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ToggleAs redes sociais estão a contribuir com fim da política como a arte da convivência e construção do bem-estar, mais do que organizar governos e estados. Assim também os partidos políticos estão corroborando para o fim da política. Claro que há exceções, mas esta é a regra imposta pela maioria.
Pesquisa realizada pelo Datafolha, em meados de dezembro, constatou que apenas 10% da população aprova a atuação do Congresso Nacional. Quase a metade acha ruim ou péssimo o desempenho dos deputados e senadores da atual legislatura. É muito grave e contribui para o descrédito da política.
Os partidos políticos perderam o sentido para o qual foram criados, o de aglutinar parte da sociedade em torno de uma ideia, um programa de governo e um projeto de país, e seguindo as regras do jogo da democracia formal, disputar e exercer o poder.
Deixaram de ser partido estrito senso e estão a perder filiados.
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Segundo reportagem do Globo, publicada no último dia do ano, os partidos no poder perderam meio milhão de filiados. Quem mais perdeu foi o Partido Social Liberal (PSL): 400 mil abandonaram o partido. Era um minúsculo partido, ganhou músculo no bojo da farsa eleitoral de 2018, ao abrigar a candidatura dos militares, encabeçada pelo capitão Jair Bolsonaro tendo o general Hamilton Mourão de vice.
Seguem em desfiliação, o Movimento Democrático Brasileiro, antigo PMDB (MDB) com saída de uns 37 mil; Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) com 26 mil abandonos; Progressistas (PP) 26 mil; Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) 20 mil; Partido Democrata Trabalhista (PDT) 18 mil; Democratas (DEM) 18 mil; Partido Liberal (PL) 12 mil; Partido Socialista Brasileiro (PSB) 8 mil; e Partido Novo 8 mil.
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Entre os que ganham com adesão de novos militantes, o Partido dos Trabalhadores (PT) foi o grande campeão, com 63 mil de um total de 80 mil novos filiados nos vários partidos. Os dados foram computados entre novembro de 2020 e dezembro de 2021. Seguem em número de novos filiados: Republicanos, com 3.700; Avante 3.200; Partido Socialismo e Liberdade (Psol) 1.500; Partido Trabalhista Cristão (PTC) 820; e Unidade Popular (UP) 200.
Sem consistência ideológico-programática, o PSL está sendo esvaziado,. Detinha a segunda maior bancada na Câmara Federal, contudo, com a recente fusão com o DEM, transformado em União Brasil (UB), passou a ser o partido com a maior bancada e com mais recurso financeiro. O novo partido compõe o que vulgarmente se chama de Centrão, o conjunto de bancadas que se move ao sabor de quem dá mais.
Outras Palavras
País que abandona a juventude é país sem futuro
Juventude a maior vítima
A juventude é a maior vítima do desgoverno que assola o país. Desgoverno no sentido de ausência total de políticas públicas, pois os militares que ocupam o poder governam sim, a cada dia praticam atos em benefício próprio e aprovam uma maldade em detrimento da soberania e dos direitos de cidadania.
O que será de um país que não cuida de seu mais precioso tesouro, a juventude?
Desprezar a juventude é dar as costas ao futuro. Está na manchete dos jornais: 30% da população até 29 anos nem estuda nem trabalha. Os Nem-Nem da desesperança. Eram 29 milhões em 2019, chegou a 35 milhões em 2020 e fechou este ano em 30,5 milhões, segundo levantamento feito pela Idados, publicado dia 3/1/22.
Outra pesquisa dizque 51% dos jovens não confiam nos partidos políticos.
É muito grave, pois os partidos são os principais instrumentos para se fazer política. 41% afirmam confiar um pouco e só 4% confiam muito, é o que revela pesquisa feita pelo Ipec, a pedido da Fundação Tide Setúbal. Aí está o grande desafio para os democratas, para todos os que almejam construir pátria através da política. Conquistar e organizar a juventude. Resgatar a juventude para a boa escola.
