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Cannabrava | Campanha eleitoral utiliza Manual de guerra psicológica para promover o caos

Guerra não se faz com tiros e bombas; guerra se faz com a palavra; palavras que aproximam e geram amor, palavras que geram ódio, morte, desolação
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Diziam que Guerra é a continuação da política por outros meios. Se entendemos política como a conquista e a manutenção do poder, nos damos conta de que guerra e política são duas expressões de um mesmo conteúdo. 

O velho sábio chinês Sun Tzu deixou isso bem claro quando, séculos antes de nossa era, vaticinou “lutar e vencer todas as batalhas não é glória suprema. A glória suprema consiste em quebrar a resistência do inimigo sem lutar”.

Ou quando um diplomata estadunidense, não sabendo que eu estava perto, afirmou com justificada empáfia que o maior feito da diplomacia dos Estados Unidos foi a conquista do Brasil sem dar um tiro.

Essa é a questão. Guerra não se faz com tiros e bombas; guerra se faz com a palavra. Palavras que aproximam e geram amor, palavras que geram ódio, morte, desolação.

Findas as duas grandes guerras interimperialistas do século 20, os Estados Unidos, sendo a  única potência a ter seu território intacto, fortalecido seu complexo industrial-militar, aproveitou a debilidade dos estados arrasados pela guerra para iniciar uma nova guerra, uma operação de ocupação militar, econômica e cultural da banda ocidental da Península Euroasiática  sobre o Atlântico.

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Éramos todos eurocêntricos. Europa era a luz que iluminava os templos religiosos e os templos de cultura. Estados Unidos eram os caipiras incultos. O Plano Marshall, de reconstrução da Europa, foi na realidade uma gigantesca Operação de Guerra Cultural, que utilizou de todos os meios para impor seus valores, sua moeda, seu cinema, sua coca cola e seus soldados. Europeus se deixaram conquistar, abandonaram a sociedade de bem estar tão duramente conquistada para a sociedade de consumo. Basta olhar o que é a Europa hoje para se entender o alcance dessa dominação.

A conquista do Brasil pela nova potência imperialista se dá simultaneamente, facilitada pela promiscuidade entre os comandos militares e de inteligência iniciada durante a Campanha na Itália (1943-1045), aprofundada depois no âmbito da Junta Interamericana de Defesa, manobras conjuntas, acordos de cooperação militar, assessoria de especialistas em segurança e inteligência até que se chegou ao paroxismo do estado maior das forças armadas brasileiras integrar o comando sul dos Estados Unidos, e estar candidato a participar da OTAN.

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Atualmente a guerra cultural, estudada por especialistas em diferentes geografias, ganhou múltiplas denominações, de acordo com a conjuntura e meios disponíveis. Algumas dessas denominações: guerra fria, guerra híbrida, guerra jurídica, primavera de Praga, Primavera Árabe, guerra psicológica, guerra comercial, guerra ciber. É desta guerra cultural que vamos tratar neste artigo.

O chefe do estado maior do Exército, pela portaria ministerial No 455 de 24/08/1994, aprova publicar a terceira edição do Manual de Operações Psicológicas de 1999, publicado com 199 páginas. Trata-se de uma cartilha, quase que integralmente copiada de manuais estadunidenses, e práticas aprendidas, seja em Missões de Paz da ONU, seja em operações de ocupação territorial na cidade do Rio de Janeiro.

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Missões de Paz foram bastante, mais de uma trintena, e todas elas, apesar de aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU e ter, oficialmente, o caráter multinacional, na prática estiveram sob o comando dos Estados Unidos. Neste caso, considerando a confecção do Manual, interessa destacar: Suez, Angola, Moçambique, Congo, Timor Leste. 

Depois disso, já no século 21, houve uma pausa nessas missões. Longe de estarem inativos, receberam preparação intensiva em novas Missões Pacificadoras da ONU, como as de Chipre, Líbano, na República Centro Africana, República Democrática do Congo, Saara Ocidental, Sudão do Sul, Abyei, notadamente a Minustah, no Haiti a partir de 2004, até 2017.

A do Haiti se tornou emblemática por ter sido a de maior duração e por ter gerado uma espécie de clube de oficiais que passaram a desempenhar papel preponderante nas operações de ocupação no Brasil, formando o núcleo que planejou e executou a operação de captura do poder, através das eleições de 2018.

