A Casa Branca atacou seus próprios funcionários enquanto declaravam nas audiências para avaliar a formulação de denúncias contra Donald Trump, e os republicanos continuaram sua estratégia de desqualificar toda testemunha – inclusive sua lealdade ao país – que se atreva a questionar o presidente.
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Quatro funcionários compareceram no terceiro dia (19) de audiências públicas ante o Comitê de Inteligência da câmara baixa como parte da investigação de abuso do poder e outras possíveis denúncias contra Trump; dois deles foram as primeiras testemunhas que escutaram pessoalmente a chamada telefônica de 25 de julho entre o presidente e sua contraparte ucraniana que detonou todos este processo.
Mas o mais notável não foi a informação proporcionada, mas sim o ataque da Casa Branca contra seu próprio especialista sobre a Ucrânia.
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O tenente coronel Alexander Vindman que ainda é empregado ativo do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca – embora segundo ele já não é convidado a várias reuniões em que antes participava – foi atacado por um tuíte da conta oficial da Casa Branca enquanto declarava, com uma citação de um superior expressando que “tinha preocupações” sobre o militar.
Twitter Trump / Reprodução
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Vindman reportou, segundo seu depoimentos nas sessões a portas fechadas deste processo e reiterou hoje, que ele alertou o advogado principal do Conselho de Segurança Nacional sobre aspectos “impróprios” da conversa de Trump com sua contraparte ucraniana Volodymyr Zelensky.
Desde então e de novo hoje, políticos e comentaristas aliados de Trump começaram a acusá-lo de ter lealdades “questionáveis”, sugerindo que talvez fosse espião – Vindman nasceu na Ucrânia e sua família migrou a este país quando ele tinha 3 anos de idade – como parte de um óbvio esforço para desqualificar o mensageiro.
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Mas Vindman não pareceu intimidado, e hoje explicou que reportou a famosa chamada entre os mandatários aos advogados do Conselho de Segurança Nacional porque considerava que é “impróprio” que o presidente estadunidense “exija de um governo estrangeiros uma investigação de um cidadão estadunidense e opositor político”.
Em uma mensagem de repúdio às táticas dos soldados de Trump, Vindman, em sua declaração inicial elogiou os valores da democracia estadunidense, seu orgulho como militar, e sua origem migrante e assegurou ao seu pai : “não se preocupe, estarei perfeitamente bem por dizer a verdade ante os representantes eleitos do povo estadunidense”.
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No entanto, os republicanos continuaram buscando maneiras de desqualificar o veterano de guerra condecorado, demonstrando uma vez mais a disposição do presidente e de sua gente de continuar atacando até “heróis” e servidores públicos deste país, inclusive aqueles que trabalham para eles, quando se atrevem a dizer algo contra o comandante em chefe.
Críticos assinalam que essa estratégia só comprova que não existe uma defesa possível diante dos fatos, a não ser atacar os acusadores e aos que podem corroborar esses fatos.
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Jennifer Williams, assessora especial sobre Europa e Rússia para o vice-presidente Mike Pence, testemunhou na mesma sessão que Vindman, e qualificou a chamada que ela também escutou como “inusual”. De imediato, dois dos assessores de alto posto de Pence tentaram desqualificar as declarações de sua colega.
Na segunda sessão do dia compareceram duas testemunhas convidados pelos republicanos, o ex-enviado especial à Ucrânia, Kurt Volker e o ex-diretor para Europa e Ucrânia do Conselho de Segurança Nacional, Timothy Morrison.
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Talvez a testemunha mais esperada da semana seja Gordon Sondland, o embaixador ante a União Europeia, que teve comunicação direta com Trump e estava no centro de todos os assunto sobre o qual gira o impeachment até agora, e que está citado para comparecer nesta quarta-feira.
70% dos americanos acreditam que Trump não deveria ter pressionado a Ucrânia a investigar seus oponentes políticos, e 51% acreditam que o presidente será formalmente acusado e destituído, de acordo com uma pesquisa da ABC News / Ipsos desta semana.
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*David Brooks, correspondente – La Jornada, Nova York
**La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
***Tradução: Beatriz Cannabrava
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