Candidatos como objeto de consumo
Candidatos, já há algum tempo, são apresentados aos eleitores como se mercadoria fossem. Satisfação de um desejo de consumo estimulado pelo espetáculo, numa sociedade líquida que se evapora, não se cristaliza como nação. Programa de governo? Projeto de país? Nada disso importa. O que importa é a ilusão criada.
Com o neopentecostalismo e a direita radical de um lado, e a mentalidade militar de outro, além da destruição do Estado Nacional estão a liquidar com a política para assim assegurar a estratégia do caos. Usam todos os recursos para pregar a ideia do bem contra o mal, o céu ou o inferno, amigo ou inimigo.
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Desaparece o adversário político na disputa da gestão do Estado, com que haverá de colaborar, concluído o processo eleitoral. No lugar do adversário com quem conviver, o inimigo que deve ser não só derrotado, mas exterminado, borrado do mapa, como explicitado em discursos dos militares que ocupam o poder.
“Fui treinado para matar”, confessa o capitão colocado na Presidência da República com a missão de praticar o diversionismo. Distrair a atenção das massas das coisas que sim importam, a prática diária de desmontagem do Estado, alienação das riquezas nacionais, desregulamentação do trabalho, violação dos mais elementares direitos humanos que é o direito à vida, viver com dignidade.
Papel deletério das redes sociais
Nesse contexto, as redes sociais estão sendo transformadas, cada dia mais, em campo de batalha de uma guerra que é cultural, que é cibernética. Os algoritmos selecionam e mapeiam onde estão os pensamentos convergentes e divergentes, e os ciber-milicianos e a inteligência artificial fazem o resto. O divergente é o inimigo, tem que ter suas asas cortadas, não poder voar, se tentar é bloqueado, expulso da rede.
As redes mais utilizadas são todas de matriz estadunidense, desenvolvidas por monopólios que acumularam as maiores fortunas em dinheiro em todo o mundo. São regidas pelo deus dinheiro, e quem atrapalhar está fora. Junto com a teologia da prosperidade as redes e os templos neopentecostais estão sendo usados como arma de comunicação na estratégia de dominação do Imperialismo dos Estados Unidos e seus aliados.
Brasil de volta ao período colonial, produtor de commodities de exportação, fornecedor de matéria prima e mão de obra baratas para o maior desenvolvimento dos países ricos e enriquecimento dos manipuladores do capital no grande cassino global.
Não há debate entre contrários porque simplesmente não há um lado contrário.
É assim que raciocinam os militares, as ditaduras, é assim que está desenhado o mundo pelos estrategistas do caos. A ditadura é a do pensamento único imposta pelo capital financeiro. E a mais grave das servidões, que é a servidão intelectual, a impedir o desenvolvimento dos contrários.
Utilizando as redes sociais e muito dinheiro, a Cambridge Analytica atuou para influenciar nas eleições em mais de 60 países, entre eles a eleição de Donald Trump em 2016 nos Estados Unidos e a eleição de Jair Bolsonaro no Brasil em 2018. Antes atuara para conseguir aprovação do Brexit, na Velha Inglaterra.
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Cabe ao Estado criar os mecanismos de defesa
A guerra é cultural e cibernética. A arma principal são as mortíferas palavras. Diante disso, a Suécia instituiu, no primeiro dia deste 2022, a Agência Sueca de Defesa Psicológica. Os suecos se deram conta de que a sociedade democrática e as liberdades estão sendo ameaçadas e que cabe ao Estado tomar as medidas defensivas, com critério de defesa total – abarcando todas as áreas, inclusive a psicológica, como informou o sítio web Defesanet.
Da Agência sueca participam civis e militares com a missão de aumentar a capacidade do país de identificar e combater a influência de informações malignas estrangeiras, desinformação e outras divulgações de informações enganosas dirigidas contra o país.