Force commander
Período de atuação
General Augusto Heleno Ribeiro Pereira
Maio de 2004-setembro de 2005
General Urano Teixeira da Matta Bacellar Setembro de 2005-janeiro de 2006
General José Elito Carvalho Siqueira
Janeiro de 2006-janeiro de 2007
General Carlos Alberto dos Santos Cruz
Janeiro de 2007-abril de 2009
General Floriano Peixoto Vieira Neto
Abril de 2009-março de 2010
General Luiz Guilherme Paul Cruz Março de 2010-março de 2011
General Luiz Eduardo Ramos Batista Pereira
Março de 2011-março de 2012
General Fernando Rodrigues Goulart Março de 2012-março de 2013
General Edson Leal Pujol Março de 2013-março de 2014
General José Luiz Jaborandy Junior
Março de 2014-agosto de 2015
General Ajax Porto Pinheiro Outubro de 2015-outubro de 2017 

Fonte: COTER (2017).

Com relação às ocupações em território pátrio, tivemos a realizada para proteger chefes de estado visitantes para a conferência das Nações Unidas ECO-92, com 20 mil efetivos e equipamentos motorizados; em 1994/95 as Operações Rio – Alvorada, Topázio e Velame, ação militar de Combate à Violência na Favela com 10 mil efetivos.

Depois disso, houve outra pausa enorme até que em 2011 houve a ocupação do Complexo da Penha e em seguida no Complexo do Alemão. Aí foram 583 dias, de 2013 a 2017, quando foram criadas as Unidades de Polícia Pacificadora. Rio de Janeiro é, ainda hoje, literalmente uma cidade ocupada. Onde não estão as forças militares, policiais ou do exército, estão as milícias e os bandos organizados que comandam o tráfico e serviços que o estado não supre, transporte, comunicação etc.


O Manual de Operações Psicológicas

O Manual tem por finalidade “estabelecer as bases doutrinárias das Operações Psicológicas e a orientar o seu planejamento e emprego em tempo de paz ou de guerra”, e se funda na “experiência adquirida por oficiais brasileiros nos cursos realizados no exterior, nos planejamentos de Exercícios de Grandes Comandos, nas atividades de Comunicação Social, de Inteligência e de Estudos de Pessoal, aliada ao permanente acompanhamento da evolução das sociedades nos planos interno regional e global permitiu o estabelecimento de bases doutrinárias próprias  de OP Psico, adequadas à realidade e coerentes com a características psicossociais e com os valores éticos e morais da Nação brasileira”.


Para que servem? 

“As OP Psico visam obter vantagens militares sem a utilização da força militar. Naturalmente, nesse caso, a propaganda deve ser empregada em associação com outras medidas operacionais de caráter militar, econômico ou político” (…) através de “mensagens que produzam efeitos comportamentais no público alvo”.

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Servem para operações de reversão de expectativas, como a mais dramática que foi realizada na Indonésia (1964-65), que custou a morte de um milhão de militantes comunistas. Mas são utilizadas também para uma campanha com fins humanitários ou para aceitação de um plano econômico ou projeto político. Operações desse tipo foram realizadas pela Cambridge Analytica para obter o Brexit, eleger Trump nos EUA, Bolsonaro no Brasil e influir em processos políticos de mais de 60 países.

Requer especialização em muitas das disciplinas. Como é impossível encontrar isso numa única pessoa, trabalham com equipes multidisciplinares, como antropologia, linguística, psicologia, sociologia, história, ciência política, comunicação social. Cada equipe representa um composto dessas capacidades. Para alcançar os objetivos, se valem do processo comunicacionais dirigidos a um público alvo ou mais amplo, toda uma nação.

As ações têm que “influir nas emoções, nas atitudes e nas opiniões de um grupo social” ou de uma inteira nação.


Quem executa

“A direção das OP Psico é centralizada no mais alto escalão, cabendo-lhe orientar e controlar todas as ações”. A parte Operacional, basicamente feita pelo Sistema de Comunicação Social do Exército (Siscomsex) integrado aos serviços de inteligência, com utilização dos diferentes meios de comunicação existentes. Em qualquer dos casos é fundamental a utilização dos meios, sejam impressos, orais, radiais ou eletrônicos.

A Inteligência e os meios de Guerra Eletrônica, “além de se constituíram em poderosos instrumentos para a aplicação da OP Psico, fornecem permanentemente informações para a produção de conhecimentos necessários ao planejamento, emprego e à sua realimentação”.

Estamos falando de 1999, internet ainda incipiente, hoje estão muito mais sofisticados. Se aperfeiçoaram nas missões do Haiti e mais recentemente receberam lições da Cambridge Analytica, com a passagem de Steve Bannon pelo Brasil durante as operações de inteligência para a captura do poder através das eleições de 2018. Outra promiscuidade importante com o Mossad, a inteligência de Israel, das mais sofisticadas e eficientes entre os membros da Otan, notadamente em programas computacionais para espionagem, e também na articulação de algumas denominações evangélicas sionistas.

