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Foto: Thomas Hawk

Estratégia de Trump é causar terror em indocumentados para forçar autodeportações

Além de prisões em massa, equipe de Trump ameaça cortar repasse de verbas a cidades consideradas “santuário” de imigrantes
Jim Cason, David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Agentes do Serviço de Imigração (ICE) começaram a prender imigrantes nesta terça-feira (21) como primeiro passo para as deportações em massa, informou o “czar fronteiriço”, Tom Homan, a vários meios, poucas horas depois que o presidente Donald Trump assinou novas ordens executivas para ampliar os centros de detenção, atacar cidades que oferecem “santuário” para imigrantes indocumentados e ameaçar entrar em escolas, igrejas e hospitais para caçá-los.

“Equipes do ICE já estão lá fora hoje”, declarou Homan em entrevista à Fox News, destacando que todos os 25 escritórios regionais dessa agência federal estão desenvolvendo uma “lista de alvos” que prioriza a perseguição a imigrantes indocumentados que cometeram crimes. Embora não tenham sido relatadas publicamente operações de prisão específicas, o governo de Trump também avançou no desenvolvimento da infraestrutura necessária para cumprir a promessa de deportar “milhões e milhões de estrangeiros criminosos para seus países de origem”.

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O novo governo também está removendo obstáculos às suas operações de detenção e deportação. O Departamento de Segurança Interna emitiu um memorando revogando restrições impostas há uma década a agentes federais de imigração, proibindo que realizassem prisões e outras operações em “locais sensíveis”, como escolas, igrejas e hospitais. “Criminosos não poderão mais se esconder em escolas e igrejas estadunidenses”, declarou o Departamento de Segurança Interna em um comunicado.

Uma das ordens executivas assinadas por Trump na segunda-feira (20) também instrui seu governo a negar acesso a financiamento federal a cidades que se declaram “santuários” com medidas para proteger os direitos de imigrantes, como proibições à cooperação com autoridades federais na perseguição a essas pessoas.

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Batalhas nos tribunais

Todas essas medidas, entre outras, serão contestadas legalmente nos tribunais, mas seu objetivo foi explícito em uma das ordens executivas, que ordena o desenvolvimento de “políticas e procedimentos para instar estrangeiros que estão ilegalmente nos Estados Unidos a saírem de maneira voluntária o mais rápido possível” – ou seja, fomentar a autodeportação.

John Sandweg, que foi diretor do ICE durante parte do governo de Barack Obama, disse que as ordens mais surpreendentes são as que expandem o papel das forças armadas dos Estados Unidos. “Você pode ver o trabalho preparatório que estabelece as bases para o esforço de deportações em massa”, declarou à CNN. Em particular, ele destacou a ordem que instrui o secretário de Defesa a “facilitar as necessidades operacionais do secretário de Segurança Interna na fronteira sul, incluindo oferecer espaço de detenção apropriado, transporte (inclusive aviões) e outros serviços logísticos em apoio às operações de aplicação da lei controladas por civis”.

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Sandweg ressaltou que a ordem presidencial que instrui o Comando Norte dos Estados Unidos – encarregado de operações militares na América do Norte – a “selar as fronteiras e manter a soberania, integridade territorial e segurança dos Estados Unidos” vai muito além do papel de apoio que antes era atribuído às forças armadas.

Defensores dos direitos dos imigrantes continuam convencidos de que o governo não poderá proceder imediatamente à deportação de milhões de pessoas, incluindo devido aos obstáculos legais. A União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) e 18 procuradores-gerais estaduais já apresentaram, separadamente, ações legais para bloquear a tentativa do governo Trump de anular a cidadania de crianças nascidas nos Estados Unidos de pais indocumentados. O direito à cidadania por nascimento é garantido pela Constituição e não pode ser anulado por um presidente.

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Imigrantes, medo das rondas

Com o anúncio de implementação imediata das medidas anti-imigrantes prometidas por Donald Trump, a tensão e o medo são palpáveis nas ruas, escolas e locais de trabalho de várias cidades e povoados que estão na mira do novo governo, enquanto as comunidades e seus aliados se organizam para se defender.