Perceberam que a ameaça vem de fora.
A ocupação do poder no Brasil se deu por meio de uma guerra cultural
A Rússia e a China costumam recorrer à atividade com vistas a influenciar na informação, diz o comunicado da agência sueca, mas, podemos ver novos atores envolvidos nessas atividades. Essa menção à Rússia e a China mais parece um adorno pra agradar aos Estados Unidos, pois não dá para acreditar que a inteligência sueca não saiba de onde vem o perigo real.
Como distorcem a informação
Vale ilustrar narrando um episódio. Todos os dias, por todas as partes, a Polícia Militar executa algum jovem negro. Uma charge do cartunista Latuf, mostra um militar com a suástica no ombro da farda e viraliza nas redes. Numa escola na periferia de Brasília, professores e alunos se reúnem para discutir as questões relacionadas com a violência –violência de gênero, violência do Estado.
Entre as atividades decorrentes, montam painéis com material produzido alí mesmo ou recolhido na internet, entre os quais, o desenho de Latuf. Vale dizer que a violência é o cotidiano dessa juventude e que a escola tem a direção compartilhada com os militares. Os professores cuidam da educação, os militares da disciplina e da segurança.
Por conta da suástica sugerindo que a PM é fascista, os corpos docente e discente foram acusados de preconceito pela corporação militar, com repercussão na mídia e mobilizando parlamentares da frente de apoio ao governo de ocupação. A Associação dos Polícia Militares alega que preconceito é crime passível de ser punido judicialmente e abriu processo judicial contra a professora.
É assim que funciona. A PM mata e aqueles que denunciam são processados judicialmente. E isso com apoio da mídia e de parlamentares. E o que é pior, com a conivência da justiça.
Cenário de guerra para a eleição de 2022
Nesse cenário os brasileiros entramos em 2022, ano eleitoral. O cenário não é político-eleitoral, é, como vimos, campo de batalha de uma guerra cultural e cibernética cujo fim é assegurar a continuidade dos militares no poder e a dependência ao Império. As forças armadas planejaram durante dez anos a captura do poder com a intenção de nele permanecer por pelo menos 30 anos.
O cabeça de chapa da continuidade, ou seja, reeleição do capitão Jair Bolsonaro, aparece nas pesquisas de intenção de voto como está a perder alguns pontos. Faz parte. É previsível, considerando as circunstâncias. A meta é consolidar aquele mínimo de fieis a toda prova, talvez uns 15% e ir para o pleito com um mínimo de 25%, tentar obter pelo menos 30% dos votos. No segundo turno, a direita estará, como sempre, unida para dar os 20% necessários para garantir a vitória.
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Para os dissidentes, aqueles desiludidos com o capitão, e também para os nem-nem (nem Bolsonaro, nem Lula), está lançada a candidatura de Sérgio Moro, o “paladino” da luta contra a corrupção. Se Moro alcançar de 10% a 15% estará garantido um segundo turno.
Se no frigir dos ovos Moro superar Bolsonaro, só mudará a cabeça de chapa, no lugar de um capitão medíocre, um advogado diminuto e corrupto, tendo como vice, claro, um general, o Santos Cruz, já filiado ao Podemos, mesmo partido de Moro, o preferido de Washington.
Essa possibilidade existe, porque a campanha do candidato preferencial dos Estados Unidos contará com todo o dinheiro do mundo, e… no Brasil…. o dinheiro conta mais que as ideologias e programas de governo. Basta ver o assalto programado como o que foi feito com o Orçamento da União.
Outra possibilidade é Moro desistir. Há muito chumbo grosso a ser disparado contra ele, dado pela própria Suprema Corte do país, que julgou improcedente sua atuação na Lava Jato, e anulou todas as sentenças por ele proferidas contra Lula. Tentará então ser senador para ter imunidade, escapar de ser julgado e preso. Moro deveria estar na cadeia.