Guerra não se faz com tiros e bombas; guerra se faz com a palavra; palavras que aproximam e geram amor, palavras que geram ódio, morte, desolação

Pixabay
Identificação de grupos sociais também é previsto no Manual, como um conjunto de indivíduos com interesses comuns

O planejamento e o acesso aos meios de comunicação são fundamentais, assim como a definição e o profundo conhecimento do público alvo. Neste caso, abstrai o sentido de nação. A pátria é o quartel e a população é o público alvo. Os meios de comunicação devem ser pautados e, como a mídia pauta a mídia, está formado o círculo vicioso da alienação midiática.


Propaganda 

“Capítulo 2 – Instrumentos utilizados nas Operações Psicológicas – Artigo I – Propaganda, subtítulos 2-1 a. a propaganda constitui o instrumento mais poderoso para influenciar a opinião pública”.

Põe ênfase na essencialidade da ideia-força, o tema, a frase-síntese (slogan) e o símbolo. De fato, estão nos cansando com o abuso das técnicas de propaganda, com o uso da bandeira, camisa da seleção de futebol, comunismo, deus, pátria, família … tudo como na ofensiva desencadeada a partir de 1947, na guerra fria. Arremata afirmando que “a repetição consiste na apresentação continuada da mesma mensagem até que esta seja definitivamente aceita pelo público alvo”.

Fartamente ilustrado com fotos, materiais gráficos produzidos pelos ianques nas guerras do Vietnã, da Coreia, do Golfo e cópias dos slogans utilizados nas missões de paz da ONU. Não há dúvida, “a eficácia do símbolo é diretamente proporcional à sua sugestionabilidade. (…) Emoções como amor, ódio, medo, patriotismo, etc., bem como religiões, têm servido de base a muitos símbolos populares.

Ampliação e desfiguração dos fatos, um dos fundamentos da propaganda para tirar o máximo proveito dos fatos. Nessa mesma linha, “o boato (mentira, fake news) torna-se um recurso de influenciação psicológica de grande eficiência”. (…) “O valor do boato, como técnica de propaganda, reside, principalmente, no fato de que sua fonte real dificilmente pode ser identificada”. 

Mais adiante, enfatizando a importância das rádios, volta ao tema colocando como Boato Orientado, conhecido como “balão de ensaio”, a notícia lançada por agentes especializados e difundida depois pelo público. Mesmo que de autenticidade duvidosa, o boato será rapidamente difundido se tiver sido convenientemente escolhido e oportunamente lançado” (…) Uma vez lançado, o boato orientado apresenta o inconveniente de ser dificilmente controlado”.

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Qualquer ideia, por mais extravagante, serve. Mamadeira de piroca, banheiro unissex, presidiários, ataque às urnas antes, depois às pesquisas eleitorais. Sabem que fica fora do controle, mas o que importa é que a narrativa fica. A imposição de pauta à mídia surte seu efeito diversionista.

Acusação de Atrocidades: A mentira por si só não basta, há que “imputar erros, crimes, barbaridades e crueldades, mesmo que não sejam verdades, ao adversário”. Na alínea seguinte: Inflação hiperbólica dos riscos, quando informa aos envolvidos numa batalha ou numa guerra, “que tudo aquilo que lhes é caro está em jogo”. Por isso a insistência nos valores conservadores da família.

Mais adiante, em Alegação da sanção divina, consiste em invocar o apoio de Deus e de atribuir um caráter divino às campanhas. Deus está conosco”. Nesta, o ocupante do Planalto se esmerou e fez-se chamar de enviado por deus, o próprio Messias, ou a Damares dizendo ter conversado com Cristo na goiabeira do quintal. 

É uma aula para um linchamento midiático que sugere Ataque Pessoal – “atribuir aspetos pejorativos, difamatórios ou sarcásticos a pessoas, ideias e instituições, com o fito de criar ou estimular ódios, descrenças ou preconceito”. (…) A ridicularização, a caricaturização, o sarcasmo, a ironia e a obscenidade são normalmente utilizadas na aplicação dessa técnica”. Endemoniamento e/ou desumanização do adversário, consiste em identificar os chefes políticos e militares adversários com pessoas desumanas. 