Em Chicago, onde o novo governo ameaçou transformar a cidade na “zona zero” para lançar as primeiras ações de sua prometida operação de deportação mais massiva da história, Artemio Arreola, diretor de enlace comunitário da Coalizão de Illinois pelos Direitos dos Imigrantes e Refugiados (ICIRR), conta ao La Jornada que, embora ainda não haja grandes operações de prisão, “o efeito já está sendo causado, definitivamente há muito medo na comunidade sobre o que vai acontecer”.

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Ele acrescentou: “Não sabemos se vão fazer grandes operações, mas com duas ou três ações espetaculares, vão conseguir”, ou seja, terão o efeito desejado. Ele lembra que, há alguns anos, fizeram esse tipo de operação como espetáculo em outra parte do estado, em empacotadoras de carne de frango, “chegando justamente no dia da Virgem de Guadalupe… Essa é a situação de terror que esta administração quer causar em Chicago”.

Arreola informou que as redes de sua coalizão e outras organizações monitoram as atividades dos escritórios do serviço de imigração federal – há cerca de três na região metropolitana. Mas, após esforços nos últimos anos, conseguiu-se o fechamento de todos os centros de detenção da imigração em Illinois. “Nossas organizações também continuam distribuindo informações sobre os direitos de todos, que não forneçam nenhuma informação… e tenham muito cuidado ao abrir a porta, ou não abrir, se não houver uma ordem de um juiz”.

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Site para denúncias

Resurrection Project de Chicago estabeleceu um site para denunciar operações de prisão ou detenções pelas autoridades migratórias, e o ICIRR estabeleceu uma linha direta de apoio às famílias afetadas por operações de prisão.

O deputado federal por Chicago, Jesús “Chuy” García, e outros políticos latinos, impulsionaram uma série de medidas, preparativos e a divulgação de informações sobre direitos básicos para defender o máximo possível as comunidades de imigrantes. García, ao lembrar que é “o primeiro imigrante [do México] eleito ao Congresso”, em uma mensagem às comunidades, declarou: “Se você é imigrante, deve conhecer seus direitos”. Ele os enumera e convida sua comunidade a entrar em contato com seu escritório para oferecer certa assistência em alguns casos e compartilhar informações sobre outras organizações comunitárias que oferecem apoio legal.

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Arreola explicou que na terça-feira (21) não houve aulas em Chicago, já que todos os professores das escolas públicas estavam sendo capacitados sobre “o que e como fazer com o medo das crianças e explicar-lhes a situação…”. E acrescentou: “há muito medo, sobretudo entre as crianças, inclusive por serem latinas”. Também estão treinando os professores, entre outros, sobre as leis do estado em relação à migração, já que é um estado santuário e não há colaboração; a imigração não pode entrar nas escolas, por exemplo.

Em Iowa, a professora emérita e veterana defensora de imigrantes, Martha Bendorf, contou ao La Jornada que a melhor maneira de resumir o ambiente nesse estado é com a pergunta de uma criança da comunidade: “Mamãe, você vai estar aqui quando eu voltar da escola?”. A governadora de Iowa, Kim Reynolds, ordenou aos chefes de segurança pública do estado que se preparassem para cooperar com as deportações em massa prometidas pelo presidente Donald Trump.

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Na cidade de Nova York, diretores de escolas públicas estão convocando professores e funcionários para dar instruções sobre o que fazer no caso de oficiais de imigração chegarem: não é permitido que entrem, e apenas os diretores sairão para a rua para conversar com eles.

“Há temor de que a imigração possa entrar nas igrejas e outros santuários para migrantes”, comentou ao La Jornada Juan Carlos Ruiz, pastor de uma igreja luterana no Brooklyn e veterano defensor da comunidade migrante. Com a chegada de Trump, “há um terror psicológico, maior ansiedade, o medo se espalha, é muito palpável nas ruas das comunidades imigrantes, e afeta tanto os que estão aqui há muitos anos quanto os recém-chegados”.

