partido espanholista Vox e a independentista Aliança Catalã somaram 13 deputados e quase 400 mil votos.

Leia também | Universidades da Espanha defendem suspensão de acordos com instituições israelenses

Com uma participação de 57,97%, os catalães elegeram seus representantes no Parlamento, que ficará distribuído da seguinte forma: PSC, 42 deputados; Junts per Catalunya (JxCat), 35; ERC, 20; Partido Popular (PP), 15; Vox, 11; Comuns Sumar, seis; Candidatura de Unidade Popular (CUP), quatro, e a extrema direita separatista da Aliança Catalã, dois deputados.

Secessão perde força

O chamado bloco independentista somou 61 deputados, muito longe da maioria absoluta, o que confirma que o chamado “processo” de secessão do Estado espanhol perde apoio entre a sociedade catalã, que se inclinou para o autonomismo, pedra angular do projeto do PSC.

As duas forças de esquerda independentistas perderam terreno: a ERC, que de 33 cadeiras passou para 20, enquanto a CUP, força anticapitalista, passou de nove para quatro assentos em relação às eleições de 2021. Do lado da direita nacionalista, o JxCat passou de 33 para 35. Em resumo, o bloco independentista obteve 61 assentos, cerca de um milhão e 400 mil votos, o que representa 43% das preferências eleitorais.

Leia também | Espanha: após ataques da ultradireita, Sánchez anuncia ferramentas contra fake news

Os integrantes do outro bloco, embora com tendências muito diversas, têm em comum o fato de não serem partidários da separação do Estado espanhol e somaram 74 deputados, o que representa cerca de um milhão e 700 mil votantes, 57%.

Nova etapa

Illa, o grande vencedor, afirmou diante de seus partidários que “os catalães decidiram abrir uma nova etapa, provavelmente devido às políticas seguidas pelo governo da Espanha e pelo presidente Pedro Sánchez. Esta será uma nova era para todos, pensem o que pensarem, falem a língua que falarem e venham de onde vierem. Nenhum catalão ficará fora desta etapa que agora abrimos”. Ele também se comprometeu a liderar as negociações para formar governo.

O candidato da ERC e até então presidente da Catalunha, Pere Aragonés, reconheceu sua derrota e anunciou que sua formação trabalhará pelo país “a partir da oposição”, aparentemente fechando a possibilidade de se unir a um governo com o PSC.

Leia também | ONU pede que Espanha proteja memória do país de políticas negacionistas do PP e Vox

Enquanto isso, do sul da França, onde fez a maior parte da campanha, o ex-presidente Puigdemont comemorou o crescimento em cadeiras, ao mesmo tempo em que felicitou o PSC. A nova figura da extrema-direita independentista, Silvia Orriols, comentou em um evento no qual vetou a entrada da imprensa: “como sempre dissemos, condicionamos nosso apoio aos independentistas para chegar a um acordo de Estado. Nós agiremos como sempre dissemos, lutando por aquilo que apoiamos. Não felicitarei presidentes imperialistas”, afirmou, em alusão ao presidente do PSC.

Quais eram as expectativas?

A expectativa para as eleições autônomas do último domingo (13) na Catalunha, de acordo com as pesquisas publicadas até agora, era de que seria uma disputa entre os dois favoritos: o Partido Socialista da Catalunha (PSC), que poderia alcançar até 40 assentos e ser o mais votado, e Junts per Catalunya (JxCat), que representa o nacionalismo conservador liderado pelo ex-presidente Carles Puigdemont e que poderia chegar a 33 deputados.

O Parlamento catalão é composto por 135 assentos, o que significa que a maioria necessária para avançar com uma sessão de investidura é de 68 deputados, o que tornaria necessário que os partidos políticos fizessem acordos com várias forças devido à previsível fragmentação do voto.

O cenário mais provável, segundo as pesquisas, era o seguinte: o PSC seria o partido mais votado, com entre 37 e 40 deputados, seguido de perto pelo JxCat, que recuperaria a hegemonia no bloco nacionalista com entre 30 e 35 deputados, enquanto o governante Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) obterá entre 24 e 26 deputados. O restante do arco parlamentar seria composto pela direita espanhola do Partido Popular (PP), que somaria entre 11 e 13 assentos, e pela extrema direita do Vox, que obteria entre 9 e 11 deputados. Além da plataforma de esquerda En Comú Podem, que teria seis, e da Candidatura de Unidade Popular (CUP, esquerda anticapitalista), que chegaria a cinco assentos. O partido de extrema direita e independentista, Aliança Catalã, irromperia com força em sua primeira participação em eleições autonômicas, com entre um e três deputados.

Com essa fragmentação do voto, o partido vitorioso a presidir o Executivo catalão teria que negociar com uma ou várias formações políticas, seja do bloco independentista (JxCat, ERC e CUP), dos partidos autonomistas de esquerda (PSC e En Comú Podem), da direita espanhola (PP e Vox) ou, finalmente, da extrema direita separatista (Aliança Catalã).

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Armando G. Tejeda Mestre em Jornalismo pela Jornalismo na Universidade Autónoma de Madrid, foi colaborador do jornal El País, na seção Economia e Sociedade. Atualmente é correspondente do La Jornada na Espanha e membro do conselho editorial da revista Babab.

LEIA tAMBÉM

Rússia Uso de minas antipessoais e mísseis Atacms é manobra dos EUA para prolongar conflito
Rússia: Uso de minas antipessoais e mísseis Atacms é manobra dos EUA para prolongar conflito
Após escalar conflito na Ucrânia com mísseis de longo alcance, EUA chamam Rússia de “irresponsável”
Após escalar conflito na Ucrânia com mísseis de longo alcance, EUA chamam Rússia de “irresponsável”
Misseis Atacms “Escalada desnecessária” na Ucrânia é uma armadilha do Governo Biden para Trump
Mísseis Atacms: “Escalada desnecessária” na Ucrânia é armadilha do Governo Biden para Trump
1000 dias de Guerra na Ucrânia estratégia de esquecimento, lucros e impactos globais
1000 dias de Guerra na Ucrânia: estratégia de esquecimento, lucros e impactos globais