Outro cenário é Bolsonaro morrer ou renunciar por questões de saúde. Segundo fontes confiáveis, ele tem as vísceras dilaceradas. Ele sai, alívio geral, assume o vice, general Hamilton Mourão, que preside as eleições e se candidata a reeleição com um civil do centrão de vice. Tudo como dantes no quartel de Abrantes. Aliás, essa conversa de dar a vice presidência para o centrão já vem sendo articulada desde finais do ano passado.
Por tudo isso, as apostas de Lula têm que concentrar em vencer no primeiro turno.
É hora de mostrar ao povo o caráter plebiscitário do pleito que transcorre em cenário de guerra. O retorno dos civis versus a continuidade dos militares, desenvolvimento versus estagnação, soberania versus entreguismo, independência versus submissão ao Império.
Esse é o busílis da questão política brasileira
Moro deveria estar preso, por traição à pátria e o governo militar deveria ter sido deposto antes mesmo de tomar posse por ter fraudado a eleição. Isso, obviamente, não aconteceu, simplesmente porque, tanto o Poder Judiciário como o Poder Legislativo, formam parte do complô.
O Judiciário, desde sempre, foi criado — assim como os juristas são educados — para defender a propriedade privada e o poder da classe dominante a que pertencem. No Legislativo, onde poderia haver diferenças, e as há, impõem-se a ditadura de uma maioria defensora do status quo. Impressionante o baixo nível dos deputados e senadores na atual legislatura.
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Desde 2016, para não ir mais longe na história, com a deposição da presidente Dilma Rousseff e a subsequente prisão do ex-presidente Lula, ao mantê-lo preso negando-lhe habeas corpus e, com isso, impedindo-o de disputar uma eleição em que aparecia em todas as pesquisas como vencedor, já estava caracterizado o golpe de Estado, a atuação da inteligência militar para a captura do poder “legitimada” pelo voto.
O planejamento da operação de captura do poder através dos mecanismos da democracia foi realmente uma grande jogada. Contou com a “ajuda” técnica e financeira dos Estados Unidos através de suas instituições de Estado e de organizações privadas controladas por magnatas interessados em impor no mundo a ditadura do pensamento único.
Estará Lula em condições de reverter a situação?
O ex presidente Lula está a mobilizar em torno da ideia de que ele pode reverter essa situação, derrotando seus algozes nas urnas.
Lula que se cuide. Poderá voltar para a cadeia se os magnatas e os militares a serviço deles perceberem que constitui uma ameaça real de mobilizar as grandes massas. É disso que eles têm medo. Precisamente as grandes mobilizações constituem a única maneira de enfrentar a ditadura. É aí que está o grande problema. Quem mobiliza?
Esses algozes no poder não só torturaram o ex-presidente como atingiram a toda a população. Estão visíveis os resultados em todos os indicadores, sejam econômicos, políticos ou sociais. 14 milhões de desempregados; 100 milhões de brasileiros excluídos da economia formal; 620 mil mortos pela Covid 19; indígenas massacrados, florestas derrubadas e queimadas, as riquezas minerais saqueadas.
Qual a saída? O que fazer? Como fazer?
Essas são as perguntas que deveriam estar a dominar o ambiente nesta campanha eleitoral já iniciada.
A saída é pela esquerda ou pela direita?
Sem dúvida, a direita teria condições de armar uma alternativa civil para a continuidade do neoliberalismo ou dar outro rumo capitalista ao Estado. Mas, como se trata de uma lumpem oligarquia, e a burguesia não se firmou como classe, preferiu compor com os militares. É histórico isso.
Só pode haver alternativa à ditadura do neoliberalismo: pela esquerda.
Mas… o problema da esquerda, diz o sábio e experiente Pepe Mujica, é juntar-se. Ou seja, a união da esquerda, é o grande desafio para a restauração do poder civil e reconstrução da democracia.
Paulo Cannabrava Filho, editor da Diálogos do Sul
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