Ele destaca ainda que a chegada de Trump também gera “mais desconfiança dos migrantes em relação às pessoas e dá licença para abusos contra eles”. Mas talvez o mais triste, ele ressalta, é que “os governantes conseguiram dividir essa comunidade, inclusive gerando certa xenofobia entre os que chegaram há anos, cuja situação migratória ainda não foi resolvida, e os recém-chegados, que são percebidos como chegando com mais privilégios”.

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No sul da Califórnia, organizações de migrantes mixtecos, em aliança com outros grupos, estão realizando campanhas para informar as comunidades sobre seus direitos legais, oferecer apoio e organizar a resistência. Inclusive, foi estabelecida uma linha de emergência para relatar atividades e compartilhar informações sobre ações locais das autoridades migratórias, e é oferecido um sistema de resposta rápida para receber alertas sobre as atividades de agentes de imigração na área.

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Fuerza Migrante anunciou nesta quarta-feira (22) dois canais de apoio para os migrantes mexicanos: um centro de atendimento telefônico nacional (646-918-5230) e um canal no WhatsApp (646-918-5230), por meio dos quais oferecerá informações e orientação gratuita imediata para aqueles que estão em risco de deportação.

Esses esforços da comunidade mexicana e das organizações de defesa dos direitos dos imigrantes estão se desenvolvendo de maneira acelerada em todo o país.

O pronunciamento da bispa Mariann Edgar Budde

O presidente Donald Trump enfrentou sua primeira crítica pública cara a cara desde que retomou o poder quando, durante o serviço religioso tradicional na Catedral Nacional em Washington, uma das líderes religiosas de maior escalão na nação, olhando diretamente para o mandatário sentado, declarou: “Em nome de Deus, peço que tenha misericórdia com a comunidade gay e os imigrantes indocumentados”.

“Podem não ser cidadãos ou ter a documentação apropriada, mas a vasta maioria deles não são criminosos. Pagam impostos e são bons vizinhos; são membros fiéis de nossas igrejas, mesquitas e sinagogas”, declarou a bispa Mariann Edgar Budde.

“Acho que não foi um bom serviço”, declarou Trump a jornalistas ao retornar à Casa Branca.

A crítica, durante o evento oficial, foi transmitida pela televisão em nível nacional e contrastou marcadamente com os elogios de quatro líderes religiosos cuidadosamente selecionados que Trump recebeu durante sua posse. Mas também surgiram críticas de outros lugares, alguns inesperados, de integrantes de seu próprio partido, que expressaram alarme com sua decisão de perdoar mais de 1.500 pessoas criminalmente condenadas por participarem do assalto violento sem precedentes ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, com o objetivo de impedir a eleição de Joe Biden.

Críticas de republicanos

“Não apoio os perdões se forem concedidos a pessoas violentas”, comentou a senadora republicana Susan Collins, uma das que criticaram que, entre os perdoados, havia mais de 100 condenados por seus atos de violência naquele dia no Congresso, quando feriram policiais. Entre os liberados da prisão na terça-feira (21), ao serem perdoados, estavam Enrique Tarrio, ex-líder dos Proud Boys, condenado a 22 anos por ajudar na organização dessa insurreição, e Stewart Rhodes, líder do grupo ultradireitista Oath Keepers, condenado por transportar armas de fogo para Washington na tentativa de impedir a posse de Biden.

Depois que Jacob Chansley, conhecido por usar um capacete com chifres ao participar do assalto ao Capitólio, foi liberado da prisão, declarou: “Agora vou comprar um monte de armas”. Também foi liberado outro participante do assalto que vestia uma camiseta que dizia: “Acampamento Auschwitz: o trabalho liberta”. A Casa Branca não demonstrou nenhum arrependimento pelos perdões.

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A maioria dos legisladores republicanos manteve silêncio ou expressou apoio aos perdões e a outras ações executivas emitidas nas últimas 24 horas. Por exemplo, o deputado federal do Tennessee, Andy Ogles, expressou seu apoio a uma medida com um passo adicional: apresentou um projeto de lei que busca conceder autoridade legislativa ao presidente para adquirir a Groenlândia.

