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Ex-assessora de Trump acusa republicanos de promoverem propaganda russa ao defendê-lo

Fiona Hill expressou que “se o presidente subverte a segurança nacional dos EUA para promover interesses políticos, ou pessoas, merece sua atenção”
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Uma ex-assessora da Casa Branca declarou que versões promovidas por republicanos para justificar as motivações de Donald Trump na relação com a Ucrânia estão difundindo “propaganda russa”, e provocando dúvidas e polarização neste país juntamente como Moscou deseja.

Fiona Hill, ex-assessora sobre a Rússia do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca compareceu ante o Comitê de Inteligência da Câmara baixa na última das sessões públicas programadas em torno do processo de impeachment e advertiu que alguns legisladores no Comitê argumentaram que foi a Ucrânia e não a Rússia que interveio nas eleições estadunidenses. Afirmou que “esta é uma narrativa fictícia que foi perpetrada e propagada pelos próprios serviços de segurança russos”. 

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Hill, que até julho foi diretora de assuntos russos e europeus no Conselho de Segurança Nacional, trabalhando sob as ordens de John Bolton, se referia a uma teoria da conspiração amplamente desacreditada e promovida por alguns legisladores republicanos e meios conservadores, e endossada pelo próprio Trump, de que a Ucrânia foi cúmplice dos hackers que invadiram computadores dos servidores do Comitê Nacional Democrata e daí acusar a Rússia para favorecer os democratas nas eleições de 2016. 

A essa teoria o próprio Trump se referiu no telefonema com seu contraparte ucraniano Volodymyr Zelensky em 25 de julho, quando lhe solicitou uma investigação sobre esse assunto e sobre uma empresa ucraniana que empregou o filho de um de seus rivais políticos, Joe Biden.

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Em troca do anúncio dessas investigações se oferecia ao governo ucraniano descongelar a assistência militar estadunidense e estender um convite à Casa Branca ao ucraniano – o famoso “quiproquó” que está no centro das acusações de possível suborno do presidente.

Hill comentou ainda mais que, ao colocar o manejo da relação com a Ucrânia em mãos do advogado pessoal de Trump, Rudy Giuliani, a política exterior para esse país se tornou “uma tarefa política doméstica”, ou seja, para beneficiar interesses eleitorais nos Estados Unidos.

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Hill repetiu que o então assessor de Segurança Nacional, John Bolton havia caracterizado Giuliani como “uma granada de mão que faria explodir a todos”.  

Expressou que “se o presidente, ou qualquer outro, impede ou subverte a segurança nacional dos Estados Unidos para promover interesses políticos, ou pessoas, merece sua (dos legisladores) atenção”.

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Hill apareceu junto com o conselheiro da embaixada dos Estados Unidos na Ucrânia, David Holmes, que também descreveu aspectos da subordinação da política bilateral a interesses eleitorais da Casa Branca.

Fiona Hill expressou que “se o presidente subverte a segurança nacional dos EUA para promover interesses políticos, ou pessoas, merece sua atenção”

WBUR.org
Fiona Hill, ex-assessora sobre a Rússia do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca

Próximos passos

Depois de sete sessões públicas com um total de nove testemunhas fica claro que, por enquanto, embora nada tenha conseguido fragmentar o muro republicano ao redor de Trump, poderia ter tido o efeito desejado pelos democratas sobre a opinião pública com maiorias (embora mínimas) em favor da condenação e destituição do presidente em pesquisas recentes.  

Os republicanos repetiram hoje que o processo é parcial, a evidência questionável e que, em palavras do republicano mais importante no Comitê de Inteligência, Devon Nunes, todo este esforço é só “uma tentativa de derrocar o presidente” e uma tentativa de “golpe de Estado” dos democratas.

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Nancy Pelosi, presidenta da câmara baixa, resumiu hoje a posição democrata: “a evidência é clara de que o presidente usou seu posto para sua vantagem pessoal e, ao fazê-lo, socavou a segurança nacional dos Estados Unidos”.

Ainda não se sabe se o Comitê de Inteligência convocará mais audiências – ainda faltam os mais altos funcionários relacionados com este assunto, mas que se recusam a comparecer por ordens de Trump, um desafio que requer uma longa disputa judicial, e os democratas desejam concluir o processo da câmara baixa ainda este ano. 

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Por agora, se o Comitê de Inteligência concluir esta fase sem mais audiências, redigirá um informe que será entregue ao Comitê Judicial, que por sua parte formulará as acusações contra o presidente – os chamados “artigos de impeachment”.  

Se estes forem aprovados pelo plenário da Câmara baixa o presidente fica “impeached”, ou seja, acusado de delitos que fazem merecer sua destituição. Estes artigos são então entregues ao Senado onde se realiza o julgamento político do presidente – e onde por sua maioria republicana, se prognostica que será absolvido.  

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Enquanto isso, Hill e outras testemunhas neste processo que foram percebidos como críticos de Trump receberam ameaças de morte e outras contra eles. O tenente coronel Alexander Vindman e sua família, outra testemunha chave nestas audiências, estão sob medidas de monitoramento de sua segurança pelo Exército depois que Trump os qualificou como opositores em seus tuítes. 

*David Brooks, correspondente – La Jornada Nova York

**La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

***Tradução: Beatriz Cannabrava

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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