Se analisar o comportamento do capitão Jair Bolsonaro nas suas intervenções durante a campanha eleitoral, principalmente nos debates, se vê que ele segue à risca a orientação do Manual. Mente descaradamente, ao atribuir ao outro os crimes de que é imputado -ladrão e corrupto-; invoca Deus e família, invoca personagens como Daniel Ortega e Chávez como sendo a encarnação do mal emulada pelo adversário.

O Artigo II do Manual tem o título Contrapropaganda, que é “a propaganda com a finalidade de rebater e neutralizar a propaganda adversa; impedir que a mensagem adversa produza efeitos”.

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Aqui cabe observar que faltou à esquerda o conhecimento da verdadeira natureza do regime -governo de militares. Não se preparou para uma guerra que exige técnicas sofisticadas de contrapropaganda e foram massacrados midiaticamente. A situação requer análise acurada da informação por profissional de alta especialização. A análise implica, segundo o Manual, “identificar a verdadeira autoria da propaganda (governo, agência, organização, etc.) e seus apoios, se for o caso.” A esquerda não identificou que havia e há um comando por trás das manifestações, inclusive da atuação das emissoras de televisão. Tinha que ir direto denunciando o comando, botando a boca no mundo.

São vários itens sobre Técnicas usadas na contrapropaganda, como “da contestação indireta, da contestação direta, diversionista, do silêncio, da antecipação, da minimização, da reciprocidade, do retardamento e da metapropaganda”.

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A economia está parada, o PIB não cresce há décadas, mas prevalece a narrativa de que o país está crescendo e mostram gráficos enganosos. Por exemplo, como cresceu 3% em janeiro, sem contar que no ano anterior caiu 7% negativos. O Ministro da Economia anuncia todos os dias a retomada do investimento, fato que não existe.

Diversionista – “o contrapropagandista, quando utiliza essa técnica, preocupa-se com os efeitos imediatos que pretende produzir no público alvo. O objetivo é desviar a atenção do público para outro tema diferente do explorado pelo propagandista adverso e que sabidamente tenha grande significância. (…) O tema a ser lançado deverá ser pleno de atrativos de forma a sobrepujar o tema adverso e fazer com que este caia no esquecimento”.

Sequestraram os festejos do Bicentenário da Independência transformando num ato de campanha. Bolsonaro vai ao Círio de Nazaré, e à Basílica de Aparecida fazer campanha no dia consagrado à Padroeira do Brasil, e seus cupinchas cometem vandalismo. Ultrapassaram todos os limites. A narrativa que fica é a da campanha. Claro que é manchete em todos os jornais e por dias só se fala nisso. No mesmo dia o Diário Oficial publica a liberação geral para exploração dos minerais radioativos, por empresas estrangeiras, até então monopólio da União. Paralelamente, deixa-se de prestar atenção na campanha eleitoral, que deveria estar a abordar temas fundamentais para o desenvolvimento e para a soberania.

Faz parte da tática de contrapropaganda Atacar os pontos fracos ou Atacar e desacreditar o adversário, como a mídia e o poder judiciário condenaram o Lula, prenderam e mantiveram preso, é a narrativa que prevalece, mesmo tendo sido provada sua inocência. É o presidiário, tem o voto dos presos. Mesmo alguém que esteja mudando o voto, segue com a narrativa. É melhor que o outro, justificam. Não tem como escapar. Construir outra narrativa leva tempo.

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Capítulo 3 – Veículos de Difusão de Mensagens – De maneira genérica são áudio (rádio, autofalante, etc), visuais (cartaz, panfleto, etc.), audiovisuais (cinema, televisão, etc.), que requerem de elaboração artística e técnica alcançando elevados custos”.  Contato pessoal também é considerado. Essas técnicas são as mais utilizadas pelas igrejas evangélicas, através de meios próprios ou não. Telepastores conquistaram grande audiência. Ainda não tinham incorporado a Internet e apenas começavam a desenvolver o conceito de ciberguerra.

Um artigo inteiro dedicado aos veículos de áudio. “Os efeitos psicológicos são obtidos principalmente pela palavra falada, a qual a maioria dos indivíduos é extremamente sensível. A palavra falada atua não só pelo seu conteúdo, mas também pelas suas características, como a forma de expressão, o timbre e o volume”.

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Sabem o valor da palavra. Cada palavra tem seu significado e efeito na psique. Palavra que confraterniza e palavra que incita o ódio, que faz a guerra, que mata. A mídia escrita é importante, mas nem tanto. É para iniciados, o diminuto público que lê jornais e livros num universo de 70% da população analfabeta funcional. É a palavra oral que mobiliza e conduz as massas para os objetivos do poder.