“Para alguns, isso pode soar um pouco louco, mas os Estados Unidos realmente se interessaram pela Groenlândia por mais de 100 anos”, disse Ogles à Fox News. “É importante para os Estados Unidos assegurar e dizer: olhem, isso está diante da nossa porta. Esta é nossa área de operação e somos, muito francamente, o predador dominante”.

Trump empossado

Donald J. Trump foi empossado como o 47º presidente dos Estados Unidos pelo chefe da Suprema Corte, em um espetáculo conduzido pelo magnata e estrela do entretenimento para se projetar como o mandatário eleito por Deus, consolidar seu poder e iniciar o que chama de “uma revolução do senso comum”, cujos primeiros passos são selar e militarizar a fronteira com o México, retomar o controle do Canal do Panamá e avaliar quais tarifas serão aplicadas em um futuro próximo.

“Primeiro, declararei uma emergência nacional em nossa fronteira sul. Toda entrada ilegal cessará imediatamente, e começaremos o retorno de milhões e milhões de estrangeiros criminosos a seus países de origem”, declarou Trump em seu discurso inaugural minutos após sua posse. Ele acrescentou que Washington reinstauraria a política de “Permaneça no México”, que exige que solicitantes de asilo permaneçam no México enquanto seus casos são avaliados.

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“Enviarei tropas à fronteira sul para repelir a invasão desastrosa ao nosso país”, disse, reiterando que porá fim às políticas anteriores que, segundo ele, oferecem “santuário para criminosos perigosos e de manicômios que invadem nosso país”.

Ele também declarou que designará os cartéis de drogas como “organizações terroristas estrangeiras” (o que, segundo ele, poderia justificar o uso de força militar contra eles).

Canal do Panamá e Golfo “da América”

Trump não se esqueceu do que muitos não levaram a sério: “Vamos retomar o Canal do Panamá”, disse, ao acusar que agora está sob controle da China. Ele acrescentou que isso faz parte dos EUA, “reivindicando seu lugar como a nação mais poderosa e respeitada do mundo”. Trump também está ordenando que o Golfo do México seja renomeado como Golfo da América.

Seu discurso, como era esperado, incluiu promessas de “acabar com a inflação”, anular regulamentações ambientais, acelerar a exploração de hidrocarbonetos para fomentar um crescimento econômico baseado nesse “ouro líquido”, acabar com programas de diversidade racial e sexual e proclamar que os únicos gêneros reconhecidos pelo governo federal serão “o masculino e o feminino”. Além disso, prometeu mudar “um sistema educacional que ensina os estudantes a odiar nosso país”, em referência a textos de história e literatura crítica e não suficientemente patrióticos.

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Ele ousou citar o reverendo Martin Luther King, cujo feriado oficial foi na segunda-feira (20) – alguém que representa quase tudo o que é oposto a Trump, segundo críticos –, prometendo: “faremos seu sonho uma realidade”. Ele agradeceu o apoio de eleitores hispânicos e afro-estadunidenses por sua vitória.

“A era de ouro da América começa agora mesmo”

Ele afirmou que “a era de ouro da América começa agora mesmo”. Pouco depois, comentou que “aqueles que desejam frear nossa causa tentaram tirar minha liberdade e, de fato, minha vida. Minha vida foi salva por uma razão: foi salva por Deus para tornar a América grandiosa novamente”.

Tudo isso diante de uma plateia dentro da rotunda do Capitólio – o local que foi invadido por seus apoiadores para impedir a ratificação dos resultados da eleição anterior – composta por sua família, seu vice-presidente e sua família, todos os ex-presidentes ainda vivos (Clinton, Bush, Obama), líderes do Congresso, os nomeados para seu gabinete e convidados de honra, incluindo alguns dos homens mais ricos do planeta, doadores, alguns influenciadores famosos, estrelas de corridas de carros e outros comunicadores eficazes em suas bases. Ele proclamou que lidera “uma onda de mudança” para o país, onde a nação se une “em torno de nossa agenda” (o que é falso, de acordo com as pesquisas mais recentes).