O uso do chiqueirinho, o cercado em frente ao Palácio, em que todos os dias o ocupante da presidência falava ao público é uma dessas táticas. É quase que uma conversa tete-a-tete. As palavras escolhidas para aqueles que o consideram mito, geralmente sem importância, mas que obtêm ampla repercussão na mídia. E isso é que importa. Como a mídia é cúmplice, se transforma em porta-voz oficioso do diversionismo.

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Por isso mesmo o Manual dedica vários tópicos ao meio Jornal – “Constitui um dos mais importantes veículos utilizados nas OP Psico, sobretudo pela influência que, normalmente, tem na formação da opinião pública”. (…) “O jornal possibilita também a orquestração da mensagem, que consiste na sua apresentação sob várias formas, tais como notícias, declarações, artigos, etc., e na sua identificação com diversas fontes, tais como personalidades de prestígio, repartições públicas, empresas, governos estrangeiros, etc.” Pode-se aproveitar os meios existentes ou ainda utilizar jornais falsos.

Jornais constituem terreno fértil para disseminação das campanhas. Evoluíram de porta-vozes de oligarquias ligadas ao agro de exportação para propagadores do pensamento único imposto pelo capital financeiro e pelo agronegócio de exportação, destituídos de qualquer juízo crítico. Isso facilitou muito a estratégia de captura do poder pelos militares através de uma operação de inteligência que os “legitimou” pelo voto.

“O rádio e a televisão são excelentes veículos para as OP Psico estratégicas. As transmissões radiofônicas de longo alcance podem proporcionar cobertura em massa do público alvo e rápida disseminação da propaganda. (…) A televisão, um dos veículos de persuasão mais eficazes quando pode alcançar grandes massas.

Artigo V – Contato Pessoal – a comunicação face a face, a palestra, discussões dirigidas, com ênfase no contato pessoal e com grupos, através de “comunicadores”. Destaca a Catequese, muito utilizada pelos destacamentos de forças especiais para cumprimento de suas missões junto a populações-chave”. Nessa especialidade as religiões têm sido por séculos utilizadas como instrumento de conquista e dominação. Ela permite tanto o proselitismo individual como em grupo ou através dos meios eletrônicos.

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Capítulo 4 é inteiramente dedicado ao Planejamento das Operações Psicológicas, que exigem planejamento prévio e minucioso, demorado e de responsabilidade do comando. “O planejamento é um processo contínuo…” Aqui entram as regrinhas básicas para o planejamento estratégico, como respostas às cinco perguntas (o que, para que, como, porque, quem), definição das fraquezas, fortalezas e oportunidade. Acrescentam que “o plano de Op Psico deve ser articulado nos cinco parágrafos clássico de um plano de operações: Situação, Missão, Execução, Apoio Logístico e Mobilização; Comando, Comunicações e Guerra Eletrônica”. Cada etapa deve ser minuciosamente estudada e avaliada logo em seguida.

“O comando operacional é o responsável pela cogitação e integração das Op Psico em seu processo decisório, (…) enquanto os especialistas em Op Psico em apoio são responsáveis pelo oferecimento da melhor tecnologia disponível, com a finalidade de abreviar o combate e torna-lo o mais suportável e eficiente”.

Esse é o comando operacional que obedece a um comando superior, geralmente o estado maior das forças armadas. Quando apontamos que na realidade o governo de Bolsonaro é um governo militar de ocupação é por ter sido fruto de uma operação de guerra cultural realizada pelo estado maior das forças armadas. Ocuparam não só a presidência, mas todos os ministérios, mais de 9 mil oficiais ganhando em dobro e com planos de continuar no poder.

Anexo B trata de Fatores Psicológicos, que são aqueles que afetam o comportamento humano. A análise do comportamento de uma população requer que o especialista conheça profundamente a cultura e os fatores socioeconômicos dessa população.

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Identificação de grupos sociais também é previsto no Manual, como um conjunto de indivíduos com interesses comuns, geralmente fazendo parte de uma organização. São os grupos de interesse organizados em sindicatos, associações ou representados nas bancadas parlamentares que representam interesses do agronegócio e da mineração de exportação, dos fabricantes de armas, adoradores da Bíblia, etc..

Vale considerar que nada melhor do que utilizar as forças locais de um país que conhecem e são integradas à cultura. No Vietnam, os EUA se valeram de governos títeres no sul do país até que foram derrotados pelas forças populares de libertação. No Brasil eles se valem das forças armadas transformadas em pretores, tropas de ocupação.

Paulo Cannabrava Filho | Jornalista latino-americano e editor da Revista Diálogos do Sul.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1967. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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