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Ele enfatizou que, com sua eleição, “o declínio da América terminou” e que a eleição lhe deu um mandato para “reverter muitas traições” que ocorreram e “devolver ao povo sua fé, sua riqueza, sua saúde e, de fato, sua democracia”. Ele proclamou que “20 de janeiro é o dia da libertação”.

A cerimônia oficial incluiu essa rara mistura de poder político e religião tão profunda neste país. Um cardeal católico e um reverendo protestante pediram “Deus abençoe a América” e o novo presidente. Franklin Graham, o protestante, foi o mais partidário, agradecendo a Deus por ter salvo a vida de Trump e por tê-lo devolvido à Casa Branca, tudo em um vocabulário religioso, quase proclamando que os Estados Unidos são a terra prometida sob a liderança de Trump. Também houve uma bênção de um rabino sionista, um reverendo afro-estadunidense que incluiu frases de Martin Luther King a favor de Trump, e outro católico que chamou Trump de “um milagre”. As canções patrióticas, que quase sempre incluem referências religiosas, também fizeram parte da cerimônia no que talvez seja o país avançado mais religioso do mundo.

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Entre o público estavam vários que foram diretamente atacados por Trump, incluindo alguns cujas vidas foram colocadas em perigo, como seu ex-vice-presidente Mike Pence, alguns policiais do Capitólio e legisladores que foram forçados a fugir de seus apoiadores durante a tentativa de golpe de Estado em 6 de janeiro de 2021. Foi por isso que, no discurso oficial de abertura da cerimônia de posse, a senadora democrata Amy Klobuchar enfatizou: “Hoje haverá uma transferência pacífica de poder, que está no coração de nossa democracia”.

Ao concluir a cerimônia, Trump acompanhou Joe Biden e sua esposa atrás do Capitólio, onde um helicóptero aguardava para levar o casal a um aeroporto e, de lá, para a Califórnia, marcando o fim da carreira política de meio século do agora ex-presidente dos EUA.

Indultos

Pouco antes da cerimônia oficial, em sua última ação como presidente, Biden assinou indultos “preventivos” para vários ex-funcionários, legisladores e até militares que Trump e sua equipe ameaçavam processar judicialmente. Entre os indultados estavam Anthony Fauci, o czar da saúde do próprio Trump, encarregado de enfrentar a pandemia de covid-19; os integrantes do comitê legislativo que investigou a tentativa de golpe de Estado incitada pelo agora presidente em 6 de janeiro de 2021, incluindo a republicana Liz Cheney, filha do ex-vice-presidente Dick Cheney; e o ex-chefe do estado-maior, general Mark Milley. Ele também emitiu indultos para cinco membros da família Biden como precaução contra uma possível perseguição do governo de seu sucessor – ele já havia indultado seu filho Hunter anteriormente.

Mas nem todas as suas ações foram para proteger amigos e familiares. Na segunda-feira (20), Biden comutou a sentença de prisão perpétua do prisioneiro político mais famoso do país, o líder indígena Leonard Peltier. Com isso, Peltier poderá cumprir o resto de sua sentença em casa, após cinco décadas na prisão.

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A próxima parada de Trump foi retornar a uma arena esportiva lotada de seus apoiadores, onde ele fez outro discurso que incluiu zombarias de seu antecessor – “o pior governo de todos os tempos” – e elogiou os “reféns de 6 de janeiro”, que prometeu indultar mais tarde. Ele também se atribuiu o crédito pelo cessar-fogo em Gaza. Além disso, fez algumas referências que os jornalistas terão que investigar mais para entender, incluindo o caso de duas baleias que morreram devido a redemoinhos de energia eólica.

O dia terminou com o novo presidente no Salão Oval assinando dezenas de ordens e ações executivas antes de participar de três festas de gala em sua homenagem.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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